Capítulo 1

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    A chuva já está se despedindo — essa que, desde o momento em que acordei, está transformando o sábado, em um dia de tédio e preguiça —, deixando para trás apenas um céu nublado. Realmente detesto dias chuvosos, a não ser quando posso ficar enrolada em minhas cobertas, junto a minha cama fofa, me levantando apenas quando tivesse vontade, o que não aconteceu hoje.

    O caminhão de mudança continua estacionado em frente aquela casa, dois homens estão descarregando os móveis, enquanto outro apenas os conduz para dentro da residência, sendo esse talvez o novo dono da casa, de aparência cansada, usando um terno preto estilo padrão e gravatas azuis, com os poucos fios de cabelos que lhe restavam, talvez seja pelo estresse, pois a julgar pela aparência, não demonstra passar dos quarenta.

    A casa foi colocada à venda um pouco mais de um mês, pelo que fiquei sabendo, a última família que morou nela, os Collins, acabaram se mudando para outra cidade. Não posso dizer que eles eram ótimos vizinhos, principalmente depois da Sra. Collins insistir para minha mãe, que eu deveria ficar de castigo, só porque — sem nenhuma intenção —, destruí seu canteiro de cravos, após sair correndo atrás de Tobby, meu beagle que ganhei no meu aniversário de onze anos, nesse dia ele saiu correndo atrás de Amy, a gatinha de estimação da Sra. Parker.

    Parece que já terminaram de descarregar os móveis, o caminhão de mudança já está se distanciando. Pela janela da sala de minha casa, vejo um carro se aproximando da mesma casa onde antes se encontrava o caminhão.

    Ao estacionar, vejo que quem estava dirigindo era uma mulher, que logo sai do carro, dando a volta pela frente do mesmo para que pudesse chegar até a calçada, ela é magra de cabelos castanhos e ondulados, vestindo uma blusa social branca junto a uma calça jeans clara que destaca bem seu corpo esguio, logo após, um garoto de cabeça baixa, olhando para o que parecia ser um celular, aparentando ter seus dezessete anos, que, por se colocar atrás da mulher, não consegui ver muito de seus detalhes, e uma garotinha, que seria a cópia exata da mulher, também com seus cabelos compridos e castanhos, usando um vestido florido cor salmão, saíram do carro, passando pelo quintal da frente se aproximando junto com a mulher, do homem que se encontra na entrada da casa, sendo esse, o que estava conduzindo os outros dois do caminhão. Essa deverá ser a nova família da vizinhança.

    Após conversarem pouco, os quatro entram em sua nova casa, fazendo com que meu dia seja novamente tomado pelo tédio.

— O que tanto olha nessa janela?  — escuto a voz de minha mãe ao meu lado.

— Os novos vizinhos — respondo sem tirar os olhos da janela. Onde agora, apenas observo a casa, que se encontra sem mais nenhuma movimentação.

— Oh! Por que não me disse antes?— pergunta ela agora com uma animação que eu já suponha do porquê seria. — Devemos dar as boas vindas! — sugere com um sorriso no rosto, que fazia suas rugas no canto dos olhos se manifestarem.

    Penso na ideia, como não tinha algo planejado para fazer durante o dia, e também pelo fato de estar curiosa sobre a nova família que acabara de se mudar, talvez não seja de todo mal a proposta de minha mãe.

— Mas antes, você tem que arrumar o seu quarto e me ajudar no almoço — disse ela sem antes mesmo de esperar pela minha opinião. Ela deposita suas mãos em meus ombros me conduzindo até às escadas. — Andando srta. Chiara — diz brincalhona.

    Solto um resmungo logo subindo as escadas, disposição e organização são duas das diversas coisas que não fazem parte de mim, meu quarto é a prova disso, uma cama desarrumada, livros e roupas espalhados por cada canto do quarto.

    Para uma adolescente de 16 anos isso é totalmente normal, a desorganização, a preguiça, o desânimo — causado principalmente pelo cansaço mental que tantos cálculos de matemática podem provocar —, mas para minha mãe, essa desculpa não cola.

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