ĪV

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Nada é tão doloroso para a mente humana quanto uma grande e repentina mudança.

Mary Shelley

— Como estão sendo seus dias em Howard? — Claudette perguntou ao se sentar ao meu lado na sala de recreação que não era nada mais que uma espécie de refeitório com algumas mesas com alguns jogos inúteis.

— Uma merda, e os seus? — dei uma mordida na bolacha salgada sem gosto e murcha.

— Estou viva — deu de ombros — Hum, e esse olho roxo? Lhe caiu bem.

— Descobri que não falo a língua dos enfermeiros — com uma cara de desprezo empurrei o pequeno pacote de bolacha para longe — Uma resposta errada e poow — sorri fraco — o roxo realçou meus olhos, não?

— Sim, está se saindo pior que eu Lauren.

— Hilário, não? E você que é a assassina — dei de ombros passando uma mão na outra para me livrar do maldito farelo das bolachas.

— Sou assassina, não burra, garota, e é isso que você está sendo, respondendo enfermeiros, se negando a cumprir pequenas ordens, só não está levando tratamento de choque porque seus pais ficariam bem zangados em receber uma filha debilóide.

— Estou bem com isso - respondi com tédio — Não vou ficar ouvindo esses idiotas, eles são uns babacas.

— São realmente, mas só por isso servirá de saco de pancada humano para eles? — ao ver que eu não responderia ela só suspirou — Faça o que bem entender Lauren — negou com a cabeça — Já começou seu "tratamento"?

— O que...? — me virei na sua direção com cenho franzido, de longe, nós parecíamos as únicas pessoas sãs da sala de recreação, os outros pacientes ou estavam sujando suas roupas com a sopa com gosto de água com sal, ou estavam batendo suas cabeças na parede murmurando palavras desconexas, e bom, nossas roupas ainda estavam limpas.

— O tratamento — disse como se isso fosse óbvio — Ah, não consigo acreditar que você não pensou sobre isso, achou que seria só entrar e sair do seu quarto Lauren? — Olhei para as minhas mãos que estavam sobre a mesa envergonhada, pois realmente achei isso — O que você fez, Lauren? — perguntou interessada

— Eu já disse...

— Seja específica, por amor todos fazem algo, eu matei meu marido por amor a minha filha, e nem por isso uso essa resposta ridícula...

— Você tem uma filha? — perguntei surpresa, não que já tivéssemos falado sobre isso, mas a ideia de ver Claudette como mãe era bem... estranha...

— Isso não vem ao caso... — tentou me cortar com um aceno de mão.

— Vem sim, quer saber algo mas não quer falar?

Inferno! Estou perguntando isso para te ajudar, não é como se quisesse ser sua amiga ou algo do tipo — revirou os olhos.

— Então porque fala comigo? — ergui minhas sombrancelhas várias vezes para lhe provocar.

— Porque você é a única pessoa que me parece sã? Isso não é óbvio? — respirou fundo em silêncio — Mas certo, me diga o que você fez que lhe digo algo que queira saber — massageou o rosto com a mão, visivelmente irritada.

— Bem... — coçei minha nuca um pouco pensativa — Eu sou oque chamam de "anormal" ou seja, homossexual.

— Jura?! — arregalou os olhos de boca aberta — Você é mulher, não? — lhe mostrei o dedo do meio em resposta — achava que só homens eram anormais.

— Minha família é católica e acabaram descobrindo, a ideia de Howard pareceu mais eficaz que um convento de freiras para eles — disse ignorando sua fala.

— Isso é surpreendente, achei que você tivesse matado alguém, embora não tivesse cara, mas veja, todo serial killer não tem.

— É, não sou, só gosto de mulher e isso é motivo suficiente para eu ser vista como alguém com problemas mentais pelos meus pais, talvez eu seja, talvez não, então tem uma filha é? Como ela é?

— Foi duas perguntas — revirei os olhos em sua direção — Mas sim, tenho uma menina, e ela é incrível, muito melhor que eu, quando ela ficar mais velha vai entender meus motivos.

— Que foi...?

— Muitas perguntas Lauren, e voltando para você, cada paciente tem um tratamento, em prol de ajudar a ser melhor, a ser curado, eu sou uma assassina, então meu tratamento tem como objetivo me fazer entender o porquê isso é errado através de crenças católicas etc, é uma bosta mas eles acreditam que funciona, já o seu... — desviou os olhos de mim.

— O meu? — perguntei já um pouco aflita.

— O seu é um pouco diferente do meu...

— Como diferente? — cerrei os olhos.

— Eu não sei O.K? — ergueu as mãos para o alto se rendendo, depois suspirou — Só é diferente, eu nunca fiz essa merda! — mordeu os lábios pensativa — Mas o objetivo dele é te transformar em mulher novamente... se é que me entende.

— E como eles vão fazer isso? — engoli em seco.

— Eu não sei.

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