Capítulo XL

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Zayn debruçou-se na mesa e me encarou com muita atenção. Os pequenos pontos luminosos nos seus olhos pareciam voltar à vida. Seus lábios se curvaram em um grande sorriso que foi impedido pela situação em que estávamos. Seria estranho se ele parecesse estar tão feliz ali.

— Isso é sério, Louise? — Ele perguntou, após algum tempo em silêncio. Depois, passou a cochichar — Eu vou ter um filho? Nós vamos? Espere, você quer ter essa criança? — Apesar do nervosismo quanto a isso, não conseguia se conter de alegria diante da perspectiva — Se não quiser, eu vou entender e...

— É o nosso filho — Interrompi sua fala, depois pensei por um instante — Ou filha. Se forem dois, acho que enlouqueço.

— Eu... eu só queria te abraçar — Lamentou, contentando-se em apertar Hassan com mais força contra o peito — O Hassan... ele já sabe?

Fiz que sim, ainda atônita por sua reação. Ele poderia ter negado, dito que era impossível e inventado qualquer desculpa para largar de uma responsabilidade tão séria. Mas não. Ele se agarrou a isso junto a mim.

— Eu te prometo — Iniciou ele, emocionado, embora não derramasse uma só lágrima — Por você, pelo Hassan e por essa criança, que vou arranjar um jeito de sair dessa droga de lugar. E aí poderemos ter uma vida boa.

— Só eu não estou te forçando a isso, Zayn. Então, eu te pergunto: é isso mesmo que você quer?

— Está brincando?! — Grunhiu, tentando conter sua euforia — Hoje é o dia mais feliz da minha vida!

Desejei poder quebrar a barreira invisível que nos dividia e apertar sua mão com força. Sentir o cheiro do seu cabelo mais uma vez. Me deitar em seus braços e esquecer tudo isso por um tempo. Ele era o único que me deixava assim, sem estruturas.

Os dias se passavam lentamente, como a onda mais tranquila e longínqua do mar. Porém, nada dessa calmaria me detinha. Tive de procurar distrações na investigação para que não houvessem furos que levassem os policiais até os amigos de Zayn que conseguiram escapar. Além disso, o julgamento se aproximava cada vez mais, até chegar o dia. Uma manhã insossa e sem vida, provavelmente fadada a tristeza de alguns. Que não fosse a minha, esperava eu no meu próprio egoísmo.

A quanto tempo eles estão naquele maldito tribunal? — Sussurrei a Kendall que estava ocupando uma das cadeiras de espera do corredor.

Ela olhou para a tela do celular e então me encarou com cara de tédio.

Há quase três horas. Praticamente o mesmo tempo que à dois minutos atrás quando você me perguntou pela última vez, Louise.

Continuei andando em passos firmes de um lado para o outro do corredor estreito, meu cabelo preso em um rabo saltava conforme me movimentava bruscamente.

Você vai acabar arrebentando o chão e as solas dos sapatos desse jeito — Stephanie disse da outra cadeira — Quer parar com essa mania de quando era criança? Vai acabar ficando sem unhas!

Só então reparei que estava voltando a velhos hábitos conforme roía as unhas já estragadas.

Desculpe — Pedi, sem ao menos conseguir parar com aquilo.

— Senhorita Moreau? — Uma policial perguntou-me se aproximando — Sua vez.

Estagnei por um instante, temendo pelo futuro incerto e completamente relativo. Tentei me lembrar de cada palavra de Malik da última vez que o vi. Diga a eles tudo o que perguntarem, assim não levantará suspeitas e nem condenará nosso filho e Hassan a ficarem sem uma família.

Meu depoimento era essencial para a captura deles, levando em conta que haviam me sequestrado. Qualquer deslize me levaria para trás das grades ou a condenação deles. Caminhei a passos lentos, encontrando depois da porta diversas pessoas na bancada de jurados, parecendo começar meu julgamento sem ao menos atentar-se sobre quem realmente precisavam analisar. Da última fileira da pequena plateia dividida pelo corredor fechado, meu pai me observava atento, esperando qualquer erro meu para dizer seu famoso "eu avisei". Sentados um ao lado do outro, Harry, Louis, Niall e Liam estavam entre os espectadores, inquietos. Engoli em seco e continuei a andar até a cadeira do interrogado. Evitei contato visual com o juiz, imaginando que ele veria além da máscara que criei para aquele momento. Da bancada da defesa, Zayn me olhava de forma vazia ao lado de sua advogada de cabelos cacheados, praticamente conformado com seu fim atrás das grades como mentor dos diversos crimes que cometera. O promotor, que era responsável pela acusação, veio ao meu encontro assim que cruzei a sala e ocupei meu lugar.

— Bom dia, senhorita Moreau. Espero que esteja bem, apesar das circunstâncias infelizes que nos encontramos — O homem moreno disse, iniciando seu ataque letal. Para alguém tão frio, sua voz era extremamente confortável e um tanto melódica — Agora, espero que possamos dar andamento ao processo, já que a senhorita está aqui.

Sua acusação foi bastante clara e previsível. Fez um levantamento completo do que supostamente vivi, com base no meu depoimento colhido pelo delegado no outro dia. Não pude negar a maioria das questões, ciente de que traria muita visibilidade ao que sei que ocorreu realmente.

— Sem mais perguntas, meritíssimo — Ele pôs um fim ao seu discurso, com um sorriso orgulhoso de si mesmo.

— Meritíssimo, solicito uma conversa com a testemunha — A advogada de Malik pediu, levantando-se do seu lugar. Mesmo com um terninho do tipo social, parecia desfilar conforme aproximava-se.

— Pedido concedido. Prossiga, senhorita Cabello — Disse o juiz, prestando o máximo de atenção que horas dentro de uma sala fechada lhe permitiam.

— Senhorita Moreau, meu cliente ou qualquer um dos sujeitos que estão ali sentados te feriram, machucaram ou lhe causaram alguma dor específica?

Agradeci por sua pergunta, mesmo que soasse um tanto incômoda.

— Não.

Ela levantou as sobrancelhas, feliz por estar no caminho certo.

— Meu cliente a deixou passando fome ou frio?

— Não.

— Protesto! — Exclamou a acusação, sério — Meritíssimo, os questionamentos da defesa não apresentam relevância ou fundamento algum para este julgamento.

— Negado, promotor Mendes — Respondeu o juiz, intrigado — Defesa, vá direto ao ponto, por favor.

— O que desejo expressar a todos vocês — A mulher continuou, desta vez voltada ao corpo de jurados que anotavam várias coisas nos papéis em mãos — É que, apesar de o fim não justificar os meios, meu cliente apresentava boas intenções quando tomou tais atitudes — Ela tirou do meio de seus documentos um arquivo grosso, minuciosamente observado — Tenho aqui documentos sobre Nottingham, senhores.

Respirei fundo. Ela sabia como jogar para vencer e, com aquilo, garantiria uma boa vantagem sobre o tal promotor Mendes. Eles poderiam não ser considerados inocentes, mas tampouco ficariam desamparados.

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Where stories live. Discover now