- Vamos conversar no escritório - Holden disse.

Ele abriu a porta, entrando. Cedric e eu o acompanhamos.

Caminhando até sua poltrona, Holden sentou-se lá, retirando um charuto da gaveta. Fiquei nervosa por alguns segundos por causa das cartas, mas ele pareceu não notar.

- Pode contar, Cedric - ele deu permissão, suspirando. - Eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto tão cedo, mas já que descobriu, não vou tirar esse direito de você, filha.

Cedric sentou-se em uma das cadeiras vazias frente a mesa. Eu me mantive em pé, com os braços cruzados, apenas esperando por respostas.

Como assim mamãe não havia morrido por causa de uma doença?

- Primeiramente, eu queria me apresentar. Sou Cedric Betin, um antigo amigo da família - começou a falar. - Não se lembra de mim? No funeral... as flores roxas.

Fiz menção de negar, até que os lapsos de memórias voltaram à minha mente. Tinha feito questão de esquecer aquele dia da memória, mas recordava-me do esbarrão que dei com um homem estranho.

As roupas dele eram chamativas e ele segurava um buquê de flores roxas, combinando com a cor do blazer. Ela ele.

Recordo-me de ter pedido desculpas, mas não de seu rosto. Meus olhos estavam tão marejados e minha mente não conseguia pensar direito. Era a dor do luto.

- Então era você que estava chamando a atenção de todo mundo? - eu perguntei.

Ele sorriu fracamente.

- Foi uma aposta. Anna e eu prometemos que, quem partisse primeiro, deveria conceber o azar de ter o outro vestido de um jeito diferente no velório. Como ela amava aquela cor, pensei que fosse uma forma digna de aparecer e cumprir tal ato.

- As pessoas estavam falando tão mal de você - fui sincera.

Apesar do momento sério, vi quando Holden sorriu.

- Eu disse que aquela roupa era ridícula - papai proferiu, tragando o charuto. Fiz uma careta, mas não reclamei.

- Poderia ter sido pior.

- Duvido muito.

- Eu poderia ter ido como amante e ter feito todo um drama - ele piscou. - Porque você sabe, eu amo você.

Papai não pareceu surpreso com a atitude. Mas tossiu brevemente o charuto, fazendo Cedric gargalhar. Quando voltou a me olhar, as feições voltaram a ficar sérias e ele ajeitou a roupa, dizendo:

- Desculpe. É estranho lembrar do passado. As vezes sinto que ela ainda está aqui, conosco. As lembranças ainda são tão vívidas, que me permito sorrir, antes de lembrar do ocorrido.

- Aquela conversa no corredor, ela é verdadeira? - perguntei.

Apesar do prefeito ter permitido, Cedric olhou para ele mais uma vez, a procura de ter certeza que poderia falar suas próximas palavras. Como sempre, ele acenou.

- Eu queria acreditar que não - ele falou para mim. Os olhos castanhos estavam cansados. - Mas é verdade, Nalu. Sua mãe não morreu por causa do Câncer, ela foi envenenada.

- Há quanto tempo vocês sabem disso?

- Faz alguns anos - Holden respondeu.

- Mas só fomos capazes de confirmar há algumas semanas, por causa da investigação de um amigo meu - Cedric acrescentou. - Ele era colega do médico responsável pela sua mãe e tirou algumas informações dele, durante a época que ela ficou internada.

- E por que nunca me contaram isso?

- Porque foi um processo - papai disse. - Porque não tínhamos certeza.

- Então vai me dizer que não me contou que eu não era sua filha biológica porque não tinha certeza também? - deixei a frase sair, frustrada.

Cedric arregalou os olhos.

- Ela já sabe? - ele perguntou.

Outro suspiro pesado saiu do prefeito.

- Sim. Já fazem uns dias - falou, então me encarou. - Eu não queria que você sofresse, Nalu. E tudo que fiz durante esse tempo foi tentar proteger você das coisas que levariam a mais sofrimento.

Não tinha como negar isso, pois sabia o quanto ele havia se esforçado durante todos esses anos. Mesmo assim, não significava dizer que eu não me sentia magoada por ter ficado de fora de um assunto que era tão importante para mim.

- E o que sabem até agora? Há suspeitos? - perguntei.

A antiga eu iria se rebelar. Dizer coisas que magoaria a todos e provavelmente agir como uma criança diante a situação.

Todavia, a nova Nalu, não. 

- Quando confirmaram a morte, o relatório disse que foram algumas complicações de saúde. Insuficiência cardíaca, pulmões comprometidos e corpo fraco por causa da doença - Cedric falou. - Mas não foi. Havia algo esquisito no seu corpo quando fizeram o exame. Alterações, que se deu pelo consumo contínuo e imperceptível de alguma coisa destrutiva dentro do corpo.

- Poderia ser antibióticos. O tratamento também era difícil.

- Ela já estava curada do câncer, Nalu - ele deixou escapar, sério.

Franzi a sobrancelha.

- Pensei que ela não estivesse doente.

- Ela estava. Mas conseguiu vencer. Por um tempo. Quando voltou ao hospital, achou que o mal estar que sentia poderia ser uma nova recaída, mas exames comprovam que não.

- Então por que diabos os malditos médicos confirmaram o laudo?

- Queria evitar um processo - o prefeito disse.

- E por que o senhor não fez nada?

- Porque acreditei, durante algum tempo, que era realmente isso.

- Mas acabou mudando de ideia.

- Sim.

- E por qual motivo?

- Rejeição - ele disse, apertando o maxilar. - Sua mãe foi o grande amor da minha vida. A pessoa que eu nunca iria conseguir me imaginar sem. E eu não queria aceitar o fato que ela realmente havia ido embora. Por isso contratei Cedric. Ele também é detetive. Um dos melhores de Miami.

- Já temos algumas provas, Nalu. Alguma lista de médicos que ajudaram a acobertar isso. E um suspeito. Pelo que parece, um homem costumava visitar Anna em alguns horários da semana. Ficava alguns minutos, depois ia embora. Mas ele sabia que tinha algumas câmeras. E sabia como evitá-las.

Engoli em seco, mas precisei perguntar:

- E quem vocês acham que é?

Cedric deu passagem para Holden responder.

- Seu pai biológico.

New security ❄ Im JaebumOnde histórias criam vida. Descubra agora