Cooking

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O clima na casa poderia ser resumido a uma palavra: pesado.

Sim, podiam estar cada um em um cômodo - estava no quarto, no notebook, participando de um vai e vem em chat sobre se algumas coisas eram obsoletas ou úteis, e seu parceiro, como ia saber? - mas o peso do assunto pendente ainda era palpável.

O encontro terminou tão bem quanto um encontro de Zoom poderia, já quase noite. Devia ter sido por ter sido tão imediato que foi pego de surpresa quando a porta abriu. Ele estava escutando?

-- Livre agora?
Foi a primeira coisa que saiu da boca do falso albino. Ou no momento era falsa albina? Estava usando vestido, mas seria rude assumir. Agora se preocupa em deixar desconfortável?
Ajustou nervosamente os óculos e o cachecol.

-- Sim, precisa de alguma coisa?

-- Não exatamente, mas seria bom.
Foi o que a boca dele(?) disse, mas foi fácil notar o sinal de nervosismo; a mão direita apertou a saia, já que ir até o pulso era garantia de ver.
-- Eu queria testar algo que achei hoje. Quer me ajudar?

A essa hora? Bom, fazia sentido, e era um pedido bem inofensivo. Então porque estava nervoso?
Não finja que não sabe.
Acentiu. E pareceu ser satisfatório, porque recebeu um sorriso.

-- Eu vou esperar lá.

O viu sair e sumir no corre. Sozinho novamente. Sãoe bem que não tem realmente uma escolha, não é? Se se recusar a ir talvez só piore.
Levantou e o seguiu, o achando na cozinha, tirando alguns potes da geladeira.

-- Então, o que é o teste?

-- Não é exatamente um teste.
Tirou da gaveta duas faquinhas de serra, então a fechou e pôs uma delas sobre um dos potes. Sem romper o contato visual desde que entrou.
-- Só muda a finalidade. Pode ajudar cortando algumas coisas? Um de cada.

-- Ok.
Só houve rompimento quando precisou, para ir lavar o coentro.
É isso, então. Pegou um tomate e o abriu para tirar as sementes, então levou à pia para lavar. Limpo, pegou uma tábua de corte e o colocou em cima, picotando as metades.

Terminado, pegou uma panela e colocou os pedaços, onde em seguida seu parceiro(a?) colocou o coentro cortado. Depois foi a cenoura e o pimentão, o único som no ambiente a água corrente e as facas, até ser rompido pelo outro (por ela?):

-- Eu não estou bravo.
Ok, é "ele" mesmo.
-- É em parte minha culpa, a gente devia ter falado sobre isso mais cedo.

Provavelmente. Pôs os vegetais cortados na panela, junto da cebola e batata, e o viu por carne no liquidificador(???).

-- Eu devia ter parado quando mostrou que não queria.

-- Aí é que mora o problema, eu não mostrei.
O barulho que fez quando ligou, já que não tinha líquido dentro, era infernal.
-- Não vou mentir, me assustou, mas nem eu sabia que era um... gatilho... -- a última palavra havia saído quase à força -- não podia esperar que você soubesse.

Pegou o copo com carne moída quando lhe foi oferecido e pôs junto dos vegetais. Dali em diante quem sabia era ele.
-- Ainda quer continuar, então? Mesmo que eu tenha te tocado sem permissão, porque não sabia que era um gatilho?
Não era algo bom de dizer, mas era a verdade, mesmo que o fizesse querer se bater. Ele chorou, com medo, de si, e podia deixar passar? O que mais poderia?... Não, não, só a pergunta já era o bastante para fazer o estômago revirar.

Outra panela, menor, foi pega, pelo falso albino, e nela foi posta água e um cubo de caldo de carne, e posta no fogo. A que já estava pronta recebeu temperos e vinagre, então foi posta em outro fogo, sempre mexendo.

-- Nenhum de nós nunca pediu permissão, só demos sorte de sempre estar em sincronia. Na vez em que não deu merda, e bom, pode muito bem ser a primeira.
Não ficou só com vinagre por muito tempo, depois que o cubo dissolveu o caldo foi posto junto do principal é misturado, então deixado para ferver.
-- Se ficarmos assim toda vez, Deus me livre.

-- Então, qual é a ideia?
Parece que agora é só esperar. Jogou as cascas fora e começou a lavar o que sujaram.

-- Nenhum bicho de sete cabeças. Se quiser sexo, contar, não tampar com carinho. Vale pra ambos.

-- Justo. Mas seria bom acostumar com um eufemismo...
Sinônimos de sexo são podres ou algo que pertence a uma sala de aula.
-- ... afinal, ainda é plano adotar crianças, não é?

-- Justo.
Lavados, enxugou as mãos e olhou apropriadamente para seu parceiro, que realmente parecia pensativo, antes de finalmente retomar o contato visual.
-- "Ter"? É difícil de esquecer, e "te ter" é difícil de mal interpretar.

Talvez foi pelo sinal de satisfação que captou no olhar do outro, mas, mesmo que leve, pôde sentir o começo de um sorriso no próprio rosto.
-- Perfeito.

O resto do tempo acabou sendo quieto, mas ao menos não o silêncio denso de antes. Ainda não 100% ok, mas podia e ia melhorar.

Depois que a carne cozinhou, foi juntado a um resto macarrão do dia anterior.

Foi bom, com certeza seria repetido em algum momento.

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Cherry
te desafio a identificar porquê era um gatilho.

Desafio 30 dias de OTP (Parscal)Where stories live. Discover now