Capítulo XXXIX

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No caminho que me aguardava, eu já não imaginava desafios tão difíceis que não pudessem ser resolvidos com um pouco de paciência, afinal, passei por muitas coisas. Constantes repreensões do meu pai ainda na infância, aprendendo a me virar com dezoito anos e começando a faculdade sem amparo; lidar com os holofotes, sobreviver a um sequestro que acabaria com minha vida — literalmente — se eu não tivesse agido... Mas, o mais desafiador era, com toda certeza, acalmar uma criança em prantos.

Hassan se agitava fora de si, soltando seu choro do fundo da garganta, poluindo o pouco dos sons que o trânsito de Londres em uma segunda-feira às quatro da manhã não tornava completamente inaudível.

— Vamos, Hass. Você precisa se acalmar! — Repeti, pela quinta vez — Temos vizinhos aqui!

— Não se incomodem, já estou mesmo de pé  — Kendall resmungou, caminhando com as costas arqueadas, visivelmente cansada — Bom dia.

Com seu típico mal humor logo pela manhã, caminhou até a cozinha e serviu-se de um pouco de água antes de ocupar um dos assentos da bancada e apoiar a cabeça nos nós dos dedos da mão, analisando a cena em que eu tentava, desesperadamente, fazer com que Hassan me ouvisse por um segundo e resolvesse respirar fundo.

— Eu não quero chá — Dizia ele, empurrando com certa delicadeza a caneca de chá que eu tinha em mãos — Isso é para doentes. Eu não estou doente. Eu.. eu só... eu só queria ver o meu pai!

Seu rosto, agora vermelho, era coberto pelos fios de cabelo loiro que cresciam rapidamente, e seus olhos cinza-esverdeado tinham veias avermelhadas na região esbranquiçada do mesmo.

— Eu nem estou tentando me acostumar com o fuso horário, certo? — Kendall dizia entre dentes, bebericando sua água aos intervalos de suas lamurias — Eu nem precisava descansar para uma reunião muito importante às oito da manhã de hoje. Quem liga para a Kendall, afinal, não é?

Ignorei suas queixas, continuando a olhar desesperada para Hassan.

— Meu Deus! Você precisa levar ele para ver o pai de uma vez — Emma comentou, aparentando ter tido uma péssima noite mal dormida — Até eu consigo ouvir isso claramente lá do quarto.

Desde que descobri que estava grávida, não tive a coragem necessária para ir atrás de Zayn.  Já faziam três dias, onde meu pai, Isabella e Stephanie haviam ido embora por conta do trabalho. Eu não tinha ideia de qual seria sua reação e isso me deixava inquieta, assombrada pela duvida.

— Não dá — Informei — Não posso... — Voltei minha atenção novamente a Hassan — O que acha de assistirmos ao desenho do dragão, Hass?

Seu olhar fervilhou de irritação.

— Sem desenho do dragão!

Emma franziu o cenho, surpreendida pelo seu ato de rebeldia, mesmo que sendo uma criança tão pequena.

— Certo, você precisa levar ele, sim — Afirmou ela, balançando a cabeça em busca de afastar os pensamentos sobre o comportamento de Hassan — precisa.

Respirei fundo, assumindo que era a única alternativa. Alguns minutos depois, o menino já estava pronto, com a aparência bem melhor em relação a anterior. O cabelo cacheado puxado para trás com a ajuda de gel e muito esforço meu. Ainda tinha sombras de espasmos pela crise de choros. Usava uma camisa social azul e uma calça jeans preta, suas botas marrons eram as que Zayn havia lhe dado, ainda novas. Segurando um boneco em uma mão e a minha mão com a outra, saltitava de felicidade pelo caminho. Se eu conseguisse o que queria com a facilidade que ele o fazia, certamente também comemoraria.

Ao adentrarmos a delegacia, o Sr. Kenny olhou de mim para Hassan, indignado.

— Eu disse a você que não é uma boa ideia... — Ele avisou, fazendo um sinal para que eu o seguisse até a sala particular.

— Sem querer ser grossa, delegado, mas ele é só uma criança — Respondi, pensando em suas muitas mensagens me aconselhando a não levar Hassan até ali depois que pedi — Apesar de tudo, não faz ideia do que acontece. Ele tem outra visão sobre o homem.

O delegado apenas assentiu, sem apresentar muitos impedimentos.

— Hoje não é dia de visitas, mas essa será a única coisa que farei por você — Explicou, abrindo a porta que nos revelara a figura de Zayn a nossa espera — E você, senhor, tem sorte de que uma boa alma como a da Srta. Moreau tenha decidido cuidar da criança que você não teve responsabilidade o suficiente para tomar conta.

Malik tão pouco se importava com o que o Sr. Kinney dizia. Perto de Hassan, ele não sabia fingir. O abraçou com dificuldade, devido às algemas, como se o mundo pudesse acabar a qualquer instante. O garoto fez o mesmo, largando no chão seu brinquedo. Mesmo que Zayn estivesse preso a menos de um mês aguardando seu julgamento, parecia mais magro. A roupa cinza que vestia ressaltava seus ossos expostos e a barba por fazer lhe entregava um ar de derrota. Provavelmente teria seu cabelo raspado na penitenciária.

— Vinte minutos, Moreau — Comentou o delegado antes de dar as costas e sair junto aos outros policiais, encostando a porta.

Lutei contra o ímpeto de abraçá-lo, como se assim sentisse que ainda estava vivo, talvez doente, mas vivo. Sentei na cadeira e Hassan permaneceu no colo de Zayn, aconchegado em quietude. Ele finalmente estava calmo.

— Pensei que não te veria mais, papai — cochichou o menino — Não queria que você estivesse aqui.

Malik não soube o que dizer, então apenas bagunçou o seu cabelo e sorriu, demonstrando uma falsa sensação de que não era nada. Mas era tudo.

— Imaginei que você não viria mais aqui... — Começou ele, me encarando com os olhos que eu tanto conhecia. Decorei cada detalhe de seu rosto agora tão diferente, nas noites em que passamos juntos — Fiquei preocupado com o que você estava sentindo. Foi ao médico?

Respirei fundo, temendo por acabar derramando lágrimas ali mesmo.

— Fui.

— E? — Ele esperava que o respondesse, mas minha voz não saia. A preocupação tomou conta de seu rosto pálido — Louise, o que você tem? Me diga, por favor.

— Eu... eu... — O ar abandonara a muito meus pulmões que sofriam para recuperá-lo — Eu estou grávida, Zayn.

— Você o quê?!

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora