22 - Família estranha

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-Eu não sei muito sobre o Lex, não convivi com ele por um período muito longo, e ele morreu sem me contar muitas coisas. – Falei ao entrar no quarto.

-É tudo tão estranho. – Ele olhou em volta com um olhar perdido.

-Eu sei, pensei o mesmo no começo. – Pensei também que seria morta.

Me sentei na cama e fiquei o observando. Tão frágil, tão assustado, não sabia se ele seria capaz de aguentar tudo aquilo. Mas ao mesmo tempo sabia que ele tinha uma grande força para ser descoberta por ele mesmo.

-O que quer saber? – Perguntei no momento em que seu olhar caiu sobre mim.

-Eu só quero saber quando tudo isso vai acabar. – Não acho que o Lex teve pena de mim da mesma forma que eu estava tendo do Alex.

-Isso ninguém sabe. – Falei sorrindo para ele.

-Acho que tenho um papel importante nessa história. – Ele tentou parecer corajoso, mas dava para ver o medo nos seus olhos e no seu tom de voz. – Minha semelhança com esse Lex pode ser útil.

Ele me parecia desesperado por uma resposta sobre qual é a função dele nisso. Admito que ele não era o único.

-Alex, você pode ser igual a ele, mas não conseguiria se passar por ele. – Ele falharia se tentasse. – Você deixa suas emoções muito amostras, seus olhos te entregam.

-Ele era mais forte. – Balançou a cabeça pensativamente.

-Nunca soube de verdade, quando ele ia começar a me contar dele .... – Parei de falar e olhei para as minhas mãos.

Se eu continuasse, acabaria me afogando nas minhas próprias palavras.

-Sinto muito. – Ele falou e hesitou em chegar perto.

-A gente se acostuma. – Olhei e tentei sorrir.

-Se acostuma com a perda? – Ele estava tentando entender tudo.

-Exatamente. Quando se perde muita gente, começa a se acostumar. – Eu já tinha perdido três pessoas, e não estava disposta a perder mais. – Perdi pessoas muito importantes.

-Eu não conseguiria seguir em frente. – Falou e se encostou na parede.

-Eu pensava o mesmo, mas você acaba achando outros motivos para continuar, outra razão para viver. Meu motivo foi o Caio. – Que estava seguro em casa.

-Acho que preciso encontrar a minha. – Ele sorriu e me fez dar um leve sorriso.

-Você vai achar, tenho certeza. – Respirei fundo e me levantei.

Fui até o armário e o abri, as roupas do Lex ainda estavam ali, e sem cheiro de mofo.

-Você pode ficar no quarto ao lado, e tem roupas do Lex aqui. – Falei tirando uma blusa que o Lex usou bastante nos dias em que eu fiquei lá.

-Ou eu poderia ir na minha casa buscar as minhas roupas. – O olhei pensando no que ele falou. – Não acho legal usar as roupas do falecido. – Eram só roupas.

-Tudo bem, eu vou com você.

O levei para o escritório e passamos pelo portal, Alex imaginou a sua casa e em um segundo estávamos na frente dela. Como sempre, eu caí ao chegar no destino final da viagem.

A casa dele ficava na rua atrás da minha, era bem próximo. Nós entramos e a sua família estava na sala, claramente preocupado. A mãe dele deu um sorriso de alívio quando o viu passando pela porta e foi o abraçar. Eu me mantive afastada de tudo aquilo e deixei que ele explicasse, ou inventasse o que iria fazer.

-Oi, quem é você? – A menina que estava sentada no sofá despreocupada perguntou ao chegar perto de mim.

-Eu sou Ella Santiago, e você? – Dei um pequeno sorriso amigável.

-Sou Caroline, irmã do Alex. – Ela retribuiu o sorriso e eu a observei.

Nenhum deles se pareciam com o Alex, ou tinham traços parecidos, tirando os cabelos loiros. Tinha algo de estranho com aquela família.

-É um prazer conhecê-la, Caroline. – Falei e ela se afastou saltitando, ela devia ter por volta dos onze anos.

A mãe do Alex me cumprimentou assim que desceu do segundo andar para onde ela foi seguindo o filho, e o pai dele nem se quer notou a minha presença. Alex desceu minutos depois com uma mala não muito grande e colocou ela no chão ao meu lado. Ele se despediu da família e fomos para a minha casa onde eu pude explicar tudo para a minha mãe. Ela claramente entendeu o motivo e eu me despedi dela e do Caio, me doía pensar que eu não estaria lá quando ele acordasse todas as manhãs chorando. Voltamos para o outro mundo pelo meu armário, já saímos do portal dentro de casa, no corredor do segundo andar para ser mais exata. Levei o Alex até o quarto e fiquei parada na porta lembrando do tempo em que fiquei hospedada nele.

-Boa noite, Alex. – Falei sorrindo e puxei a porta para fechar.

-Boa noite, Ella.

-Boa noite, Ella

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