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Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido.

Hermann Hesse

O sol já estava se pondo quando enfim Centralia foi começando a ser vista pelos meus olhos aflitos.

Durante todas as 5 horas dentro desse barco não me permiti chorar, já o tinha feito muito em casa após ouvir todos os insultos das pessoas que diziam me amar mais que tudo no mundo, mas foi inevitável não sentir medo, eu tentava demonstrar força e indiferença mas eu não era nem um terço do que queria que os outros acreditassem, eu era só uma garota de 17 anos apavorada, em um dia eu estava fazendo algo perigoso pois isso me fazia sentir viva, e no outro, estava sendo colocada a força dentro de um carro para ir para Centralia, a ilha que abrigava uma das maiores instituições mentais dos Estados Unidos, parte de mim queria acreditar que meus pais não estavam me mandando para a morte, e que eles iriam se preocupar com a minha segurança, mas a outra, a que me deixava apavorada, gritava que eles achavam que eu era uma aberração e que me mandaram para Howard!

Howard tinha muita segurança, isso era óbvio, mas a maioria de seus pacientes eram criminosos sociopatas ou loucos, havia rumores de que Howard era o melhor lugar para mandar "anormais" que eles tratavam pessoas homossexuais, mas eu nunca acreditei nisso, embora uma vez tivesse ouvido no colégio uma conversa de que quem entrava nas terras de Centralia, saia pior do que entrou.

Minhas mãos soavam por dentro do pano quente da camisa de força e minha garganta estava seca pelo nervosismo, ver as pessoas que estavam no barco, muitas amarradas as cadeiras enquanto gritavam, se contorciam ou babavam, também não ajudava, eu não sabia o que aconteceria comigo dentro da madhouse, só sabia que meus pais me queriam "curada" e que tinham gastado muito dinheiro com isso, e que eu não sairia de Howard igual estava entrando.

Eles não falaram nada quando o barco parou, somente vi os enfermeiros que vestiam um verde claro começarem a empurrar um a um dos pacientes, e quando chegou minha vez, eu somente respirei fundo e me pus a andar na fila de loucos, á caminho de um hospício.

— Aquele ali... — me virei quando reconheci a voz e encontrei a negra que havia falado comigo no barco, ao meu lado — É Steve Benson, o famoso "assassino de ruivas" — revirou os olhos ao apontar para um homem enorme que estava amordaçado e com os olhos vendados — É nessas que agradeço por ser negra, já ouviu falar dele?

— Você aparece e some do nada? É esse o seu lance? — perguntei desviando meus olhos do homem para prestar atenção ao caminho.

— É meio difícil sumir em Centralia, não acha? — sorriu largo e logo em seguida desfez o sorriso em uma velocidade impressionante — Fique tranquila, ricos não morrem em Howard.

— Como? — Lhe olhei com a boca contorcida pela confusão.

— Você não engana ninguém, está apavorada, vejo isso nos seus olhos — deu de ombros.

— Posso dizer o mesmo sobre você Claudette Dixon — ela me olhou e cerrou um pouco os olhos, eu somente levantei uma das minhas sombrancelhas com um meio sorriso — Bons ouvidos — ela foi obrigada a sorrir fraco — Se ricos não morrem em Howard porque está com medo? — questionei me referindo ao seu sobrenome.

— De exatamente isso.

Senti meu sangue gelar com sua resposta e foi inevitável não engolir em seco, ao olhar para frente, vi pela primeira vez, e talvez a última, os grandes portões de ferro que me separavam de Howard.

Um por um os muitos futuros pacientes de Howard foram atravessando para dentro de Howard enquanto eu estava parada, paralisada. Senti um leve toque em meu ombro, pensei que seria Claudette, mas não, encontrei um dos policiais que monitoravam para que não acontecesse nenhum imprevisto entre os pacientes, que me encarava com compreensão, algo que a muito tempo não via.

— Vamos — sorriu fraco, sinalizando para a entrada.

— É como uma dose de tequila, Lauren, se pensar muito você desiste — ouvi Claudette falar baixo.

"Não é como se eu tivesse opção de qualquer forma..."

Com esse pensamento eu tomei coragem e entrei no território de Howard.

— Bem vinda a Madhouse Howard, Lauren.

MadhouseWhere stories live. Discover now