Capítulo 14

6.1K 504 21
                                    

A parte que ignoramos é muito maior do que tudo quanto sabemos — Platão



Drystan olhou para os lados, uma capela era um lugar no mínimo inusitado para falar de coisas tão sérias quanto as que o levaram até ali. Mesmo impaciente esperou. Quando a porta se abriu, o rei Wilheim, um homem baixo e pesado, praticamente se arrastou até ele, que se levantou prontamente para fazer-lhe uma reverência, impedida por um gesto do rei.

— Se o que tem a me dizer é realmente importante, não precisamos dessas convenções — ele fez um gesto para que Drystan sentasse no banco de pedra. O duque acatou, sentando-se antes do rei, que o fez na sequência — Nosso encontro teve que ser aqui, pois era o único lugar em que Meryl — referiu-se à rainha — Não ficaria preocupada. Se me reunisse a sós com você em outro lugar, ficaria alarmada. Ela tem agido de modo estranho... — ele começou a explicar, mas resolveu ir direto ao ponto — O que houve, duque?

— Eu acredito que algo que muito ruim aconteceu com o príncipe Wilkins e a princesa Gweneth — Drystan disse de uma vez e viu a testa do homem se enrugar de preocupação — Eles saíram de Heldroch muito antes de mim, portanto, já deveriam ter chegado.

— É impossível! Meu filho estava bem escoltado — Wilheim não conseguiu acreditar que o temor da esposa convertera-se em realidade — Ele traria a princesa em segurança...

— É outro ponto estranho desta história. Ao saírem de Heldroch, além de seus homens, o rei mandou que pelo menos dez soldados os acompanhassem – Drystan estava tentando achar o melhor modo de dizer sobre os destroços encontrados.

— Certamente, ele pararam em algum lugar, uma visita a um nobre aliado. Wilkins é um bom articulador, ele pode...

— Encontrei destroços em uma ribanceira no caminho para cá — ele não conseguiu mais se conter — Sinto muito, senhor, mas não acredito que tenham desviado o caminho.

O rei se levantou nervoso. Drystan fez o mesmo, preocupado com ele, vendo-o caminhar até o pequeno altar.

— Então é assim que me agradece! — Wilheim olhou para o alto da capela — Abandonei meus deuses para isto? Para na primeira oportunidade em que tinha que guardar o meu filho, você falhar? — depois, voltou-se para Drystan que acompanhava a cena sem se intrometer — Construí uma capela a pedido de Meryl, estava disposto a encostar meu joelho neste solo rústico para trazer prosperidade ao meu reino... E o que tenho agora? Um filho desaparecido. Tem algo mais, Drystan? — diante do nervosismo, o rei abandonou de vez os protocolos. Afinal, o duque à sua frente não era tão mais velho do que o seu filho e naquele momento não era o rei quem falava, e sim o pai.

— Quanto aos destroços — Drystan disse num tom pesaroso — Tenho certeza de que uma das carruagens, pelo menos, espatifou-se na ribanceira. Não encontrei nenhum corpo, mas bastante sangue.

O rei puxou um pouco de ar, como se tivesse sido atingido por um punhal.

— Em sua experiência, Drystan, o que pode ter acontecido?

— Sinceramente, acho que foi uma emboscada. Imagino que uma das carruagens tentou fugir e saiu da estrada. Mas, não imagino a quantidade de homens que seriam necessários para levar quase vinte soldados e a outra carruagem...

— Leishter, só ele seria capaz de tal façanha... — Wilheim cerrou os punhos — Eu mesmo farei questão de matá-lo, quando puser as minhas mãos em cima dele!

— Se realmente foi obra dele, acredito que o senhor terá que disputar essa honra com o rei Cédric — Drystan comentou, pois conhecia o carinho que o rei tinha pela filha, sobretudo após a morte da rainha.

Rainha Negra (Somente Degustação)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora