Prólogo

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Seattle, Sábado... Um mês antes. Oito e vinte seis da manhã... Ou quase isso.

Atrasada!

Estou completamente atrasada. Essas coisas só acontecem comigo. Hoje, devo me encontrar com o corretor imobiliário que vai me mostrar a casa onde Kate e eu vamos morar a partir do mês que vem, depois que nos formarmos na faculdade. Katherine Agnes Kavanagh é nada mais, nada menos, que minha querida companheira de quarto, e melhor amiga. Logo seremos melhores amigas e formandas. Estamos prestes a nos formarmos na faculdade. E bem, ela não pode vir comigo pois tinha algumas coisas a resolver, então, aqui estou eu, correndo sozinha como uma desesperada pelas ruas de Seattle. Sim, correndo, porque justo hoje Kate não pode me emprestar seu carro pois irá usar, e a minha linda moto está na manutenção. E pra piorar o meu voo atrasou. Sou tão sortuda. Sebastian irá me estrangular, me degolar e depois matar. Eu deveria encontra-lo as oito para ver a casa, mas graças a minha dificuldade em acordar as cinco horas da manhã de um sábado, eu estou vinte e sete minutos atrasada... Corrigindo, vinte e oito. Acho que ter desperdiçado alguns minutos comprando um MilkShake não foi a minha melhor ideia, mas em minha defesa eu preciso de um pouco de açúcar no sangue pra me manter acordada. Levanto meu rosto respirando fundo e começo a correr mais e mais rápido. Isso é tão exaustivo. É por isso que eu não pratico esporte. Bom, por isso e pela minha falta de habilidade. Paro por um momento, sentindo meu coração quase saltar do meu peito. Estou ofegante. As pessoas na rua passam por mim me olhando com um misto de curiosidade e espanto. Acho que estou descabelada. Provavelmente estou. Respiro fundo recuperando o fôlego e volto a correr. Meu desespero é tão evidente que, atendo meu celular sem fazer questão de checar a tela do mesmo quando ele começa a atrair a atenção das pessoas com seu toque irritantemente barulhento. Quem está me incomodando a essa hora da manhã?

- Quem é, e o que quer? - pergunto para quem quer que seja que esteja do outro lado da linha.

- Bom dia pra você também, Senhorita Mau-humor. - a voz da minha melhor amiga debocha em resposta.

Só poderia ser ela. Ninguém ousa me contatar tão cedo.

- Ér... Kate, eu definitivamente não posso falar agora, então, direto ao ponto. - digo tentando equilibrar meu copo de MilkShake, minha bolsa e alguns papeis em uma mão enquanto seguro o telefone com a outra e corro desviando desajeitadamente entre as pessoas.

Desajeitada. Essa palavra me define bem. Sabe as populares "leis de Murphy"? Então, elas são reais. E eu sou a prova viva disso. "Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível." Isso é a mais pura verdade, afinal, sempre acontece comigo. Sempre. Eu sou toda cheia de si, e desastrada na mesma proporção, sou extremamente atrapalhada, e na maioria das vezes me pergunto se nasci com cinco pés, tipo uma lula, porque minha facilidade de machucar ou trombar com coisas e pessoas é estupidamente absurda.

- Eu sei, eu sei, mas é que eu preciso de um favor. - Kate choraminga do outro lado da linha.

Bufo. Só pode ser piada.

- Kate, no momento eu não estou em condições de fazer favores. - resmungo sarcástica. - Eu ainda nem me encontrei com Sebastian ainda.

- Ana, por favor, é urgente! - sua voz soa suplicante. - Você sabe que é minha melhor amiga no mundo, não é?

Paro um instante conferindo o tráfego e volto a correr para atravessar a rua rindo de Kate. Ela é tão bajuladora.

- 'Tá legal, 'tá legal, corta o papo furado e diz logo o que você q... - paro minha frase no momento em que sinto meu corpo colidir em algo duro, e minha mão e papéis se melecarem de MilkShake. Mas o que...?

- Será que você não olha por onde anda? - uma voz grossa questiona a minha frente fazendo-me levantar o olhar e encontrar um capuz cinza. Quem esse ser encapuzado pensa que é pra falar assim comigo? Largo os papéis sujos no chão lamentando mentalmente não tê-los guardado em minha bolsa.

- ...Ana? Ana você está me ouvindo...? - ouço Kate me chamar no telefone, mas ignoro afastando o telefone da orelha e voltando a atenção para o desconhecido a minha frente.

- O que foi que você disse? - pergunto rudemente, guardando meu celular em meu bolso

- Por um acas...

- Espera! Faça o favor de tirar esse capuz ridículo pra falar comigo antes que eu... - interrompo minha frase no momento em que meu olhar encontra o belo rosto a minha frente. - Minha nossa!

Lindo. Tão, tão lindo. Alto, vestido em um despojado moletom cinza, com cabelos cor de cobre bagunçados e suados. E perfeitos, intensos e luminosos olhos cinza que retribuem meu olhar astutamente com certa fúria. Isso é sério? Bendita lei de Murphy!

- Você por um acaso tem algum problema de locomoção? - pergunta travando a mandíbula e me direcionando um olhar faiscante. Meu sangue ferve em irritação.

- Você quem anda por ai com a cabeça coberta e eu é quem tenho problema?! - bufo, exasperada.

- Visto que, foi você quem veio em minha direção e me sujou com sua bebida, então eu creio que sim. - sua voz soa extremamente sarcástica.

Ótimo, discutir com um desconhecido arrogante era o que me faltava mesmo.

- Se me viu vindo na sua direção, por que não desviou? - estreito os olhos.

- Porque do mesmo modo que à vi, você deveria ter me visto. - responde secamente.

Respira fundo Ana, respira fundo porque assassinato ainda é crime.

- Deveria, mas não o vi. - rebato irritada. - Desviar de mim não iria te matar.

Ele arqueia uma sobrancelha .

- Não, mas acredito que morrer seria mais proveitoso. - diz em tom árduo e debochado.

Perplexa, ergo o braço sem conseguir me conter e atiro o resto de MilkShake em seu lindo rosto antes de continuar meu caminho marchando furiosa.

- Você é louca?! - questiona segurando em meu pulso me impedindo de me afastar. - É assim que resolve seus problemas quando não tem argumentos?

- Não! - exclamo virando-me para ele e me desvencilhando de seu toque. - É assim que resolvo meus problemas com idiotas arrogantes feito você.

Ele me lança um olhar de revolta.

- Mas foi você quem começou. - acusa, e eu abro um sorriso irônico.

- É, e agora eu vou terminar. Adeus. - digo virando-me, mas dessa vez corro rapidamente para longe, deixando o desconhecido distante o suficiente para não me alcançar.

Assim que atravesso outro cruzamento, paro para recuperar meu fôlego. Olho minha mão, está seca porém melada. Suspiro. Graças ao desconhecido do capuz cinza, além de atrasada, agora eu estou também sem o contrato e os termos de compra da casa.

Ótimo. Sebastian vai me matar duplamente!

Cinquenta Tons de Steele - INDOMÁVELWhere stories live. Discover now