One is sick

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Levemente (ou não) baseado em uma experiência própria

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O som de descarga veio, e junto o início de questionar se demorou o bastante para os outros estranharem.

O lugar não era nada extravagante, um simples banheiro de escritório, que em uma das câmaras um falso albino havia praticamente vomitado as tripas.
Não pela primeira vez naquele dia. Nas tão famosas três da manhã havia levantado achando que era um chamado da natureza, só para acabar vomitando o que havia comido no jantar, ainda reconhecível, apesar de estar no estômago a quase oito horas.

(É claro que Scal havia notado que havia saído. Aquele cara tem o sono mais leve que uma pena, e naquele dia Par havia ficado de concha interna. Provavelmente deveria ter contado que passou mal, mas não queria perturbar o já tão difícil sono do mais novo, então simplesmente foi amansando até o assunto ser largado)

Bom, já estava na metade do período, que terminasse. Foi para a pia lavar as mãos e pôr água na boca para se livrar do gosto de vômito. É só não comer, nem vai ter o que pôr pra fora.

... Não adiantou nada. Acabou vomitando uma terceira vez de qualquer forma.

~~~

Bom, nunca era um bom sinal uma quebra na rotina que valorizava tanto, então foi justificado haver estranhamento quando pulou a parte da recepção e foi direto ao quarto, e se enrolou mesmo que fosse um dia quente.

-- Tem certeza que está tudo bem?

-- Aham. Só foi mais cansativo do que o normal. Não se preocupe, é só um cochilo.

Querer que não se preocupasse era querer demais, mas pelo menos não houve muita insistência. Talvez porque aceitou e respondeu à mão dada e ao afago leve recebido. Só estava cansado, não chateado ou tentando afastá-lo.
Só que por favor ter rejeitado o beijo não tenha parecido dramático demais. Primeiro que havia vomitado, segundo que, se fosse uma infecção, não queria arriscar acabar passando.

-- Eu vou fazer o jantar, ok? Quando acordar, é só ir comer.

Foi a última coisa que escutou antes de entrar em estado dormente. Sem sonhos, sem sequer realmente descansar, foi para si praticamente um corte para talvez uma hora mais tarde, quando a ardência na boca do estômago não o deixou manter a inconsciência.

Tentou levantar com pressa, resultando em se pegar em uma bagunça de lençóis e tombar no chão com um baque surdo. Foda-se, sem tempo. Se arrastou pro banheiro e se debruçou no vaso, o pouco conteúdo estomacal quase escorrendo por haver pouco demais para empurrar com força. Primeira vez em semanas que me dou um mimo...
E, naquela vez, parecia que o enjoo era o menor dos problemas. Boa coisa que já estava abaixado, ou provavelmente teria tombado quando deu tontura.

Quanto tempo ficou lá debruçado sobre o vaso, Parser não sabia, só se deu conta que ainda estava quando algo tocando suas costas o trouxe de volta à realidade. Ah, é claro. Na pressa, acabou não fechando a porta, então é claro que Scal se preocupou com o que ouviu e foi lá. Devia estar falando alguma, talvez uma pergunta?, escutava sons, mas era difícil separar uma fala consistente dos zumbidos vindo da própria cabeça.

Acabou aquietando quando ficou óbvio que o menor estava mais focado em se manter acordado no que no que era dito. Apesar da blusa grossa, dar a para sentir a pele fervendo em febre onde havia enrolado o braço para não acabar tombando.

Quente demais, provavelmente o que estava causando a tontura. O deixou se apoiar em si, então afastou o cabelo branco, um tanto úmido pelo suor, e prendeu com o elástico para deixar o rosto mais livre.
Aquele pobre coitado, não bastasse depressão, não tinha exatamente um sistema imune forte, o que acabou sendo - nunca contaria, conhecendo a tendência de seu parceiro a enxergar aceitar gentileza como algo ruim - uma das principais motivações para ter o que eram basicamente mini aulas com sua mãe.

-- Consegue levantar? -- murmurou, e de novo, sem reação, exceto o olho se movendo, então talvez dessa vez ouviu? -- Consegue levantar?

De novo, sem resposta falada, mas viu uma das mãos voltar a se apoiar no vaso e o braço tensionar, só para então largar e fazer que não. Não muito bom, mas precisavam fazer alguma coisa sobre a febre, e o pôr para se lavar tonto, mesmo se sentado, no chão escorregadio não era uma opção, quem dirá o pôr em uma banheira.

Sem contornos. Só trocou o apoio do próprio corpo para um dos cantos na parede para tirar a própria roupa - se ia ter que o apoiar em si, que se juntasse.

Pelo menos pareceu ter entendido mais ou menos o que era, porque tirou a blusa e estava brigando com as bandagens. Acabou tendo que aceitar ajuda, então, para ficar em pé. Céus, encostando diretamente parecia estar realmente fervendo.
Em se tratando de banho, também não foi exatamente bom, já que era difícil usar... qualquer coisa, basicamente, tendo que segurar outra pessoa. Ao menos a água fria pareceu ajudar com a tontura, mesmo que o bastante apenas para conseguir usar o sabonete e se vestir sem ajuda. E trocar o cobertor, já que o outro estava cheirando a suor, antes de ligar o ventilador e deitar de novo.

O momento de silêncio no quarto certamente foi bem vindo. Seria burrice usar secador - vento quente perto da cabeça - depois do que era para o esfriar, então o ventilador do quarto teria que servir.
So depois que um cheiro diferente do de vômito acabou notado. Ah, sim, seu parceiro estava cozinhando, não estava? A mente dizia que o cheiro era bom, mas o estômago voltou a revirar quando notou.

-- -m pouco de chá, ok?
Oh, voltando a escutar com cortes? Pelo menos dessa vez ouviu o bastante para entender do que falava. Acentiu.
-- Com fome?

Acentiu de novo, então falou depois de uma breve pausa:
-- Enjoo.

-- De novo?

-- Cheiro forte.

-- Quer que eu faça outra coisa? Que não tenha?

Dessa vez querer ao menos tentar sorrir não foi bloqueado. Não é um fofo? Pode passar mal ao ponto de se perguntar se entrar em coma é mesmo tão ruim assim, e terá o ponto positivo de ter um fofinho consigo. Acentiu.
Pareceu haver outro corte, quando abriu os olhos com toquinhos no braço. Havia cochilado de novo? Devia, porque agora tinha um pirex na cabeceira, com uma xícara fumaçando e um comprimido - provavelmente um antiemético.

-- Acha que consegue tomar? -- perguntou o mais novo, e a pausa mesmo breve pareceu bastante desconfortável -- Só para engolir o remédio?

Acentiu, e dessa vez se sentou sozinho, surpreso porém aliviado quando isso não bastou para trazer tontura de novo. Bom, também não estava mais naquele estado estranho de sentir frio e o menor toquinho fazer que estava fervendo, então não devia mais estar febril, ao menos não tanto.

-- Obrigado.
Pegou o comprimido e pôs na entrada da garganta, então a xícara e deu um gole, em plena vista ao sorrisinho encorajador do outro. Fofo. O gosto amargo-folha fez outra vez o estômago reclamar, mas dessa vez nada subiu, então conseguiu se forçar a terminar. Quando o fez, pôs a xícara e o pirex de volta na cabeceira. E, mais uma vez, uma mão gentil acariciou-lhe o cabelo ainda meio úmido.

Esse cara, oh boy, com certeza vai arranjar um mimo para ele quando a infecção passar.
Não daquele quiosque.

Desafio 30 dias de OTP (Parscal)Where stories live. Discover now