Capítulo XIX

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Hesitante, Zayn me levou até o lugar onde disse deixar grande parte do dinheiro que roubava. Sem me revelar mais detalhes sobre o local que estávamos indo, ficamos cerca de três horas dentro de um carro alugado por ele, em um completo silêncio se não fosse por Hassan falando diversas coisas sem um total sentido. Tudo que vi foi o GPS indicando a aproximação a Nottingham. Mas por que diabos estávamos indo para lá? 

Ele parou o carro e pediu para que eu descesse também.

— Aqui é The Meadows — Zayn informou — Sim, estamos em Nottingham.

Houve uma pausa. Ele parecia explicar tudo com calma para que eu digerisse cada informação.

— Nottingham em si já é bem pobre, mas esse lugar... esse lugar é a pior parte.

E eu de fato não sabia o quão devastadora era a situação.

— Essas pessoas, — Ele continuou, apontando para as casas em estado decadente — Foram praticamente esquecidas por todos. O que mais tinham aqui antigamente, antes que eu e os outros, sabe, seu irmão e o resto deles aparecêssemos — Ele gesticulou. Assenti — Eram agiotas que acabavam com a vida de todos daqui, endividando mais ainda quem não tinha nada.

Olhei no fundo dos seus olhos analizando-o apoiar-se no capô do carro.

— E você... vocês ajudam essas pessoas?

Ele fez que sim, respirando fundo.

— Eu tinha que ajudar de algum jeito quem ainda tem uma família, certo? 

Destruí toda tenção que se formou naquele momento com uma piada.

— Síndrome de Robin Hood?

Ele sorriu, dessa vez verdadeiramente.

— Alguém tinha que ser o mocinho.

— Zayn? Z! — Alguém nos interrompeu — Faz tempo que eu não te víamos! Ande, me dê um abraço!

A senhora de cabelos grisalhos, pele pálida e ossos expostos por todo corpo, envolveu Zayn em um abraço aconchegante e sincero, o qual ele retribuiu com entusiasmo.

Hassan, que de algum jeito se desprendeu da cadeirinha de segurança, correu até a mulher.

— Olha só quem também está aqui! — Ela exclamou segurando-o no colo — Você cresceu, hein?!

Seus olhos se voltaram a mim.

— Oi, senhora. É um prazer conhecê-la e... — Fui interrompida pela demonstração de afeto que mais cedo fora dada a Zayn.

— Deixe de formalidades, menina — A senhora pediu — Se Zayn te trouxe aqui é porque você é mesmo muito adorável. Esse garoto nunca traz ninguém para esse fim de mundo!

— Menos, querida — Um outro senhor surgiu, colocando a mão no ombro de Zayn que ganhara uma coloração avermelhada nas bochechas — É bom vê-lo de novo, Z.

— Ah, Jerry! — Ela disse estalando a língua — O Z não faz isso mesmo. Estou mentindo?

— Sra. Williams, isso não é verdade... — Zayn buscou concertar a situação.

— Claro que não é — Desdenhou ela — Z, meu querido, por que não traz sua namorada para tomar um chá conosco? Depois podemos ir ver as obras em andamento pela cidade.

— Obrigado, mais uma vez, por financiar todas essas melhorias, Zayn — O que presumi ser o Sr. Williams agradeceu solenemente — Muita gente tem agora um futuro por sua causa.

— Eu não sou a namorada dele, senhora — Neguei com um pequeno sorriso sem jeito.

— Essa é a Louise — Zayn revelou meu nome e logo se voltou a mim, cochichando — Relaxa, eles não são muito ligados aos noticiários. Não vão te reconhecer.

— Foram eles que te ajudaram quando aconteceu aquilo com a sua família? — Perguntei em um tom baixo de voz.

Ele fez que não.

— Oh, não. Ewa e Casimiro moram em Bradford, querida — A Sra. Williams explicou — Eles são poloneses. Nem em sonho fui a um lugar tão longe assim!

— Eles são nossos amigos mais queridos — Seu marido completou — Os Malik, a família de Zayn, também eram... ou melhor, nunca deixaram de ser.

Zayn pareceu incomodado com a menção a família.

— Vamos tomar chá? — Ele sugeriu limpando a garganta.

[...]

— Não aguento mais ver sanduíches de frango na minha frente! — Anunciei assim que me aproximei de Zayn. Ele olhava para a movimentação da rua, sentado na varanda de madeira da casa dos Williams, fumando um cigarro.

Ele soltou a fumaça pela boca, rindo.

— A Sra. Williams sabe cozinhar muito bem, não sabe?

— Sim! Mas não consigo comer mais nada — concordei me sentando ao seu lado — Zayn, por que você não monta um projeto sem fins lucrativos pra ajudar esse lugar em vez de roubar?

— Fale baixo, eles não sabem — Mandou em tom sério — Projetos como esses não são favoráveis aos agiotas daqui, Louise. A melhoria de vida de quem já é pobre levaria a não precisão do dinheiro deles, entende? Tipo, se você tem um emprego bom e uma renda formidável, por que escolheria se endividar? Investir em ajuda a essas pessoas as levaria a negar a "ajuda" — Zayn fez aspas com os dedos — Que esses imbecis dão.

— Mas o que te impede de mudar isso?

— Eles ameaçariam quem aceitasse participar de coisas como essas. Seria condenar toda a população daqui praticamente a guilhotina. Não são assuntos que eu possa controlar, não passo muito tempo aqui. Tenho muitas coisas com o que lidar e mantenho minha ajuda a eles em segredo.

Algo em sua voz me fez crer que não era apenas no sentido figurado a parte de condenar pessoas a morte.

— Muito bem, pombinhos! — A Sra. Williams exclamou animada, causando em nós um susto terrível — Vamos olhar as obras?

Saímos de lá e caminhamos por pouco tempo até o primeiro lugar. Era uma casa vítima de um incêndio que aos poucos, estava sendo reconstruída, dessa vez por material de qualidade. Um pequeno estabelecimento onde se doavam alimentos e roupas se encontrava quase pronto. Acabamos por nos empolgar — ou melhor, eu acabei por me empolgar — e passamos as fronteiras de The Meadows, encontrando uma escola que agora ficava próxima a região quase inalcançável e uma igreja de pequeno porte. Zayn e o resto dos seus homens estavam mesmo fazendo a diferença na vida da população de lá, e de um jeito bom, o que me surpreendeu. Eles não eram tão ruins, afinal. Ou nada ruins, então.

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Eu disse que só teria novo capítulo no meio da semana mas aqui estou eu kkkk (hoje sai capítulo novo de Herdeiros do Trono também)

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Where stories live. Discover now