Capítulo 04

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"Olha o que você faz pra mim
Olha o que você fez agora 
Eu nunca irei embora se você continuar me abraçando desse jeito"

- Stockholm Syndrome, One Direction.

JÚLIA

Já havia passado mais de duas horas desde que eu me tranquei no meu quarto, onde consegui me entreter com músicas e livros por um bom tempo. Porém, o tédio já estava começando a dividir o espaço do quarto comigo, além da fome.

Voltei a calçar as pantufas e desci a estreita escada que fica na lateral da casa, que desce direito e termina na cozinha. Alguém deve ter diminuído a calefação, pois o andar de baixo está mais frio. Abraço o meu corpo quente que está arrepiado e abro a geladeira, fitando meu olhar em uma linda fatia de bolo de chocolate.

Sem pensar duas vezes pego um garfo na gaveta de talheres, me encosto na bancada e começo a saborear o bolo.

ㅡ Isso era do seu irmão. ㅡ Uma voz me assusta, fazendo com que eu engasgue.

ㅡ Mãe! Você me assustou. ㅡ Digo, depois de não estar mais engasgada.

ㅡ Desculpa filha. ㅡ A mulher de lindos cabelos escuros, olhos negros e pele clara, assim como a minha, vem até mim e beija a minha testa. ㅡ Está linda hoje, como foi no grupo de apoio? ㅡ Minha mãe tem uma mania de estranha de elogiar eu e o Ethan toda vez que nos vê, mesmo estando de pijama e toda descabelada.

ㅡ Bem. ㅡ Respondo brevemente, com a intenção de terminar a conversa logo.

ㅡ Bem, só isso? ㅡ Ela arca as sobrancelhas e eu apenas concordo, colocando mais uma garfada do bolo na minha boca. ㅡ Me conte como foi. ㅡ Minha mãe pede. Por sorte, o celular dela toca, não deixando que eu fale. Ela revira os olhos quando vê o número na tela. ㅡ Só um segundo. ㅡ Ela diz e atende. ㅡ Elizabeth falando. ㅡ Não presto atenção na ligação, apenas termino de comer o bolo e coloco o prato na pia.

Antes que minha mãe possa encerrar a chamada, eu deixo a cozinha e vou para a sala de estar, onde meu irmão está vendo um jogo de futebol. Liverpool e Tottenham, o time do coração do meu irmão e o time que ele costumava a torcer só pelo nosso pai. Sento-me ao seu lado e mantenho minha atenção voltada a tela da grande televisão.

ㅡ Júlia? ㅡ Minha mãe surge na sala. ㅡ Por que veio pra cá? Eu achei que estávamos conversando. ㅡ Ela põe uma das mãos no quadril e gesticula com a outra.

ㅡ Achei que sua ligação ia demorar. ㅡ Minto. Eu só não queria falar sobre a reunião do grupo, muito menos sobre Vinnie. ㅡ Quem te ligou?

ㅡ Uh, eu ia inclusive falar disso com vocês dois agora. ㅡ Ethan tira os olhos da TV por um instante e foca na minha mãe.

ㅡ O que houve?

ㅡ Era uma das suas tias no telefone, uma das irmãs do seu pai, estou mantendo contato com ela faz mais ou menos um mês. ㅡ Tanto eu quanto o Ethan ficamos surpresos com a tal notícia, faz alguns anos que não temos contato com ninguém da família do meu pai, inclusive com o mesmo.

ㅡ Mãe, se o meu pai quer me ver, esquece, não quero olhar na cara daquele homem. ㅡ Ethan se exalta. Assim como eu, ele guarda um certo rancor do nosso pai, até mais do que eu.

ㅡ Se acalme Ethan, não tem nada haver com o seu pai. ㅡ Minha mãe põe a mão sobre a perna dele para acalmá-lo. ㅡ A Mary gostaria de ver vocês, ela é psicóloga e já é ciente do seu vício, Júlia.

Ah, claro, você contou, como sempre faz.Murmuro para que ela não escute, já estou farta da minha mãe espalhar sobre o meu vício por ai, é capaz de conhecer alguém em uma fila e logo de cara mencionar que sua filha é viciada em sexo.

Obsessão | Renato GarciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora