CAPÍTULO 19

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Sexo é sempre a resposta, nunca é uma questão."

- S.e.x, Nickelback

JÚLIA

Todos os olhares estavam pairando sobre mim. Eu me sentia acurralada. As expressões de fúria da minha mãe junto as de preocupação do Ethan e da tia Mary causavam-me uma grande aflição, eu só queria sair correndo para o meu quarto e me trancar até estar com certeza que ninguém iria me julgar.

Apresso meus passos ainda cabisbaixa e tento subir as escadas sem ter de falar com alguém, mas sou puxada para baixo com força, sendo arranhada pelas unhas nervosas da minha mãe. Mexo meu braço para tentar me livrar dela, mas sua força é maior que a minha, me encolho quando seus olhos de raiva encontraram os meus.

Ela nunca me bateu, ela nem sequer encostou um dedo em mim, mas nunca a vi tão brava, seu rosto está vermelho e sinto como se ela fosse espumar de raiva a qualquer momento. Pela primeira vez nos meus 18 anos de vida eu estou sentindo medo da minha mãe.

ㅡ Onde você estava? ㅡ Minha mãe grita, fazendo-me amuar ainda mais. Suas mãos rodeiam os meus pulsos com uma força ainda maior, sou obrigada a choramingar de dor para que ela finalmente me solte. ㅡ Me responde, Júlia!

ㅡ E-Eu estava na fraternidade e.. ㅡ Minha voz trêmula falha no meio da frase, não sinto que consigo prosseguir e continuar a falar. Respiro fundo para que possa abrir a bica novamente. ㅡ Eu estava na fraternidade dos amigos do Troy. ㅡ Admito e consigo sentir a respiração nervosa da minha mãe ao meu lado.

Levanto meu olhar e encaro o meu irmão e a minha tia, ambos estão estáticos do lado da minha mãe, parecem até estarem com medo dela. A tia Mary gesticula para que eu me mantenha calma e eu apenas assinto, respirando fundo mais uma vez para tentar não ficar trêmula.

ㅡ Amigos do Troy? Interessante... ㅡ Minha mãe ironiza. ㅡ E com quantos deles você transou? Dois? Três? ㅡ Ela julga. Afasto as lágrimas bobas que se formaram e penso que tenho que manter-me instável para encará-la. Não posso deixar que ela me julgue assim. Eu posso ter compulsão sexual, mas isso não significa que eu seja uma vadia.

ㅡ Por que sempre que eu saio você pensa que fui parar na cama com alguém? ㅡ Questiono-a.

ㅡ Deve ser porque minha filha caçula é viciada em sexo e não consegue ficar uma semana sem dar para alguém. ㅡ Seu tom de voz machucam-me mais do que suas palavras. Elas disse com tanta certeza e precisão, jamais esperaria ouvir isso saindo da boca dela.

ㅡ Elizabeth! ㅡ Minha tia a adverte. ㅡ Pare de julgar a Júlia desse jeito, você não vê que ela não gosta de ser assim? Acha mesmo que ela quer continuar tendo relações sexuais com todos por ai? ㅡEla grita com a mulher a sua frente, me defendendo. 

A mulher que me criou e me deu de tudo está agora me julgando, já aquela que em 18 anos não teve algum contato comigo está me defendendo.

Como é possível que as coisas se tornem malucas de um dia para o outro?

ㅡ Mary, não se intrometa. Ela é minha filha. ㅡ Minha mãe rosna.

ㅡ Ela pode ser sua filha, mas do que adianta isso se você está xingando ela de vadia? ㅡ Meu irmão se intromete e o agradeço mentalmente por isso.

ㅡ Desde que ela se tornou viciada automaticamente virou uma vadia.

ㅡ Chega! ㅡ Berro. Não aguentava mais todos falando de mim na minha frente sem eu dizer nada. Não suportava mais minha mãe falando que eu sou uma vadia na minha cara. Precisava ter gritado. ㅡ Eu sou viciada em sexo nem por isso sou uma vadia! Eu não gosto de me jogar pra cima dos garotos, mas eu tenho a infeliz necessidade de fazer isso! ㅡ Deixo toda a minha raiva sair junto com as minhas palavras.

ㅡ Mas pode admitir, filhinha, você adora ter a atenção dos garotos, adora ser viciada. ㅡ Ela rebate, me deixando com mais raiva ainda.


ㅡ E você deve adorar me julgar para estar sempre fazendo isso. ㅡ Resmunguei, e em seguida a única coisa que senti foi um tapa dado com força no meu rosto.

O impacto foi tão intenso que eu fui parar no chão. Minha bochecha ardia e tenho certeza que estou com uma enorme marca vermelha no meu rosto. Massageio a parte do rosto onde ela bateu com uma das mãos enquanto tentava me equilibrar de pé novamente com a outra.

ㅡ Você mereceu. ㅡ Ela diz rindo. Não tenho coragem de respondê-la, apenas subo correndo pelas escadas e alcanço o meu quarto, onde eu me tranco.

Assim que me jogo na cama, permito que as lágrimas escorram. Minha bochecha ainda arde, eu enterro minha cabeça no travesseiro, virando de lado para deixar minha face contra a macies da fronha. Minha mente está girando. Eu me sinto na pior, sozinha, inferior. É como se eu fosse apenas um corpo vagando por ai, sem rumo. Não sei o que vai ser do meu futuro, eu não penso em fazer faculdade ou algo do tipo, não tenho nenhum talento em especial e ninguém me contrataria sabendo do meu vício, e mesmo que eu mentisse não conseguiria aguentar por muito tempo.

Resumindo: eu sou uma inútil que só sabe seduzir os garotos para ter suas necessidades sexuais atendidas.

Dizem que ninguém entende a minha mente, mas isso não seria estranho já que eu mesmo não consigo entender-me. Quem sou eu? Por quais motivos eu vim ao mundo? Quem é Júlia Howard?

Pego o meu celular que estava em um dos bolsos da minha calça, mas ele está sem bateria. Foda-se. Ninguém deve ter me mandado mensagem, talvez só o Renato pra lembrar da merda do contrato.

Renato. Talvez ele pense como eu, afinal ele também é um viciado. Me pego questionando se ele vive com os mesmos problemas e dúvidas pessoais que eu possuo. Não somos iguais, mas temos lá nossas semelhanças. Ambos somos viciados, temos problemas com a família, não possuímos muitos amigos e vivemos sempre em guerra com nós mesmos. Pode ser que Renato Garcia seja a única pessoa que se sinta como eu.

Afasto meu pensamentos limpando as lágrimas que grudaram no meu rosto, me levanto na cama colocando o celular no carregador e me dirijo até o meu pequeno e aconchegante banheiro. Sinto que o meu quarto é o único lugar onde eu estou totalmente segura. O simples ato de trancar a porta e fechar as janelas me deixa livre do resto do mundo.

Me olho no espelho e comprovo a marca vermelha estampada na minha face. Minha mãe me bateu. Parece que a ficha ainda não caiu para mim, a mulher que sempre se dedicou aos filhos e que só tinha a nós como motivação para acordar todos os dias, agora deixou meu rosto marcado e dolorido. Não sei como vou voltar a conversar com ela, nunca mais será a mesma coisa. Mesmo que eu me livre do vício e volte a ter um bom relacionamento com a minha família, nunca mais as coisas serão iguais.

O vício não mudou somente a mim. Ele teve impacto em todos ao meu redor.

Assim que percebo que voltei a chorar decido tomar um banho. Parece que faz séculos que não relaxo na água quente da minha banheira, mas na realidade eu fiz isso ontem. Me despi e logo senti o vento frio entrar em contato com o meu corpo, arrepiando a minha pele. Resolvo não esperar que a banheira encha, entro no chuveiro diretamente e deixo a água corrente deslizar sobre o meu corpo. Lavo meu cabelos e fico mais de meia hora de baixo no chuveiro, até finalmente decidir sair do banho.

Enrolo-me na toalha e faço o mesmo com o meu cabelo molhado, saio do banheiro de volta para o quarto e pego meu conjunto de dormir preto junto as minhas confortáveis pantufas. Solto os meus cabelos da toalha e penteio-os com facilidade, em seguida volto a me deixar na cama. O ardor do tapa não existe mais, assim como a marca, que diminuiu bastante.

Pego meu celular que já que está a um tempo carregado, assim que olho no visor do aparelho vejo muitas mensagens aleatórias do Renato, todas falando sobre o contrato. 

Não sei se vou cumprir com tudo o que ele disse, afinal ele não consegue me vigiar 24 horas por dia. Ele pediu que eu ligasse só em caso de dúvidas. Bem, não posso ter dúvidas sobre as recomendações, mas tenho outros tipos de dúvida. Busco pelo seu nome nos meus contatos e quando por fim eu encontro, não hesito em ligar, esperando que ele atenda.

Júlia?

Obsessão | Renato GarciaWhere stories live. Discover now