Capítulo VIII

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O homem, que pelo visto chamava-se Styles ou algo assim, trouxe a mim um pouco de água e um sanduíche, como solicitado. De forma abrupta, arranquei de sua mão a garrafa de água e ingeri seu conteúdo de uma só vez.

— Não precisava ter se levantando — Ele falou — O chefe teria te dado comida de qualquer jeito.

Fechei a garrafa e a coloquei ao meu lado, segurando em mãos o sanduíche.

— O que? — Perguntei totalmente desinteressada nas palavras que um criminoso desejava dizer-me.

— Você parece, hum... incomum em relação ao que ele está acostumado, sabia? — Styles insistiu — Ninguém teria aguentado todo esse tempo sem comida. Não que não seja possível, claro, mas não sei, as pessoas não gostam muito de sentir fome, eu acho.

Assenti, sem que o assunto me instigasse a curiosidade.
Acredito que ganharia facilmente uma aposta se afirmasse que Louis e Liam desejavam falar comigo, porém, assim que me colocaram na cama mais cedo, os enxotei para fora do quarto, sem margens para discussões.

— Recebi treinamento para isso. Consigo fazer e aguentar muitas coisas que vocês nem sonham.

Ele retirou a máscara, deixando visível seus olhos verdes e rosto bronzeado. Seus cabelos ondulados curtos caíram em frente aos olhos.

— Não quero que você se assuste com a gente — Ele pediu — Sei que fizemos coisas muito erradas, mas você parece realmente alguém que não se importa com o que precisa fazer para conseguir a justiça. Você até abandonou todo o dinheiro do seu pai pra isso! Me parece o tipo certo de pessoa.

— "Tipo certo de pessoa"? Qual seu primeiro nome, Styles?

— Harry.

— Você é daqui, Harry? Quer dizer, onde estamos mesmo? — Questionei.

— Informação confidencial — Respondeu, ciente do meu plano fracassado.

— Já vi seu rosto estampado nos noticiários de Londres, sabia? Roubar um banco em Brighton não é fácil — Debochei — Estou pensando em tudo que posso fazer assim que contar a polícia quem são vocês.

— Vá em frente. Isso não garante que consigam nos pegar, Louise — Harry sorriu — Ah, nem pense em usar um clips ou algo do tipo pra fugir. Temos alguns homens ali fora que ficarão acordados a noite toda — Ele me entregou uma mochila com algumas peças de roupa, toalhas toalha de banho, escovas de dente... — Tome um banho, se quiser.

— Eu não tenho que te obedecer, e clipes pra abrir fechaduras são coisas de filmes! — Declarei.

Quando ele saiu, decidi que precisava mesmo de um banho para descansar. Contudo, aquele banheiro não era nada convidativo, e a água estava um completo gelo. Tudo ali parecia velho, como se estivesse abandonado a anos. Talvez fosse essa a razão de estarmos lá. Isso, com certeza, não chamaria a atenção. Pelo pouco que vi através da janela, era um local rural e bem afastado de outras casas e consequentemente de outras propriedades. Era interessante que ainda funcionasse a água encanada. Talvez viesse de algum poço.

As roupas que Styles me entregou eram masculinas e grandes. Quase as abandonei, se não fosse pela precisão.

Pensei em atear fogo na casa usando a vela que fora deixada a mim para vestir-me, no entanto, minha morte seria certa e eles acabariam por fugir para sempre, sem a punição devida.
Olhei em volta, a procura de algo suspeito ou no mínimo intrigante. Casas velhas costumavam abrigar passagens secretas ou cômodos ocultos. Na parede atrás da cama, algo reluzia. Logo que me aproximei, notei se tratar de uma porta pequena, dona de uma maçaneta dourada menor ainda. Se eu me abaixasse, teria a chance de passar por ela.

Ao abri-la, o caminho era escuro e desconhecido. Fechei os olhos e passei por todas as teias de aranha que existiam de canto a canto da pequena passagem. Assim que sai pelo outro lado da porta, olhei para as proximidades, certificando-me de que ninguém estava por ali. Levantei do chão com dificuldade, tentando equilibrar a vela em uma mão e me apoiar em um moveu com a outra.
Avistei um pequeno gatinho de pelo alaranjado com algumas manchas brancas passando pelo corredor a direita. Não hesitei em segui-lo. Aqueles homens não pareciam possuir um gato de estimação, e com toda a certeza aquele pequeno animal havia entrado por algum lugar. Ele sabia a saída menos óbvia e mais omitida.

— Venha aqui, gatinho fofo! — Sussurrei.

Tentei fazer o menor dos barulhos para me apressar. A medida que ele andava, uma luz emitida de uma vela clareava uma parte da casa. Me escondi atrás da parede com rapidez. Aquilo eram as escadas que levavam para o andar inferior. Haviam pessoas conversando lá embaixo. Continuei a caminhar por outro lugar, até encontrar um cômodo afastado e com uma pequena luz. Abri a porta com cautela, esperançosa em estar sozinha. Foi quando vi um pequeno garotinho de no máximo quatro talvez cinco anos, com cabelos loiros e olhos escuros, esticando as mãos para um armário onde continha um candelabro com diversas velas acesas e perigosas para uma criança. Ele parecia curioso demais.

Corri até ele o mais rápido que pude, afastando-o de perto do fogo que por pouco não foi derrubado em cima de si próprio.

O garoto me olhou assustado. Encostei um dos meus joelhos no chão, esperando ficar de sua altura.

— Quem é você? — Perguntou com uma dicção infantil, a qual faltava letras e assentos. Eu não poderia culpá-lo, ele não aparentava possuir idade suficiente para frequentar a escola.

Seu jeito fofo me fez sorrir.

— Eu sou a Louise. E você? Quem é?

Ele olhou para algo atrás de mim e se alegrou.

— O gato!

— Seu nome é "gato"? — Indaguei rindo, me virando para trás, seguindo-o com o olhar. Até que me assustei com a presença de alguém maior que o menino, que usava uma daquelas máscaras terríveis.

O menininho correu de encontro ao gato laranja que mais cedo ajudou-me.

— Hassan, saia de perto dela! — O maldito líder dos sequestradores (identifiquei-o de cara) exigiu, puxando-o para perto, como se fosse eu a verdadeira ameaça — O que você está fazendo aqui? Como conseguiu escapar da droga do quarto?

— O Hassan estava em perigo, sabia? Ele quase derrubou as velas e se queimou, mas eu o impedi. De-na-da.

— Zayn, o que aconteceu com o Hassan? — Niall apareceu de repente ao seu lado. Quando me viu, se espantou — Opa! Como você conseguiu sair de lá? Bem que o Harry me disse de umas conversas estranhas suas...

Zayn. O nome dele era esse, afinal? Reconheci vagamente esse nome. Se ao menos eu soubesse seu sobrenome...

— Já chega — Ele disparou completamente fora de si — Você tem uma péssima mania de se meter onde não é chamada, não é, garota?

Ele me segurou pelo braço e me levou até o quarto onde eu estava anteriormente.

— Estou começando a me arrepender de te deixar viver — murmurou — Ei, seus idiotas. Me expliquem como vocês estão aí e ela aqui! E se ela tivesse conseguido sair da casa?

Os três homens grandes e fortes que se encontravam parados em frente a porta do quarto destinado a mim, olharam abismados em minha direção, buscando palavras para justificar sua falta de cuidado.

— Mas como... ela... por que? — Um deles repetia descrente.

— Isso não vai mais acontecer! — Outro garantiu.

— É claro que não vai. Vou ficar aqui e fazer o trabalho de vocês — Zayn declarou.

Pensei em pestanejar e talvez falar muitas coisas a ele. Mas ele precisava dormir. E quando dormisse, eu fugiria dali o mais rapidamente possível. Seria fácil enganá-lo. Tentei o meu melhor para conter um sorriso vitorioso.

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Where stories live. Discover now