─ Não é isso, amor. Eu não me acostumei, eu sempre enchia a cama de travesseiros até me deixar sem espaço nenhum, assim eu me sentia acompanhada, como se você estivesse lá comigo, mas não era a mesma coisa. ─ Helena se calou por um instante, fazendo um bico. ─ Não tinha você para me fazer carinho.

─ Eu nunca fiz.

─ Mentira. Eu fingia que estava dormindo e sentia você me fazer cafuné, assim como dar uns beijinhos em meu rosto.

Ettore coçou a nuca e desviou os olhos, parecia uma criança que foi pega no flagra e realmente tinha sido pego e foram varias vezes, Helena sempre se apegava aqueles pegos gestos, imaginando quando seu marido fosse permitir viver daquele amor e carinho sem tantos receios.

─ Você é minha esposa, Helena. Isso é inevitável. Mesmo que eu tenha negado com todas as minhas forças, você fez e faz parte de mim desde o dia que nos casamos.

A mulher tocou na mão do marido por cima de sua barriga, acompanhando os seus movimentos enquanto sentia a bolinha se mexer em seu ventre. Naquela manhã em especial ela estava bastante animada ou parecia. Talvez toda a história que a criança sente o mesmo que a mãe fosse verdadeira.

─ Por que lutou tanto contra?

─ Medo.

─ E agora não tem mais?

Ettore parou com os movimentos, ficando quieto. Helena levantou a cabeça em busca de seu olhar, mas ele parecia focado em um ponto qualquer do teto. Ela arrumou a camisola que vestia e se sentou, encostando as costas na cabeceira da cama, daquele jeito era mais fácil de olhar para ele, mas foi apenas uma troca de olhar rápida para que ele fechasse os olhos.

─ O que mudou? ─ Ela insistiu.

─ Quase morri em uma guerra que era para salvar você e se morresse eu não teria sido sincero em nenhum momento. ─ Ele respondeu, mas ainda de olhos fechados. ─ Eu iria morrer por você sem dizer que eu amo você. Sem dizer que tudo sempre foi sobre você. O amor já me matou uma vez.

─ Seu pai?

Ele negou com a cabeça.

─ Não. Eu deveria ser pai agora de uma menina de quase quinze anos, Helena. ─ Foi só naquele segundo que ele abriu os olhos.

Helena não soube o que sentir diante daquela revelação, mas foi quando se recordou de uma conversa do casal logo depois de terem confrontado Leonel sobre os netos e os controles de horário. Mas saber que tudo era pelo luto, por aquela perda que deve ser irreparável.

Mas aquilo explicava o olhar tão frio, as atitudes tão brutas e cada ato pensado. Toda a proteção, por ter feito questão de proteger a informação assim que souberam da gravidez, que não quis que ninguém soubesse até que fosse seguro.

Helena também sentiu o quanto foi burra de ter entregado aquela informação facilmente para os seus pais. Por não ter pensado e colocado a segurança do seu bebê como prioridade. Deixando-se ser guiada pelo coração, querendo acreditar que a família quer sempre o melhor.

─ E a mãe dela?

─ É com isso que está preocupada? ─ Ettore se sentou, sua expressão era de incredulidade. ─ Ela está morta. Não era como você. Não tinha um nome importante e nem era filha de alguém influente.

Helena sentiu o tom de voz de seu marido mudar, assim como a sua expressão. Voltando a ser aquele mesmo homem de antes, como se estivesse preso no passado, afogando em sua dor e jamais fosse curado. Mesmo com outra filha a caminho, uma nova chance.

─ Eu sinto muito.

Ele sorriu, mas era um sorriso triste. Helena tocou em sua mão, apertando, tentando transmitir algum consolo.

Giostra - Máfia Siciliana (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now