Capítulo XXXVI

93 16 51
                                    

Uma semana. Todos os dias desde que saí da França e fiquei no meu apartamento em Londres passavam-se lentamente, como se soubessem no fundo que eu desejava que fossem embora logo. Esperei sem sono, sem fome ou motivos para sorrir. Hassan, aquele garotinho que salvei de se queimar com velas, que salvei de um descuido, se tornou para mim de extrema importância. Era como Stephanie disse: ele não era meu filho, mas eu o sentia como parte de mim. Um pedaço arrancado sem dó, deixado à deriva para seus piores medos.

Pensar de repente em Stephanie me trazia a lembrança de Louis. Imaginei como seria se meu irmão fosse um monstro como o irmão de Stephanie era. Simon Cowell era seu irmão, recordei-me. Ele estava preso graças ao meu irmão. Será que Stephanie ria de mim por estar na mesma situação que ela? A de ter ciência de que meu irmão está encarcerado e indefeso? Provavelmente não. Mesmo em uma hipótese paralela onde Tomlinson tivesse de fato cometido os crimes que cometeu pelos motivos que meu pau achq ter tido, não passava perto de assassinar pessoas. Isso era inaceitável. Irremediável.

Prometi a mim mesma que não voltaria, na melhor das hipóteses, tão cedo para a França e, na pior, nunca mais colocaria os pés lá. Cedendo a imensa vontade de abraçar Hassan outra vez, não tive muito tempo para pensar em como faria para tirar Louis, Niall, Liam, Harry e Zayn da cadeia, apenas estava determinada a conseguir. Envergonhada, imaginei o que Stephanie pensaria se eu lhe dissesse tudo que aconteceu. Tudo o que eles são de verdade e representam para mim. No mínimo, ficaria assustada. Não quero pensar qual seria sua reação no máximo.

Emma, Isabella e Kendall fizeram questão de nos acompanhar, confiantes em apoiar nosso irmão e tendo crença nas minhas palavras cegamente. Nesse quesito, eu sabia que poderia contar com elas.

Nos encaminhamos direto para o tribunal, saindo da França sem o consentimento do meu pai, duvidando até se o mesmo tinha consciência disso.

Uma das vantagens de carregar o sobrenome Moreau — fora a questão do dinheiro — era a influência que exercemos em vários âmbitos. Conseguir uma audiência com o Juiz foi a parte fácil, sendo a mais complicada emplacar dentro do reduzido tribunal todos os advogados que minha madrasta fez questão de trazer à tira colo.

O juiz sabia que eu não era casada e que não apresentava ao menos uma relação estável mas, quem negaria um futuro melhor e repleto de oportunidades, a uma criança sem nada nem ninguém? No instante em que avistei Hassan entrar, com receio e medo, dentro do tribunal, meu coração se esvaiu com seu pequeno sorrisinho feliz, lançado para mim. Fizeram diversas perguntas para ele, que no final contou desejar mais que tudo estar comigo, de ser minha família.

Foi concedida sua guarda provisória para mim, tendo em vista a adaptação de Hassan e se algum de seus familiares mais distantes o procuraria em breve. Estava mais do que claro que esses três meses incertos logo se estenderiam a anos, talvez incontáveis.

— E agora? — Isabella quis saber — O que você vai fazer? Voltar para a França não é uma opção, não é? Você sabe que o Joseph vai ficar uma fera com isso. Aqui você não tem tanta segurança como tem lá.

Eu vim atrás da minha vida de volta, Bella — Repliquei, ajudando Hassan a limpar o sorvete de chocolate que havia derrubado na roupa e voltando a falar em inglês para comunicar-me com ele — Eu e Hassan vamos viver aqui, em Londres. Não vamos, Hass?

O garoto sorriu amargamente, como se estivesse confuso ou com um pouco de dor.

— Eu queria ver o meu pai... tenho saudades...

Isabella me encarou, apreensiva.

— O que? Eu não posso negar isso a ele — Sussurrei assim que Emma passou a conversar com Hassan, afastando-se de nós alguns metros — Não me olhe com essa cara, Ken! Você sabe, eles não são ruins...

Só as suas palavras não vão acalmar aquele bando de carniceiros que chamamos amigavelmente de paparazzis — Kendall retrucou, roubando um pouco do meu sorvete — O que foi? Como nos velhos tempos, lembra?!

Nos velhos tempos Louis acabava dando o sorvete dele de creme para nós, Ken — Isabella lembrou, comovida para não dizer triste. Ela nunca gostou de parecer triste — E ele não está aqui. Está preso em uma maldita cela por ajudar pessoas que precisavam. Eu e Kendall fomos até lá, até Nottingham, a alguns dias atrás, antes da audiência da guarda de Hassan, Louise — Explicou ela enquanto remexia seu sorvete, já sem a habitual vontade de devorá-lo — As pessoas de lá disseram muitas coisas boas a respeito de Louis e os amigos dele. Apesar de lamentarem a prisão injusta, também nos contaram coisas sobre nosso irmão que nem mesmo a gente sabia. Estávamos todos afastados demais nesses últimos anos, não estávamos?

Fiz que sim, observando atentamente Hassan saltitar pela calçada.

Vocês foram mesmo a Nottingham? — Me surpreendi com seus acenos positivos.

Precisávamos ver de perto o que eles faziam — Kendall brincou, visivelmente incomodada — Parece errado apreciar o que fizeram por aquelas pessoas, porque não foi de modo honesto.

Parece — Concordei com um suspiro — Mas de que outra forma poderia acontecer? Ninguém liga para aquele lugar nem para todos os outros em situações parecidas. São completamente esquecidos. Para ajudá-los, demandaria muito dinheiro e isso é o que nem todo mundo tem. Mesmo com intenções boas, não se pode fazer nada sem dinheiro.

Continuamos em silêncio até a minha casa, lugar onde elas e minha madrasta estavam hospedadas à dias, fazendo questão de não sair do meu lado.

Sabíamos que, se pessoas como nós, aquelas com dinheiro, se importassem um pouco mais com as mais necessitadas, poderíamos facilmente acabar com alguns problemas que locais como Nottingham tinham. Quando eu era criança e adolescente, costumava doar toda a minha mesada, o que não era pouco. Mas, depois que parti para Londres, não me sobrava alternativa senão torcer para que colocasse atrás das grades quem fazia o mal. Eu não tinha tanta quantia monetária para isso.

Hassan estava animado para conhecer a minha casa, afinal de contas faziam alguns dias desde a audiência em que consegui sua guarda provisória, porém o mesmo havia continuado no abrigo por um tempo até que toda burocracia fosse acertada. Assim que entrou no apartamento, soltou um som de perplexidade.

— Uau! Nossa, Loulou, é bem grande!

Deixei em cima do sofá as diversas sacolas de roupas novas que havíamos comprado para ele e me abaixei ao seu lado, sorrindo.

— Ela é bem grande e agora também é sua! — Ele comemorou ao me ouvir — Pode ir ver o seu quarto, se quiser, está bem? A Stephanie vai te mostrar o caminho.

Stephanie surgiu de repente, alargando o sorriso ao vê-lo, chamando-o para segui-la. Aproveitei que estavam os dois distraídos e rapidamente me aprontei.

Estou indo para a delegacia. Sei a desculpa perfeita para conseguir falar com eles — Avisei — Não se esqueçam de falar em inglês com Hassan, ele não entende vocês e me disse que fica triste com isso! Preciso ir antes do julgamento até lá.

Mas o julgamento é só daqui quatro dias... — lembrou-me Emma.

Eu sei, só que é questão de tempo até que o nosso pai venha atrás de nós. Preciso me adiantar.

E eu conseguiria. Tinha que conseguir.

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Where stories live. Discover now