Kissing

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Eu senti que precisava escrever algo assim, mas não achei um que encaixava, então vai aqui mesmo.

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Escolher um filme de terror para um encontro era algo comum, mas por razões mais ou menos específicas que não se encaixavam na situação atual.

Foi bem simples, nem chegava a ser tocante. Havia recebido mensagem do namorado contando como encontrou um filme em VHS enquanto fazia limpeza e queria assistir consigo, exceto que o VHS daquela casa já tinha virado história, mas tinha achado na internet então foi só uma inconveniência. É lógico que aceitou o convite assim que recebeu permissão.

Foi bem tranquilo até. Dois adolescentes apreciando juntos um filme velho mas interessante. Os pais dele estavam em casa, mas o próprio contou que não deviam interromper.

Começou bem simples, com as mãos se tocando, então segurando uma à outra; de lá subiu para acariciar o braço um do outro, então braços dados; nenhum teria certeza de quando exatamente pararam de prestar atenção para apenas ficarem abraçados.

Quem dirá quando o pouco espaço entre os rostos foi fechado.

Era bom, calmante até, o bastante para mesmo que por um momento até esquecer para o que havia ido lá.
Já haviam feito várias vezes, ao longo de dois anos, mas não achava que realmente acostumaria. A boca dele era macia, e lembrava o gosto de caramelo, embora não exatamente - único o bastante para precisar daquele contato de novo para poder sentir.

O contato era calmo, mais apreciando as sensações do que qualquer outra coisa. Havia apertado o abraço na cintura, tendo um susto só bastado para aprender que não era para segurar os ombros. Uma das mãos alheias havia saído do abraço para acariciar seu rosto.

As bocas já estavam abertas, então às línguas se tocavam, e toda a permissão necessária foi serem correspondidos, numa junção de calor e doçura.

O contato devia ter durado minutos, mas eventualmente se separaram, e embora a quebra do contato estristecesse um pouco, a visão que tinha era igualmente agradável.
Dois anos foram o bastante para ficar confortável mostrando o rosto inteiro, então podia ver os dois olhos naquele rosto corado. As duas cores eram bastante lustrosas, mas o azul de cor principal acabava sendo o mais chamativo. Talvez aqueles olhos estivessem tornando azul sua cor favorita.

A pausa não foi muito longa, mas os beijinhos que vieram depois não foram nada grande, só tocando os lábios. Não ruim também, nem de longe, esse contato simples conseguia ser igualmente confortante.

Mas infelizmente o clima foi cortado um momento, por um muito forçado som de limpar garganta, resultando no casal acabar se separando no susto com a visão de uma mulher de meia idade de pele e cabelo tão brancos quanto suas roupas.

-- Senhora Geno! -- acabou soltando -- Desculpa, eu não achei que-

-- Menino, calma, quem devia estar chocado sou eu.
Houve uma pausa para ela cruzar os braços, e acabou vendo com uma sensação ruim que ela tinha o celular em uma das mãos.
-- Meu bebê, se agarrando no meio da sala, e num deu nem uma hora que eu deixei sozinhos. Quase aprendi do jeito difícil o porquê "assistir filme" virou gíria.

O braço que ainda estava em seu tronco o puxou de volta, apesar do leve protesto físico. Mas parecia relaxado quando sussurrou o "Tá tudo bem", então escolheu confiar.

-- Mãe, não adianta, a senhora não me envergonha.
Dessa vez, obviamente, foi o falso albino, uma das mãos ainda subindo e descendo pelas costas.

-- Isso é... verdade...
A adulta na sala descruzou os braços e ligou o celular, só o movimento das mãos dando dica do que fazia.
-- ... mas ela sim.

-- "Ela" quem? -- perguntou baixo, e o namorado só deu de ombros, sem parecer se importar.
Em apenas dois toques, passou no viva voz um "Sup, mana" que soava bizarramente parecido com a voz da própria Geno, que por sua vez respondeu num tom bem forçado para ser dramático.

-- Sans After Skelligton, você faz a menor ideia de como se encontra seu sobrinho?

-- Não, por quê? Eu tava de babá e não fiquei sabendo?

-- Está na minha sala, se agarrando com o peguete! -- era bem óbvio, Geno havia tentado forçar um guincho, mas devia ser difícil mesmo para uma mulher depois de ter alguma idade.

-- Sério? Legal. Vai que é tua, Parsito.

-- Você tá no viva voz.

-- É bom mesmo.

-- F-Foram só beijos! -- conseguiu deixar sair, depois de uma discussão interna se devia corrigir a parte de "se agarrando" ou de "peguete".

Uma pena que foi prontamente ignorado.

-- E tem um filme passando. Advinha qual?

-- Bebê de Rosemary?

-- Exatamente!

-- Gen Gen, por favor, ele não é eu, não vai tentar trepar nas partes tediosas.

Talvez foi exatamente o quão direta a fala foi, mas o segundo mais velho lá acabou apertando o abraço de surpresa.
-- Tia!

-- Awn, querido, você não sabe nem um por cento da história. Esse filme já levou duas gerações de Afters aos finalmentes, parece até tradição! Se for acrescentar uma terceira na linha, cuide do teu homem direitinho, viu?

-- A gente não tava fazendo nada demais...

-- Tua mãe já te contou da tarde que me flagrou com Cherry quando éramos mais novas? Nunca vi uma pessoa cruzar uma sala tão rápido! Mas não culpo, se ficasse ia ter coisa pior...

-- Tia, pelo amor de deus...

-- Dica pra vida, cuidado com as divisas, às vezes dá pra sentir a madeira embaixo e...

-- Eu vou tacar esse celular do telhado!

-- Bom falar contigo, até mais. -- Geno falou rápido, antes de terminar a ligação, o rosto vermelho de tentar não rir alto.

O abraço finalmente afrouxou e pôde olhar de novo para a sua companhia, e nem depois da tentativa meio estranha de lhe assustar achava que o tinha visto tão vermelho.

-- Não precisava ligar pra Tia Sans.

-- Ah, mas precisava! -- o tom dramático havia voltado, mas ela estava sorrindo -- Meu bebê estava quase perdendo a virgindade no meu sofá. Como lidar? -- fechou com uma mão na testa e um bico. Aquilo era mesmo uma adulta?

-- Foram só alguns beijos. -- saiu finalmente, quando encontrou de novo sua voz -- Não íamos além disso mesmo se não tivesse aparecido. -- a última parte saiu em um murmúrio, mas devia ter sido audível, já que o outro acentiu.

-- É, mãe. Se fosse para fazer esse tipo de coisa, eu tenho um quarto com uma cama pertinho.
... Esse brilho no olhar era um bom sinal?
-- Falando nele, Scalpry, quer ir pra lá comigo?

Eu fui pego no meio de fogo cruzado sem preparo?

Desafio 30 dias de OTP (Parscal)Where stories live. Discover now