Capítulo 23

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Anely James Jackson
21 de Novembro de 2003
Mansão James-Jackson | Holmby, Hills
22:09

 Eu não posso morrer aqui
Não posso morrer
 Me casei há algumas horas. Mal tive a minha lua de mel, bem, nós temos mel todos os dias, mas, hoje é diferente. É a minha primeira vez como esposa. Eu nunca fui esposa de ninguém. Sou esposa do homem mais incrível do mundo e não vou aproveitar isso?

 Só de pensar na possibilidade de morrer um nó se forma em minha garganta. Eu não posso. Não posso. Não é justo depois de tudo que eu já passei. Essa é a minha chance de ser feliz, não é justo isso ser tirado de mim assim. Minhas pernas falham me fazendo cair sobre a grama. Meu vestido branco e bufante faz um circulo perfeito ao meu redor. Sentada em meus pés encaro a grama com lágrimas nos olhos. Mal consigo enxergar. Aperto meus olhos para limpar a minha visão e os abro novamente

– Não é justo – sussurro com um medo gritante em minha voz. Ele da um passo. Outro e outro. Pisando em meu vestido ele se aproxima. Se agacha em minha frente. Seus olhos verdes me levam a lembranças que eu quero esquecer. Fecho meus olhos com força

Moscou, Rússia
21 de Novembro de 1990

– NÃO SERVE PRA NADA! – um copo é arremessado contra a parede. Aperto o cabo da colher de prata com força. Tremendo muito levo a colher até a boca. Não posso parar de comer. Não posso desperdiçar essa oportunidade. Eu não sei quando vou poder comer de novo

– ELA É SÓ UMA CRIANÇA DIMITRI! – minha mãe com o pouco de sanidade que ainda lhe resta grita com ele. Em seguida escuto um barulho oco. As lagrimas escorregam por minhas bochechas. Ela cai no chão. Os pés dele se aproximam da mesa aonde estou embaixo. Ele bate as duas mãos sobre a mesa me fazendo tremer de medo

– VOCÊ ESTA AÍ PORQUINHA? – ele berra enquanto faz gruídos de porco. Tento calar o meu choro desesperado, mas, é impossível. Eu não consigo. Ele se agacha e me encara de modo assustador. Movo minha cabeça de um lado a outro

– Por favor, não me bate por favor – sussurro entre soluços para ele que pega meu pé com força e me puxa para fora. Fecho meus olhos com força. Sinto a ponta de algo afiado arranhar a minha pele. Abro meus olhos. Cum uma faca ele arranha minha pele até a minha barriga

– JAMES ESTA MORTO E AGORA VOCÊ VAI SER A MINHA FILHINHA OU VOCÊ ME OBEDECE OU VOCÊ MORRE! – ele berra – O QUE VOCÊ FEZ FOI ERRADO, VOCÊ DEIXOU A DROGA DO GARFO CAIR! VOCÊ É UMA MALDITA DESASTRADA! NÃO SERVE PRA NADA! – fecho meus olhos novamente. A dor. O medo. Eu não vou aguentar isso por muito tempo. Por que você foi morrer papai? Quem vai me proteger agora?

20 de Novembro de 1996

— Michael Jackson acaba de chegar a Moscou com sua equipe para seu show! – O rádio só fala nisso o dia todo. Desligo o rádio e levo os lençóis que estão em um sexto de palha até o quintal da casa nova. Essa casa não é sequer a sombra da casa que tínhamos quando papai era vivo. Essa casa é minúscula e ela está caindo aos pedaços

 Esta frio mas não vai chover de jeito nenhum. São seis da tarde já esta começando a escurecer. Sempre estendo os lençóis a essa hora porque pela manhã já vai estar seco. Pego o primeiro lençol e o estendo no varal. Não aguento mais isso

 A vida com Dimitri é um inferno. Eu não sei como a minha mãe consegue ficar com ele. Crescer com meu pai foi um grande privilegio para mim. A chegada de Dimitri em nossas vidas me fez querer a cada dia mais alguém que me proteja. Eu não preciso, mas quero, quero alguém que me ame e me proteja porque eu não aguento mais passar por esse inferno

– SUA MALDITA EU ESTOU FARTO! – de novo não. Mas que droga. Continuo estendendo os lençóis. Tento ignorar os gritos e choros da minha mãe – EU VOU EMBORA! NÃO FICO AQUI POR MAIS NENHUM SEGUNDO – ele grita. Minha mãe conta que o meu pai decidiu ficar aqui na Russia pela minha mãe. Papai é Americano, era, ele me ensinou a falar inglês, português e espanhol. E quando acontecesse alguma emergência, eu devia ir embora para Los Angeles e procurar por Petra ou River e dizer que sou filha de James Barkoff

– ANELY! – minha mãe chama por mim em um tom desesperado. Largo tudo e corro para dentro de casa. Esta tudo uma bagunça. Ela esta ajoelhada em frente a Dimitri com o rosto vermelho de tanto chorar ou de levar tapas – Anely! Olhe para ela – ela se levanta e corre para mim – ELA É JOVEM BONITA! PODE TE DAR O QUE QUER! PODE TE DAR UM FILHO! Olha o corpo dela! É lindo! – ela diz em um desespero assustador

 Dimitri se aproxima. Um pavor toma conta de mim. Sinto náuseas e uma vontade enorme de sair correndo. Ele passa a ponta dos dedos por meu rosto e desce até os meus seios. Sua enorme mão agarra meu seio esquerdo e ele morde o lábio. Eu mal consigo me mexer, eu preciso me mexer

– Nunca tinha reparado em você – ele diz aproximando mais ainda seu corpo do meu – Seu peito é tão grande que não cabe na minha mão – meu estomago se revira completamente. Dimitri se distancia e vai para as escadas. Minha mãe se senta no chão e agradece a ele por fica. Ela repete e repete que esta grata pela chance – Te quero no meu quarto, agora Anely! Eu vou te mostrar o que é um homem – ele diz enquanto sobe as escadas

– Você tem que ir! – minha mãe diz desesperada. Se levanta e vem para mim. Segura meu ombro direito e me sacode – Você precisa ir! Precisa dar o que ele quer! – ela diz em um tom firme... mas, o que?

– Mãe eu sou virgem pelo amor de Deus – sussurro confusa para ela que parece não acreditar que eu não vou fazer o que ela quer – Mãe! Isso não é justo! Não é justo eu salvar o seu casamento fracassado! Não é justo! O que aconteceu com você? Você era uma mulher implacável, fazia apenas o que queria! E agora esta oferecendo sua própria filha pro seu marido nojento e esta se ajoelhando para um homem qualquer que não coloca um centavo dentro dessa casa! Sabe quando eu vou me ajoelhar para um homem? Quando eu encontrar um homem tão incrível, mas tão incrível que eu me sinta protegida, que eu me sinta eu mesmo estando com ele! – dou um passo atrás e corro para a porta. Abro e corro. Corro o máximo que eu posso.

21 de Novembro de 1996

 Sentada na calçada abraçando as pernas junto ao meu corpo tento pensar em algo. Preciso encontrar um emprego ou posso encontrar um velho bem rico... uma crise de riso toma conta de mim. Essa ideia maluca não sai da minha cabeça. Sinto uma dor, eu não como há horas. Um carro para logo a minha frente. Me levanto. A janela abaixa um pouco

– Aqui – um homem com uma voz macia e calma me estende uma nota de 100 da janela do carro. Ando devagar até o carro. Pego a nota – Não devia estar na rua a essa hora, é perigoso – ele diz baixinho – Vá para casa ou para a casa de alguma amiga, não fique na rua é muito perigoso! – ele diz em um tom mais alto – Meu segurança pode te levar no outro carro para a casa de alguém conhecido, vá com ele por favor. Eu não vou conseguir dormir a noite sabendo que você esta por aí sozinha! – assinto e logo um segurança se aproxima

– Pode me levar para a américa? Eu tenho uma amiga que foi morar lá, ela pode me ajudar. Aqui eu não tenho ninguém – murmuro para o senhor que apenas abaixa mais um pouco do vidro. Com seus olhos profundos me encara

– Claro! Wayne! A leve no nosso avião até onde ela preferir e só a deixe quando você conhecer a tal amiga – ele diz em um tom mais firme. Dou um sorriso a ele e corro para o outro carro. O segurança orgulhoso da atitude do homem que parece ser o seu patrão, abre a porta de trás para mim. Tudo vai ser melhor daqui para frente. Na américa eu vou crescer. Vou me virar. Vou atrás da pessoa que meu pai pediu para que eu procure. Minha vida será melhor. E quanto a esse senhor. Nunca vou me esquecer de sua bondade.

Altivez | Michael JacksonΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα