On a date

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Última semana para recuperar da fratura terminou, então terminaram os dias úteis, totalizando doze dias. O que, talvez, poderia não parecer tanto tempo, mas ei, quem pode culpar uma pessoa nova por achar doze dias um tempo longo, ainda mais tendo no meio o tempo em que arranjou um encontro não fazendo a menor ideia de como o próprio conceito de ter um encontro funciona?

Ninguém, esperava.
Mais uma vez conferiu a hora no celular, a mão livre sem sequer notar mais uma vez tocando onde o osso da frente da canela fora quebrado a chutes. Parece que o baixinho é na verdade um touro anão, ha. Não que preocupasse Parser, não era como se fosse forçar a barra a tal nível.

Bom, já conseguia andar (quase) sem mancar (desconfiava que fosse psicológico), então estava bem. Eles já haviam combinado onde e quando (mesmo que não fizesse bem parte do "eles"), era só esperar chegar perto da hora.

Quando realmente chegou, suas tripas levantaram um protesto.

Ah, vai, que adolescente não tem emoções que fervem com o menor estímulo, quem dirá numa primeira vez? Se tem medo, finge que tem coragem e vai com medo mesmo!

No exterior, o turbilhão era prontamente escondido com o sorriso de simpatia que havia tentado praticar mas não deu tempo, então só podia rezar que houvesse funcionado.

-- Oi, boa tarde, desculpa o atraso.

-- Está bem. Boa tarde.
Em algum ponto da mente, uma voz pronunciava uma poesia digna de r/im14andthisisdeep sobre como aquele mínimo de simpatia acabou lhe batendo com força, mas nem literalmente ter catorze anos o fez não achar aquilo ridículo, então engoliu e se sentou no lado oposto. Tarde demais para ir embora sem causar más sensações, não tarde demais para pensar no melhor modo de se safar com matar uma pessoa inconsciente.
-- Então, como está se sentindo?

Ok, ok, pela expressão e como movia as mãos, podia dizer que Scal também tinha ao menos um mínimo de nervosismo. Provavelmente não deveria sentir alívio com isso, mas sentiu.
-- Melhor, bem melhor. Parou de doer e tudo.

Meia verdade. Ou talvez fosse melhor dizer "três quartos de verdade". Era verdade fisicamente, e meia mentalmente. Abuso é sobre poder e usava aquele conhecimento como escudo, mas há algumas coisas que simplesmente não existe preparo contra.

Provavelmente não havia sido pego no seu "quarto de mentira", porque o alívio no rosto da sua companhia era real. Céus, aquilo era tão clichê, mas era o clichê ou seu conhecimento, que não tinha... colocou as mãos a meio caminho da mesinha.

-- É bom ouvir isso. Minguar merece aquele tipo de coisa.
EEEEE ou a sua dica passou batida, ou então foi ignorada, e pelo bem da sua sanidade prefiro deixar aquela questão de lado. O momento de desconforto que pendeu também não ajudou.
-- Não quer pedir alguma coisa?

Ah, é claro! Digo, pelamor, a sua total falta de maneirismos não deveria incluir ocupar uma mesa à toa! Acentiu, talvez tentando um pouco demais manter um mínimo de contato visual.

-- Você quer alguma coisa?
Ok, só o jeito como passou a frase prova que pra rei da tensão desnecessária só falta a coroa.

Não que Scal parecesse se incomodar. Parecia até relaxado, de um jeito:
-- Só uma coca.
Talvez estivesse simplesmente se acostumando. Quem passa muito tempo perto de lixo eventualmente se incomoda menos com o cheiro, não é mesmo?

Acentiu de novo, e foi para o balcão pedir as duas coisas, o que foi rápido já que são do tipo garrafinha de plástico só enfiar na bolsa.

Nos minutos que seguiram, parecia só uma ceninha fofa entre dois garotos no começo da adolescência. Até difícil notar só olhando que se alguém lhe medisse a pressão sanguínea talvez desconfiasse de um aviso de infarto.

O que deveria fazer a essa altura? O olho pousou na garrafinha nas mãos, um fermentado que tinha gosto e consistência de fermentado. Não faria mal, não é? A deixou perto do centro da mesa, como havia sido antes com suas mãos:
-- Quer provar?

Viu o mais novo acentir, mas nem se o matassem conseguiria ler a expressão dele, a cabeça em outro lugar. Isso está ficando constrangedor, e o jeito que conseguiu pensar para varrer as dúvidas... Bom, se tem medo, finge que tem coragem e vai com medo mesmo.
A expressão fofa no rosto alheio derreteu boa parte até do fingimento.

-- Meio forte para mim.

Não importa, junta de volta, não vai morrer.

Quando esvaziou a garrafinha, a deixou de canto e, após um momento de contemplação sobre ser uma má ideia ou não, decidiu simplesmente deixar as mãos muito próximas.

-- Scal, há algo que quero perguntar.

O que pegou o mais novo de surpresa, não podia dizer, mas gostava de pensar que foi o gesto, em vez de talvez o seu tom....
... fingimento é uma coisinha inconsistente, não é?

Uma voz ficava dizendo para si que era melhor inventar uma desculpa, deixar isso para lá. Sequer sabia com certeza que gostava de garotos, e também o quão irritado parecia quando lembrava os desocupados que não eram um casal, ou da expressão de choque quando contou como perdeu seu olho - o que iria pensar do seu ombro? Ou do resto? Ninguém vive de moletom pra sempre, se realmente acontecer uma hora pode acabar vendo...

Mas... já havia chegado lá. O pior que pode acontecer é perder o único não parente que o trata bem. Quão ruim pode ser?

A sua leitura de expressão estava levemente nublada pela onda de ansiedade, mas ainda podia ver o interesse, e talvez fosse justamente a neblina, mas queria acreditar que a ponta de preocupação era real.

-- O que é?

Ok Google, como uma pessoa saudável pode morrer enquanto dorme?

-- Eu posso te dar um beijo?

De alguma maneira, a expressão de perdido que sua companhia teve por um momento ajudou a aliviar seu medo. Felizmente não ficou pendente até poder remoer ainda mais, Scal fez que sim, e foi a sua vez de ficar perdido o bastante para não conseguir disfarçar.

Bom, é isso aí. Felizmente a mesa não era grande, então a aproximação foi fácil.

Foi exatamente como se esperaria de dois pirralhos recém saídos da infância: mau dava para chamar de selinho de tão raso, além de curto, e mesmo assim de algum modo conseguiu ser sem jeito.

E, mesmo assim, quando acabou, a neblina de ansiedade ainda estava lá mas por razões diferentes, e igual à outra, lhe deixou sem saber mais nada. Oh fuck, oh fuck.
Bom, alguma coisa tem que ser dita, ou vai ficar vergonhoso. Só notando então que o rosto parecia quente, abriu um sorriso torto:

-- Eu vou considerar esse o meu primeiro.

Não conseguia olhar diretamente, mesmo que quisesse, no máximo o bastante para capitarque estavam no mesmo barco: Scalprum também parecia estar tentando descobrir se a bíblia é uma fanfic encontrada por um acaso e distribuída do jeito errado.

-- Somos algo mais agora?

Sim, não, depende, caralhos voadores no banheiro.
-- Acho melhor primeiro eu falar com mais pais.

E, na hora, a junção de mente nublada e não prestar atenção não deixou ver que a resposta causou uma pontada.

Pelo menos mais tarde aquilo iria passar, então seria (quase) como se não tivesse ocorrido.

~Bônus~

Parser: Mãe, pai, posso ter um namorado?
Error: *war flashbacks envolvendo Dust e Killer*

Desafio 30 dias de OTP (Parscal)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ