Madhouse

VĪ

Hoje sei muito bem que nada na vida repugna tanto ao homem do que seguir pelo caminho que o conduz a si mesmo.

Hermann Hesse

Eu estava frente a frente novamente com a diretora de Howard, ela tinha traços jovens, mas suas feições eram sérias, me olhava atentamente, e novamente esse seu olhar me deixou sem jeito, tanto que me pus a olhar ao redor da sala para disfarçar minha aflição.

A sala não era muito grande, mas era bem receptiva até, as paredes eram creme, havia uma prateleira com livros, uma chaminé e um grande armário, eram bem iluminado e também fresco, tinha uma mesa próxima a janela, ela era de carvalho lustrosa e havia duas cadeiras na frente. Mas algo que me surpreendeu, foi o fato de não haver tantas cruzes ali, somente havia um quadro com uma foto dela com um senhor, que supus ser o fundador de Howard e uma pequena cruz sobre a mesa.

— Então você é a famosa Lauren Jauregui, a que está causando tanta dor de cabeça — engoli em seco e me virei na sua direção, ela estava com as mãos sobre a mesa e me encarava profundamente — Sente-se Lauren, fico incomodada — eu me senti tentada a negar, porém já estava com muitos problemas para arrumar outro com a diretora de Howard — Se continuar assim, logo estará irreconhecível — comentou se referindo ao provável estado deplorável do meu rosto, infelizmente a anestesia que a adrenalina me deu, me fazendo esquecer temporariamente da dor, havia acabado e agora meus lábios doíam como o inferno, ela umedeceu os lábios para continuar — Esse lugar a três anos era lastimável, os enfermeiros estavam perdidos, o antigo diretor era um desastre, Timothy estava debilitado demais para assumir, os pacientes eram rebeldes, uns matavam os outros e o supervisor não conseguia fazer nada.

Franzi o cenho lhe observando, não sabia onde ela queria chegar mas algo me deixava curiosa, ela era jovem, muito jovem para já ser diretora de um lugar tão grande quanto Howard, talvez tivesse alguma ligação com Timothy Howard, ela pareceu falar dele com certo carinho, mas mesmo assim, ela devia ter assumido a direção de Howard com menos de 25 anos, isso era impressionante.

— Howard é como é por minha causa em grande parte, eu investi muito de minha vida aqui para deixar que uma garotinha qualquer venha e comece a me estressar — abri a boca para falar algo mas ela me interrompeu levantando uma das mãos — Fui ensinada no convento que o remédio para uma mente doente está em três passos, produtividade, pregação e purificação, fica um pouco difícil ser curada quando se nega a obedecer, não acha? — sorriu sem mostrar os dentes, do tipo de sorriso que não chegava aos olhos.

— Vá pro inferno, vocês são os verdadeiros doentes! — disse lhe fuzilando com os olhos — Hipócritas que acreditam que se pode mudar pessoa, às moldar como julgam certo, mas tome uma revelação, vocês não podem!

— Ah, claro, então me diz que está certa, suponho? Deus se agrada de suas atitudes — Ergueu uma das sobrancelhas.

— O Deus que eu acredito é bom, não se agrada com a infelicidade de ninguém, esse Deus que vocês dizem ser o verdadeiro não é, é apenas um conjunto de ideias horríveis que a igreja católica formou e fez os outros tomarem como verdade.

— Claro — desdenhou — Para tudo tem um regra, desobediência merece uma punição, não acha?

— Vai fazer oque irmãzinha?! — ri com deboche mas isso não pareceu surtir efeito algum em sua expressão — Vai me dar tratamento de choque? Pra mim virar uma cadelinha obediente e retardada?

— Tratamento de choque não acontece dentro de Howard desde que eu assumi! — ela se levantou da mesa e bateu os punhos na mesma, me assustando, caminhou até mim e apertou meu maxilar com força me obrigando a gemer de dor pelo recém estado ferido do meu rosto — Não diga coisas que não sabe, ou irá se arrepender — largou meu maxilar sem nenhuma delicadeza e cruzou os braços frente a frente comigo — Eu aprovo muito mais outro tipo de punição, tratamentos de choque são soluções eficazes somente na cabeça do imbecil inútil do Riley, aprendi Lauren, observando, que o pior inimigo do homem é sua mente, acho que você precisa de um tempo a sós, para entender como as coisas funcionam em Howard.

— O que quer dizer com isso? — perguntei passando a língua pelos meus lábios cortados numa tentativa falha de amenizar a dor.

— Quero dizer que, você terá um bom tempo para pensar nas suas atitudes, pensar e conversar consigo mesma, muitos anormais iguais a você já passaram por aqui, todos hoje em dia são casados e felizes, tenho certeza que você será uma também, Deus te ama, irá te perdoar, você só precisa reconhecer o seu pecado — sorriu fraco — David! — chamou e logo um homem enorme entrou na sala — a leve para a sala da reflexão, tenho certeza que a irmã Ofélia saberá como lhe ajudar.