Trigésimo sétimo capítulo

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- Vocês?

Ela revirou os olhos.

- As Almas que ficam presas entre dois mundos. Vocês vivem caindo aqui, e eu estou sempre observando. Esse hospital é tao chato, vocês são as únicas coisas que animam meu dia.

- Em que Hospital estamos?

- Santa Maria das Graças.

Olhei pra ela confusa. Esse eu não conhecia.

- Mentira, é o de Nova York mesmo.

- Qual deles?

- O Central.

Uma lâmpada se ascendeu na minha cabeça, como uma memória.

- Meus pais trabalham aqui. Preciso encontra-los.

Ela mexeu em uma de suas tranças, e fez cara de pena.

- Algo me diz que eles não estão trabalhando hoje.

- Obrigada, acho que não preciso mais de você.

Sai a deixando para trás. Ela riu.

- Você vai voltar. Sempre voltam.

Dei de ombros, eu não iria voltar se encontrasse meus pais, e nem o contrário.

Caminhei pelo hospital, os procurando por toda parte. Mamãe trabalha na Hala D e Papai na A, e eu estava perdida na Hala B a um tempão. Eu nunca encontrava a saída para as outras Halas.

- Leve ele para a Hala C - gritou um homem que julgo ser um medico a um enfermeiro que empurrava um idoso em uma cadeira de rodas.

Segui o enfermeiro. Havia duas enormes portas brancas, com uma placa acima dizendo: Hala C. O enfermeiro abriu as portas e passou, tentei fazer o mesmo, mas parecia haver uma parede à minha frente. Tentei novamente e senti um choque. Me virei e comecei a andar, eu não sabia bem para onde estava indo, eu só estava andando, sem rumo, pelo hospital.

Parei em frente a uma porta comum. Acima dela havia a indicação do quarto: Quarto 6. Hala B. Eu queria entrar, eu sentia necessidade de entrar, mas um casal que estava vindo em minha direção me chamou atenção. Eles vestiam roupas comuns do dia-a-dia igual as outras pessoas, eu não estava acostumada a vê-los vestidos daquela forma. Pareciam até não ser meus pais, não os que eu conhecia desde sempre, mas eram.

Eles se aproximaram. Não sei porque eu estava sorrindo feito uma retardada. Papai ajudou mamãe se tentar em um banco, fazendo o mesmo logo em seguida e a abraçando de lado. Eles estavam chorando, os dois. A tempos eu não via meu pai chorar, acho até que nunca vi, não me lembro.

Caminhei até eles. Os chame is varias e várias vezes, mas eles não me ouviram, isso era óbvio. Pulei na frente deles várias vezes, tentei até toca-los, mas senti que iria cair só de me aproximara, então me afastei. Me encostei na parede de frente para eles, sem entender.

- Que diabos é tudo isso? - murmurei para mim mesma.

Um médico se aproximou. Os dois se levantaram, mas sem cessar o choro. A pior sensação do mundo, é a culpa, e a segunda pior é a de quando você vê seus pais chorando. Agora junte as duas sensações em uma só, você vai querer se abrir com as unhas e arrancar seu coração fora, de tão doloroso que é. Acho que eu faria isso, se fosse capaz.

- Ela esta na escala nove do coma de Glasgow. Tivemos de entuba-la - mamãe se sentou novamente. - Sinto muito - o medico apertou o ombro esquerdo de meu pai, e saiu de cabeca baixa, ele não disse mais absolutamente nada, apenas foi.

Meus pais eram médicos, obviamente sabiam do que ele estava falando. Mamãe estava inconsolável, e mesmo assim papai tentava consola-la, mesmo estando no mesmo estado, ou até pior que ela.

A Maldição da Lua.Where stories live. Discover now