XXĪV

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A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõem.

William Shakespeare

— Uhm... Isso — mordeu os lábios jogando a cabeça para trás e segurou meus cabelos, fazendo meu rosto ficar ainda mais grudado com sua intimidade. E eu não me fiz de rogada, sabendo que ela estava próxima, a chupei com mais força, logo sentindo seu líquido delicioso descer pela minha garganta.

— Gostou?

Não.

Era sempre a resposta que ela dava, mas eu sabia que era mentira, ela gemia, me apertava, pedia para mim não parar e não havia gostado? Nenhum tolo acreditaria nisso.

— Ainda farei você admitir... — sai do meio de suas pernas, não sem antes deixar uma lambida longa, o sabor dela era divino, o melhor que já provei, poderia passar horas só a chupando, dei um pequeno selinho em seus lábios e levantei completamente ereta, apoiando meu corpo na sua mesa.

Isso é pecado... — sorri com sua resposta, poderia até ser, mas isso não evitava que ela se rendesse a mim, como agora, estava sentada na cadeira estofada, com o hábito enrolado na cintura, as pernas grossas abertas e a pele úmida pelo recente orgasmo. Ela ficava linda assim, após o sexo, o rosto ficava corado, respiração falha tentando se normalizar, lábios vermelhos e inchados... Ela era linda.

— Você é tão linda... — pela expressão que ela fez eu a tinha pegado de surpresa, a diretora Estrabão engoliu em seco e seu rosto corou ainda mais, era adorável o modo como ela ficava envergonhada quando recebia um elogio... Alguém tão linda como ela devia ser elogiada sempre, ela olhou para baixo envergonhada e abaixou o hábito, escondendo seu corpo por aquele pano grosso novamente — Porque você resolveu virar freira? — a diretora Estrabão voltou a me olhar, ainda um pouco envergonhada, ela sempre ficava depois de nossos momentos íntimos, e depois me mandaria vazar, então eu aproveitaria um pouco para falar com ela antes dela me expulsar da sala... Afinal eu não conhecia praticamente nada dela, somente que ela não aparentava ter mais de trinta, era a diretora mais nova de Howard, e era severa com quem ia para a diretoria, embora não tivesse cara de poder fazer algo a alguém. Ela pareceu pensar, por fim mordeu os lábios e deu de ombros ainda né olhando.

— Seria bom para a família. Em grande parte por imagem, mas acabei gostando e me adaptando.

— Tinha quantos anos?

— Sempre estudei em colégio de freiras, e meu ensino sempre foi voltado para uma formação sacerdotal.

— Não tem curiosidade de ser algo a mais?

Não — respondeu simples, então suspirei já sabendo o que viria, para adiantar, juntei minha camiseta do uniforme que estava no chão e a coloquei — Acho...

— Melhor eu ir? — sorri de lado olhando para ela — Eu sei, minha "aula" já acabou... — fiz aspas com os dados — Não mereço um beijinho pela dedicação? — consegui arrancar um sorriso dela... E eu acabei descobrindo que queria ganhar outros, porque o sorriso dela era lindo, iluminava todo o seu rosto, ela negou com a cabeça e se levantou, eu que não sou boba nem nada logo agarrei sua nuca com uma das mãos e a cintura com a outra juntando nossos lábios em um beijo lento e profundo, me deliciando com a dança maravilhosa que só nossas línguas sabiam fazer. Assim que o beijo terminou, não me contive em puxar o seu lábio inferior lentamente a fazendo suspirar, eu amava o modo como ela era sensível aos meus toques e atitudes. Sorri lhe encarando e dei uma piscadela.

— Até a próxima aula irmã! — fiz um gesto de colocar os dedos para me despedir dela com um sorrisinho, e sendo retribuída corri até a porta chegando ao corredor — Ai ai — suspirei, neguei com a cabeça e caminhei em direção ao refeitório.

Ao chegar lá, vi o movimento pacato de sempre, tudo aqui era sempre igual, parecia parado no tempo, enxerguei Claudette na fila para pegar a refeição, como ela sempre estava e só então percebi que talvez ela nunca saísse daqui, talvez não, era muita certeza, Claudette havia assassinado o marido a sangue frio, eu não a conhecia muito apesar do grande tempo que passavamos juntas, ela não falava muito sobre si, só sabia que a sua família era importante e rica porque já havia ouvido meu pai falar algo sobre, e que ela tinha uma filha, mas fora isso, não conhecia nada dela, mas eu sentia que Claudette não era uma pessoa má, apesar de seu jeitão que queria provar o contrário... Eu achava realmente que isso era uma defesa dela. Sorri fraco quando me juntei ao seu lado segurando a bandeja.

— Então? Como estão as coisas?

— Normais, a diretora Estrabão é melhor que a irmã Ofélia pelo menos — dei de ombros distraidamente, Claudette me olhou nos olhos e depois negou com a cabeça — Que foi?

— Não vou falar nada sobre isso, você sabe exatamente oque penso.

— Sobre o que? — me fiz de desentendida, mas eu sabia do que ela estava falando, não havia como não saber. Claudette era ótima em ler as coisas pelas entrelinhas, traduzir olhares e pequenos gestos, era uma pessoa observadora, eu já havia notado isso, e não demorou para ela concluir que eu e a diretora de Howard estávamos tendo algo, não me pergunte como, mas mesmo ela não dizendo em voz alta para mim, ela sabia.

Como eu tinha imaginado, e internamente ansiava, não precisou mais que alguns minutos na primeira "aula de tratamento" em que a diretora iria me dar para que meus lábios estivessem junto aos seus e depois disso foi um passo para estarmos sem roupas. Não sei ao certo quanto tempo havia se passado desde então, na verdade eu nem sabia qual dia da semana era hoje, as coisas eram sempre iguais aqui, parecia que estávamos em um loop eterno, então poderiam ter se passado semanas ou somente alguns dias, mas sei que já estávamos nesse pega e larga a algum bom tempo, tanto que a diretora já nem tentava negar seus desejos quando me via, mas ainda assim me mandava ir embora depois de satisfeita. Eu não sabia oque estava acontecendo e na verdade, nem me importava em saber, as coisas estavam boas como estavam, eu amava o sexo com a diretora como nunca gostei de nenhum outro, quando estava com ela o tempo parecia parar e eu só pensava em me saciar de seu corpo, e até às coisas em Howard estavam melhores, sem a irmã Ofélia para ficar me importunado com assuntos ridículos sobre como a religião era ligada a sexualidade e como eu era uma pecadora por gostar de mulheres eu me sentia até leve, e os momentos que eu era obrigada a sair das páginas de um livro para ouvir a voz maçante da irmã Ofélia foram substituídos por momentos deliciosos em que os gemidos da diretora preenchiam meus ouvidos, eu não tinha do que reclamar. Mas eu também sabia sobre os pensamentos de Claudette sobre isso, e eu concordava com ela, porque sabia que ela estava certa, nada de bom poderia sair se meu envolvimento com a diretora fosse descoberto, nem para mim nem para ela, mas eu estava na pior condição aqui, ela poderia alegar qualquer coisa para sair tranquilamente da situação, eu seria vista como a errada, afinal sou a pecadora aqui, e mesmo se isso não acontecesse, tinha mil e uma possibilidades de eu sair bem prejudicada, e Claudette, mesmo com o jeito grosso dela, não queria que isso acontecesse, estava querendo me proteger no fundo e eu confesso que gostava disso, porque também tinha um grande afeto por ela.

— Não se faça de retardada — sussurrou sem paciência só para mim ouvir, depois começou a encher sua bandeja como os alimentos, e eu como sempre, me limitei somente ao macarrão, eu provavelmente já devia ter perdido alguns quilos desde que entrei na madhouse mas não me importava, a comida daqui era péssima.

Depois de pegar algo simples, eu somente segui a negra alta, nos sentamos no mesmo lugar de sempre e assim que soltou a bandeja na mesa ela me olhou severamente.

— Não vou me meter na sua vida, você já sabe a dimensão de suas atitudes, mas saiba que está mexendo com fogo, pode acabar bem ruim pra você, só não diga no fim que eu não avisei — suspirei e abaixei meu olhar, sabia que ela estava certa.

— Ninguém vai saber, e... Isso é apenas algo de momento.

Realmente espero.

MadhouseWhere stories live. Discover now