— Não estou desviando o foco, Kim Yeonjun. — a implicância em sua voz era extremamente nítida. — Estou apenas apontando um fato. Assim como o fato de você ficar cego e não enxergar a verdade, como fez com nossos pais, e como fez comigo. — As suas palavras eram pesadas, rígidas como ferro, e foram capazes de me machucar tanto quanto um.

— Está me culpando? É isso que quer dizer? — trinco os dentes com tanta força que sinto eles rangerem.

— Apenas expondo o que você ignorou quando eu tentei alertá-lo. Pare de esconder os problemas atrás de seus olhos. Acredite mais nas pessoas.

Abro a boca para falar e nada sai.

Ele respira fundo sem me dar a chance de retrucar. Se retira do banheiro, olhando para qualquer canto que não fosse eu. Nisso eu sei que agora as coisas entre nós mudaram de novo. Agora não posso alterná-las. Observo ele andar em direção à sua cama, se deitando de costas para a minha e cobrindo seus ombros largos.

Encaro a plantinha na janela, lembrando da carta que ele escreveu, propondo um tratado de paz, sem mais brigas ou implicâncias sérias, mas acho que isso não teve valor nesse momento. Será que voltará a ter algum dia?

Por mais que eu esteja bravo com sua atitude infantil, suas palavras mais uma vez afetaram. Perfurando meu ego que eu tanto evito. Ele mais uma vez enfatizou o fato de sermos irmãos, e porra, nós não somos! Não de sangue, mesmo assim isso ainda o sensibiliza. Ele insiste em bater na mesma tecla, relembrando isso.

Nesse instante, naquele banheiro da festa, eu senti coisas que nunca havia sentido antes. Eu me senti acolhido de uma forma estranha, uma forma estranhamente boa. Conversar sobre nossas mães nos deixou vulneráveis, e percebi como somos parecidos em questão de sentimentos. Não sei o que raios me fez sentir a extrema necessidade de beijar aqueles lábios finos e tão bem desenhados, mas naquele momento em que nossas bocas se encontraram pela primeira vez, algo dentro de mim me disse que a vontade de fazer aquilo não surgiu naquela circunstância, ela parecia ser antiga, não muito, mas ainda assim, antiga. Aquele sem dúvidas foi o melhor beijo da minha vida e, ao mesmo tempo, o que causou mais prejuízos.

Ainda parado no batente que dividia os dois cômodos da suíte, encaro o garoto mais uma vez, revivendo tudo, desde o primeiro dia que o conheci.

Desde o primeiro momento nos desentendemos. Eu desconfiava que papai tinha um namorado, mas não fazia a mínima ideia de que esse cabeça de vento do Kim mais velho iria, de uma hora para a outra, trazer o namorado dele e o seu filho para morar conosco.

Namorado...

Assim como Soobin e eu, eles também brigaram, mas eles são um casal, diferente de nós, e sempre estiveram em harmonia. Por que eles brigariam? Quais são os motivos? Por que fui egoísta de mais para não querer acreditar que havia algo de errado com os dois?

Taehyung sempre foi meu pilar, minha fonte de orgulho e inspiração, mas em tão pouco tempo, Jeongguk também havia ganhado meu respeito e minha admiração. Ambos agora eram minha força. Assim como meus amigos, que me dão apoio e conforto em algumas ocasiões que meu pai não entenderia, ou que eu evitava o contar para não o deixar preocupado com mais uma coisa em sua vida. Todos são importantes para mim, assim como Soobin também é.

A ideia de haver algo de estranho entre o casal me abalou, mesmo eu não mostrando muito, e as palavras de Soobin após nosso beijo só me deixaram pior, ainda mais com o seu sumiço depois.

Tudo caiu sobre mim.

Quando Soobin desapareceu, eu me julguei tanto por ter feito aquilo, porque sei que ele estava fugindo para não encarar a realidade, para não me encarar. O desespero me enfraquece, o medo de o perder por causa de um simples ato impensado meu, era devastador. Só Beomgyu, Kai e Taehyun sabem o quanto chorei e me culpei por tudo, mesmo não os contando o motivo de tamanho remorso.

HATE | yeonbinWhere stories live. Discover now