Telling a secret

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Eu: *começo a escrever uma confissão de um crime no leito de morte*
Meu cérebro: Tu não consegue nem descrever a aparência sem choro. Faz algo mais leve.
Eu: E que segredo leve esse cara tem?
Meu cérebro: É uma AU de qualquer forma. Faz o que você quiser.
Eu: Tá bom.

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Evidentemente, mesmo estar juntos a quase uma década não é o bastante para fazer tudo que é coisa emergir.

Nenhum dos dois sequer lembrava de como havia começado, só que tinha algo a ver com uma reunião envolvendo família distante. Mas acabou escalando, e se dentro de uma relação bonitinha existia uma característica ácida, então essa era a deles: saber tão bem onde doía que às vezes tocar sem querer acontecia.
Essa não foi exceção. Felizmente, não o festival de projeção que podiam se tornar em dias pré medicação (que a peste devore pela eternidade quem acha que ambiente externo influencia uma doença hereditária).

Mas...

"Você próprio já tinha dito quão pouco isso acontece. A escolha é sua, mas você devia saber a diferença que faz ter uma família bacana. E que a maioria dos membros estão vivos"

Aquilo não era nada demais. Os dois sabiam disso. E mesmo assim pareceu acertar onde doía. Provavelmente por esse tipo de tópico não costumar ser trazido à tona, porque não era um tópico confortável para nenhum dos dois.

E mesmo assim foi, e não era difícil notar o humor na sala mudando quase imediatamente. Para o quê? Era difícil dizer. Apenas que era tenso, tenso o bastante para trazer silêncio. Talvez uma benção disfarçada - afinal, estavam na casa dos pais do falso albino, não no apartamento universitário que compartilhavam -, mas não o tornava menos desconfortável.

E foi o próprio falso albino que o rompeu, depois de pressionar o lado da saia que usava algumas vezes:
-- Quer saber? Você tá certo. Mas antes, deixe eu te mostrar algo.

-- Desculpa eu ter dito besteira...

-- Não, não disse, só me fez lembrar e eu acho que você deveria saber, só isso.

O corredor estava vazio, o que era esperado, por mais que o pensamento de dois familiares compartilhando um chuveiro fosse algo melhor fora da mente. O cômodo destino era o quarto dos mais velhos; e, numa movimentação tão à vontade que sem dúvidas haviam sido feitas várias vezes, viu o que estava de saia longa baixar um dos fundos do guarda-roupa e pegar uma chave, então usando para abrir a única gaveta trancada na cabeceira, cheia de documentos. Cavou naquela montanha até encontrar seu alvo e o puxar, entregando para o mais novo.

O fez com a expressão neutra, e a mantinha neutra enquanto via a expressão preocupada do namorado passar para uma infame: a de que de repente algo fez sentido e se sentia mal por não ter notado antes.

-- Eu... Desculpa. -- não exatamente um começo inesperado -- Eu não sabia... Droga, desculpa, eu não devia ter falado daquele jeito.
Contato visual já havia virado lenda, e a linguagem corporal do mais velho, vide o modo como posicionava os braços, tornava aquela ideia quase surreal.

-- Bom, já era verdade com Frisk, por que não eu também? E não precisa ficar se desculpando. Eu não lembro, e nunca tive curiosidade.

Era um documento longo, e cheio de dados que parecia errado olhar, mas duas passagens estavam destacadas com marca texto: Parser Meragum era uma delas, e a outra dizia, não necessariamente nessas palavras, Adotado aos seis anos de idade.

-- Você nunca contou. Se te deixa desconfortável não deveria se sentir obrigado.

-- Mas eu sou. Se um dia formos responder por atendimento médico um do outro, você merece saber o porquê de o histórico familiar não bater.

O que deveria fazer com o documento agora? Ele não havia se movido para pegar de volta, então devia continuar com ele?

O pegou de surpresa, sim, afinal, apenas pela aparência, no máximo poderia questionar a integridade da Sra Geno. Mas, ao mesmo tempo, fazia tanta coisa de repente fazer sentido. Não a adoção em si, sabia em primeira mão que família adotada é tão verdadeira quanto laços sanguíneos - Jay, te amo, ainda adoto seu sobrenome -, mas todo o resto. Se não lembra, então provavelmente não sabe a história toda, então abandono é uma possibilidade - a paranoia que tinha com abandono; dependendo da data do que causou as cicatrizes, aconteceu ou pouco antes ou pouco depois que aconteceu - foi nesse ponto que começou a se ver como basicamente uma propriedade danificada? Além do grude que ainda mostrava às vezes - se bem que é difícil imaginar mommy/daddy issues funcionando em tal espaço de tempo, e em alguém que até começar a namorar a si achava que era ace.  

Bom, sangue é mais grosso do que água. Ou melhor, o sangue do pacto é mais grosso do que água do útero. Querendo ou não aquilo era uma mostra de confiança. E valiosa.

Desafio 30 dias de OTP (Parscal)Where stories live. Discover now