Capítulo XIV

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No outro dia, permaneci recolhida no quarto, sem energias para pensar em como exatamente fugir. Passei a sentir raiva de Zayn e isso era terrível. Andava de uma lado para o outro, ensaiando o que diria para magoá-lo, assim como fez comigo.

A porta se entreabriu, revelando seu rosto culpado pela fresta. Fiquei sem reação e tudo o que fiz foi observá-lo entrar e me encarar.

— Olha, eu não... — Ele disse finalmente e, sem conseguir terminar, fungou frustrado.

— O.k., você realmente não precisa fazer isso — Avisei, pensando no que faria. Cruzei os braços.

O mais sensato seria roubar sua arma mas, executar tal ação demoraria tempo demais. E tempo era o que me faltava.

— Mas estou fazendo, não estou? — Contradizeu-me, usando meus próprios Argumentos.

Tentei me aproximar um pouco mais dele, diminuindo o espaço entre nós, lentamente. Se eu conseguisse chegar mais perto, obteria algum êxito.

— Você não come desde o almoço de ontem, nem pede pra ir embora — Observou, coçando a nuca — Me senti culpado... quer dizer, se você não comer, pode morrer e aí eu não vou ganhar o que quero.

Engoli em seco. Aquilo doeu. O suficiente para me fazer tomar a atitude que tomaria.
Fiquei frente a frente a ele, e com um golpe, atingi a região do meio de suas pernas, o lugar mais sensível possível. Senti a dor apenas de pensar.

— Vai se ferrar! — Exclamei, correndo para fora do quarto e escutando seus gemidos de dor.

Pelo horário, eu sabia que todos estariam na cozinha almoçando, por isso, seria fácil escapar. Zayn correu logo atrás de mim, parecendo extremamente irado.
No momento em que cheguei ao pé da escada, bem onde eu não poderia fazer barulho algum, caso contrário chamaria a atenção de todos para mim, Zayn me deteve, puxando meu braço.
Desesperada, empurrei-o contra a parede, ocasionando o que eu mais temia: o silêncio das conversas altas vindas do cômodo ao lado.
Alguns deles se apressaram em nossa direção, contudo, Zayn fez sinal para que se mantivessem longe. Ele trocou nossas posições e colou meu rosto colado a parede.

— Eu estava tentando ser gentil! — Exclamou ofegante. Tentávamos puxar o ar com mais pressa como se fosse acabar a qualquer instante.

Pisei no seu pé, fazendo-o me soltar e ralhar de dor.

— E eu não preciso de sua gentileza! — Retruquei.

De relance, olhei para meu irmão que a qualquer momento se jogaria no meio da briga, nervoso.

— Não foi minha intenção dizer aquilo! — Zayn informou tentando me golpear, aparentemente cuidando para não me ferir — Mas você é tão teimosa que não me ouve!

Soltei um som de desdém.

— Eu não te ouço? — Questionei em meio a respirações longas — Você não liga pra isso! Por que não faz aquilo que tanto quer? Por que não aponta uma arma pra minha cabeça? Seria bom pra você, não seria? Aposto que se sentiria melhor!

Ele me soltou, rendendo-se.

— Eu nunca faria isso com alguém.

Seu semblante chateado revelou algo que não combinava com ele. Zayn arrumou sua jaqueta preta que mais cedo estava desprendendo-se de seu corpo.

— Já chega, eu cansei — Prosseguiu — Arrumem suas coisas, pessoal. Vamos embora. Preparem tudo para executarmos o plano.

Eu deveria me sentir feliz naquele instante, como se um peso saísse dos meus ombros. Mas não, não consegui pensar nisso, só me detive ao que significava. Zayn havia acabado de dizer que nunca mataria alguém e isso me deixou confusa.
Quanto ao que se referiu em "executar o plano", não fiz questão em saber.

— Liam, acompanhe sua... amiguinha, até lá em cima para pegar as coisas dela — Mandou.

[...]

— Ah! Olhe para mim, Louise. Por favor — Suplicou Liam. O silêncio pairava sob nossas cabeças desde que estávamos no quarto, eu calada a procura das poucas roupas que compraram para mim e ele parado em frente a porta — Eu não aguento te ver assim comigo. Eu sinto sua falta.

— Você lembrou disso quando me sequestrou? — Perguntei sem colocar os olhos nele.

— Eu não fiz isso! — Defendeu-se — Eu sabia que o alvo era seu pai, mas não sabia que te usariam para isso. Eu não teria deixado isso acontecer, de jeito nenhum.

— Mas teria deixado que eles pegassem minha irmã mais nova?! — Adivinhei, descrente. Ele baixou a cabeça, envergonhado — Eu preferia que vocês continuassem me mantendo presa aqui para sempre do que encostassem em um só fio de cabelo da Emma, Liam.

— Eu fui egoísta, não fui? — Indagou, triste.

— Foi — Afirmei com um suspiro — Um egoísta que, apesar de tudo, tinha boas intenções que podem não ser o essencial, mas já são alguma coisa.

Ele sorriu verdadeiramente, aliviado. Sorri de volta, encarando-o por longos segundos.
Abracei-o por um tempo, sentindo a falta que meu melhor amigo fazia.

— Liam — Chamei pelo seu nome, minha voz abafada pela sua camisa — O que te fez escolher essa vida?

Ele apoiou seu queixo no topo da minha cabeça.

— A dois... talvez três anos, antes de te conhecer, meu pai me colocou pra fora de casa quando eu disse que não queria ser como ele, sabe? Eu não queria trabalhar como investigador mais — Seu sorriso diminuiu — Eu dormi por muito tempo na rua, no vento frio, até que Zayn me achou e não pediu nada em troca quando me deu uma casa e uma família. Eu quis retribuir de alguma forma e decidi que, bem, ajudaria eles com você. Por algum motivo, Zayn monitorava tudo sobre seu pai a um tempo.

Eu não fazia ideia que o Sr. Payne era assim. Ele sempre me pareceu irritado com Liam mas não haviam motivos aparentes.

— Como assim ele te colocou pra fora de casa? Você não tinha seu próprio salário? — Tentei colocar meus pensamentos em ordem — E por que Zayn monitorava meu pai?

— Meu pai pegava todo meu dinheiro para ajudar a pagar as dividas dele com jogos. Eram muito altas e como ele era e é chefe do nosso departamento, era mais fácil burlar as regras e pegar meu salário antes de mim — Esclareceu com pesar — Sobre o Zayn... ele não disse muita coisa. Ele nunca diz. Mas acho que isso é relacionado a família dele. Acho que ele acredita que sua família tem culpa pelo que aconteceu. Acha que seu pai tem.

— Culpa? — Repeti, confusa — Não entendo... como...?

— Nem eu — Confessou — Mas agradeço a ele por me permitir virar seu amigo pra isso.

Foi aí que me atentei a isso.

— Espere — Pedi — Então você só virou meu amigo por causa disso?

Minha voz se tornou embargada.

— No começo sim, mas agora... agora não, eu te juro.

Suas palavras cederam a mim um conforto momentâneo. Ele estava mesmo falando a verdade e havia prometido que não deixaria ninguém me ferir. Eu tinha fé em suas palavras.

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Finalmente consegui adiantar as coisas da escola e estou mais tranquila para editar os capítulos :)
Terminei ontem de escrever essa história e fiquei até que contente com o que fiz. Ainda falta muito para eu publicar todos os capítulos, mas tenho planos para depois dela...

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora