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O amor é a comédia na qual os atos são mais curtos e os intervalos mais compridos. Como, portanto, ocupar o tempo dos intervalos senão com a fantasia?

Ninon de Lenclos

Estava lendo calmamente meu livro, não faziam nem meia hora que eu havia chegado no meu quarto quando a porta foi aberta por dois enfermeiros enormes, eu somente uni as sobrancelhas em confusão.

— Que...? — sem que eu pudesse nem falar algo, eles me seguraram, feito um saco de batata e me arrancaram da cama, me levando pra Deus sabe onde — Vocês não podem fazer isso! Eu vou falar pro superior de vocês! — disse revoltada. Eu não havia feito absolutamente nada, e não estava esquecendo de nada também, não havia motivos para eu estar sendo arrastado sem nenhuma delicadeza assim!

Me vi ainda mais confusa quando vi que estava sendo levada em direção a sala da diretora, assim que chegamos a porta, um dos enfermeiros bateu na mesma e não demorou para que a diretora permitisse que eles entrassem.

— A diretora quer falar com você — um dos brutamontes disse ao me empurrar para dentro da sala, e fechar a porta em seguida.

— E vocês não poderiam ter falado isso antes?! Seus otários — disse revoltada, sentindo meu rosto queimar de tanta raiva, fechei minhas mãos em punhos respirando fundo, tentando me controlar, enfim olhei na direção da mesa da diretora, que estava me olhando com tédio — Porque mandou eles me buscarem?

Sim, eu estava querendo morrer falando assim com a diretora e enfermeiros, mas eu não podia controlar meu gênio, odiava que me tratassem com grosseria, principalmente quando eu não havia feito nada para receber um tratamento assim, custava me avisar lá? Não era necessário sair me puxando feito um boneco de pano pelos corredores.

— É surda? Não ouviu eles avisando que eu desejava falar com você?

— Então porque já não falou? — ela me olhou severamente, me obrigando a engolir em seco.

A diretora sinalizou para que eu me sentasse e eu sem paciência o fiz, então ela calmamente tomou um gole do líquido que estava dentro da xícara de porcelana.

— Sabe que o que está fazendo é uma hábito abominável e que é estritamente proibido dentro dessas paredes.

— O que eu estou fazendo? — perguntei confusa.

— Ou está desejando fazer, dá no mesmo — deu de ombros se levantando, e levando consigo a xícara.

— Eu não estou entendendo nada.

Ela suspirou e se virou em direção à janela, olhando para o jardim lá fora.

— Não ouse mentir para mim, ou me verá bem nervosa. Conheço seu tipinho de gente, então não tente me enganar — se virou na minha direção novamente, mas agora, toda a calma em seu rosto havia desaparecido e ela me olhava com um ódio enorme e a boca contorcida em desgosto.

Sem saber o que falar, somente dei de ombros, devia estar com uma tremenda cara de debilóide, mas não era minha culpa eu havia sido arrancada do meu quarto antes do horário, havia sido trazida sem nenhuma delicadeza para a sala da diretora e agora a mesma queria que eu confessasse algo que eu sequer sei o que é.

Não havia como alguém estar normal nessa situação.

— Não me teste — rosnou, parecia estar prestes a me atacar, então eu só pisquei rapidamente, com a cabeça fervendo tentando saber oque fazer.

— Só me diga o que estou, aparentemente, fazendo — resmunguei.

— Está tentando realizar seus pecados dentro dessa instituição!

— Está se referindo aquele dia? Saiba que eu já esqueci, foi um erro, não voltarei a repetir.

— Obviamente não! — respondeu rapidamente — Mas não estou FALANDO disso! Estou me referindo ao fato de você estar tentando ter relações com a irmã Mary.

Abri a boca chocada, não sabia sequer o que falar após ouvir tamanho absurdo.

— É O QUE?! — isso era tão ridículo, que eu acabei rindo e isso pareceu a deixar ainda mais irritada, visto que deixou a xícara sobre a mesa e me apontou um dos dedos ameaçadoramente — De onde você tirou isso?!

Porque diabos eu iria querer ter... Como é? "Relações" com a irmã Mary.

— Pelo amor de Deus, me trouxe aqui para isso? Não tem o mínimo de lógica.

— Eu conheço o seu tipo de pessoa, não podem ver alguém que já querem contaminar com seus pecados! — abri a boca, revoltada pelas suas palavras, me levantei também com as mãos na mesa.

— Você não pode falar esse tipo de coisa!

— A verdade?! — cerrei os olhos com minha garganta embrulhando de tanta raiva, não poderia aceitar que ela falasse isso sobre mim.

— Quem é "contaminado" adora isso — disse com ódio a fuzilando com os olhos — E você sabe disso por experiência própria.

— Não ouse falar isso!

— Vai negar irmãzinha?! — ri com ironia e depois umedeci meus lábios — Qual é o seu problema comigo?! Está tentando achar coisas que não existem para me punir, e porque?

— Você é tão falsa, não me engana... —   rompi a distância lhe encarando nos olhos.

— Diga irmãzinha, me chame de aberração, vamos, amou provar do meu pacado, não é? — disse me aproximando e a vendo recuar, mas não deixei, agarrei sua cintura e a puxei para mim — Você não engana ninguém, sei que está louca para estar nos meus braços novamente — sem a deixar falar nada, cobri sua boca com a minha, a beijando com intensidade e a vendo se entregar completamente, antes que o beijo se aprofundasse eu afastei nossas bocas — Não consegue né — ri.

— Vá para o inferno — rosnou.

A empurrei contra a parede, prensando seu corpo com o meu, e levando minha boca até seu ouvido.

— Diga que me quer que eu te darei as melhores sensações, irmã.

Ela respirava pesado, seu coração estava acelerado, batendo forte contra o meu.

— Saia de perto de mim — disse por fim, mas eu sabia que ela queria falar outra coisa, mas mesmo assim, me afastei, vendo ela me olhar confusa.

— Como quiser, irmã — ergui minhas mãos para o alto.

— O que você está fazendo comigo? — pela primeira vez ela pareceu desarmada.

— A pergunta é, o que você fez comigo, não consigo me controlar perto de você, e eu já deveria estar longe agora — disse sincera.

— Eu... Eu quero você — disse tão baixo que eu julguei ter ouvido errado.

— Como?

— Quero você — disse me olhando intensamente e eu não demorei a atender seu pedido.










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