CAPÍTULO 18

912 60 4
                                    

Eu mudei tanto nos últimos anos que nem sequer me lembro quem eu era antes"

JÚLIA

O moreno me encarava surpreso em me ver aqui, não que ele esteja errado, eu havia prometido para mim mesma que evitaria ao máximo pisar nessa fraternidade novamente, não queria estar aqui, apesar de não ser culpa minha.

Minha cabeça latejava por culpa da ressaca, a luz que entrava pelas janelas da fraternidade só piorava. Preciso urgentemente comer alguma coisa e tomar um remédio.

ㅡ Júlia, o que você tá fazendo aqui? ㅡ Aaron pergunta. Tento pensar em uma desculpa que funcione, mas nenhum argumento está ao meu favor. ㅡ Estava no quarto do Renato?

Olho para trás e vejo que a porta do Renato é a última, sem nenhuma outra em volta.

ㅡ Hm... Sim, eu estava lá. ㅡ Admito. Aaron balança a cabeça e mexe em seus cabelos negros, como se estivesse decepcionado comigo. ㅡ Mas não aconteceu nada. O Renato é meu amigo, ontem eu estava bêbada e ele só fez um favor em me buscar e trazer pra cá. ㅡ Minto.

ㅡ Oh, eu pensei que vocês não se conhecessem, sabe, naquela festa onde a gente quase... Aaron interrompe a si mesmo. ㅡ Você perguntou quem era ele, achei que não se conheciam.

ㅡ Eu não tinha percebido que era o Renato. ㅡ Minto novamente.

ㅡ Já estava indo embora?

ㅡ Sim, na verdade eu estava ligando pro Troy ou o meu irmão virem me buscar. ㅡ Explico.

ㅡ Não precisa, se quiser eu te levo. Você é vizinha do Troy, não é? ㅡ Aaron se oferece.

ㅡ Você pode mesmo fazer isso? Obrigada Aaron, de verdade. ㅡ Lhe lanço um sorriso. ㅡ Oh, sim, eu sou vizinha do Troy. ㅡ Confirmo.

ㅡ Sem problemas, eu te levo. ㅡ Ele retribui o sorriso. ㅡ Só vou até o quarto pegar as chaves do meu carro. ㅡ Ele avisa e sai andando em direção ao quarto.

Quando eu dou o primeiro passo para segui-lo, sinto náuseas e a dor de cabeça volta a me incomodar e latejar sem parar. Continuo parada no mesmo lugar esperando que o Aaron volte.

ㅡ Vamos? ㅡ Ele pergunta quando surge de volta no corredor.

ㅡ Sim. ㅡ Concordo. ㅡ Aaron, será que eu posso comer alguma coisa da cozinha daqui? Minha cabeça está explodindo de dor. ㅡ Peço.

ㅡ Oh, claro Júlia. Vem, aqui. ㅡ Ele diz e me guia até o andar de baixo da casa, onde muitos estudantes estão sentados conversando, assistindo televisão ou estudando, nenhum parece notar nossa presença aqui.

Aaron cumprimentou alguns rapazes até chegarmos na cozinha, onde ele foi direto para a dispensa e saiu de lá com vários pacotes diferentes.

ㅡ Bem, pode escolher. ㅡ Ele indica para a mesa, eu me aproximo da mesma e encaro as embalagens. Entre vários tipos de biscoitos e bolinhos diferentes, acabo optando por um pacote de biscoitos salgados. Aaron vai até a geladeira e pega uma garrafa d'água, entregando-me.

ㅡ Obrigada, Aaron. ㅡ Agradeço, recebendo um sorriso dele.

ㅡ Por nada. Vamos agora que você já está alimentada? ㅡ Ele ri e eu assinto, acompanhando sua risada.

Descemos até a garagem e entramos em uma Pajero Sport preta. Os carros em volta são muitos variados e diria que o do Aaron é o melhor daqui. Começamos o percurso em silêncio, nenhum de nós diz nada e somente nossas respirações nervosas podem ser ouvidas. Aaron liga o rádio e logo a música Bloodstream, do Ed Sheeran, invade meus ouvidos.

No no don't leave me lonely now
If you loved me
How'd you never learn

Color crimson in my eyes
One or two could free my mind
This is how it ends
I feel the chemicals burn in my bloodstream

Fading out again
I feel the chemicals burn in my bloodstream
So tell me when it kicks in

All the voices in my mind
Calling out across the line
All the voices in my mind
Calling out across the line

Tell me when it kicks in
I saw scars upon her
Tell me when it kicks in
Broken heart

Não deixei de me identificar com essa música. É assim que me sinto toda vez que faço sexo, como se houvesse substâncias químicas queimando nas minha veias. Não sou viciada em drogas , mas o sexo pode ser pior que elas. Não me sinto relaxada como se tivesse usando drogas. Queria que alguém me libertasse da minha própria vida.

Tell me when it kicks in
I saw scars upon her
Tell me when it kicks in
Broken heart

Meu coração virou uma pedra de gelo nos últimos anos, cada vez que me submetia a alguém as coisas só pioravam.

Tell me when it kicks in
I saw scars upon her
Tell me when it kicks in
Broken heart

Aaron cantava junto a música, o que vez meu desejo de diminuir o volume ficar menor.

Tell me when it kicks in
I saw scars upon her
Tell me when it kicks in
Broken heart

So Tell me when it kicks in
I saw scars upon her
Tell me when it kicks in
Broken heart

Tell me when it kicks in
I saw scars upon her
Tell me when it kicks in
Broken heart+

A música finalmente acabou, nunca me senti tão mal por ouvir a voz do Ed Sheeran.

ㅡ Aaron, me desculpa. ㅡ Digo, o surpreendendo. ㅡ Desculpa por aquele dia, eu não podia ter feito mais nada com você, eu não podia.

ㅡ Tudo bem Ju, eu entendo. ㅡ Ele diz.

Ele não entende. Ninguém entende. Eu sou viciada em sexo, isso só atrapalha a minha vida e impede com que eu me socialize com outras pessoas. O vício impede com que eu seja feliz. Talvez o Renato seja a única pessoa que pense como eu, que se culpe e que não suporte viver com isso, apesar de não ter resistência ao vício. Queria poder conversar normalmente com ele sem me preocupar se nós vamos nos agarrar.

Entramos na rua da minha casa e assim que o Aaron para o carro eu me apresso para sair.

ㅡ Obrigada Aaron. ㅡ Digo e rapidamente saio do carro, entrando pelo jardim e parando na porta.

Assim que noto que estou sem a chave, toco a campainha e alguns segundos depois meu irmão atende, suas expressões se tornam nervosas assim que me vê. Ethan não precisa dizer nada, eu entendo tudo o que está acontecendo quando vejo alguns parentes com os olhares voltados para mim. Merda.

Obsessão | Renato GarciaWhere stories live. Discover now