Capítulo 6

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A juventude não foi feita para o prazer, mas para o desafio – Paul Claudel

A Montanha da Morte não se chamava assim, na realidade fora o povo quem se habituara a chamá-la dessa maneira e ninguém mais recordava qual era o seu nome correto. Era realmente muito difícil sobreviver a ela e, principalmente, nela. Por ser muito alta, o ar era rarefeito lá no topo e sempre muito frio, mesmo não sendo inverno.

— Impossível! — Eudine disse a si mesma. A ideia, que brincava em sua mente com uma força assustadora, esbarrava em seu ceticismo. Se fosse verdade tudo o que ouvira a respeito da montanha, mulher alguma conseguiria, ou melhor, pessoa alguma conseguiria viver lá em cima. Ainda assim, talvez ela fosse mais louca do que quem inventou a lenda, pois se lá houvesse mesmo uma mulher, ela a encontraria.

Correu o dedo no mapa, imaginando a trajetória mais curta. Havia um sem-número de caminhos para chegar ao pé da montanha, mas sabia que escolher o correto já era o primeiro passo para o sucesso da empreitada. O caminho mais curto parecia o mais fácil, porém aprendera que aparência e essência são bem diferentes. Se o escolhesse, não haveria um local onde o cavalo pudesse beber água. Ou seja, o animal chegaria exausto ao pé da montanha, isto é, se aguentasse até lá. O outro caminho que escolheu, era mais longo, margeava os locais habitados, porém, havia um lago e um rio no percurso, ou seja, de sede o cavalo não morreria.

Enrolou o mapa ao perceber que precisava ver Gwen e ajudá-la com os preparativos para a viagem, embora tivesse certeza de que ela não merecia castigo tão grande quanto casar com um príncipe como aquele.

Quis estar vestindo uma roupa mais confortável onde pudesse guardar o mapa, não aquele vestido. Ele podia não ser como os da princesa, mas também não dispunha de lugares onde pudesse colocar aquele papel tão precioso. Por esse motivo, segurou o mapa com força, pois precisaria dele.

Estava prestes a entrar na passagem secreta, quando a porta se abriu de modo abrupto. Eudine só teve tempo de encostar-se à parede, fazendo com que a fenda atrás dela desaparecesse, ao mesmo tempo em que escondia a mão com o mapa atrás do corpo. Embora estivesse olhando para baixo, não precisou de muito para saber quem havia entrado: parado a poucos metros dela, estava o homem que mais abominava, o homem de confiança do rei, o comandante e chefe de armas, Gael.

Ele trazia uma expressão dura no rosto, enquanto tentava entender como ela havia chegado até aquela câmara. Era uma espécie de biblioteca, mas em vez de livros comuns, o espaço reservava documentos importantes do reino, contratos, escrituras de terrenos e mapas. Como dote de casamento, o rei Cédric doaria algumas terras para os pais do príncipe Wilkins e, por isso, ele estava ali: para apanhar os documentos necessários à doação.

— Como entrou aqui? — ele se aproximou com passos decididos, mas Eudine não se encolheu, como ele imaginou que qualquer caça faria diante do caçador. Ao contrário, ainda encostada na parede, fitou-o, sem, em momento algum, desviar seu olhar do dele.

— Pela porta — não houve hesitação de sua parte, mesmo que, a esta altura, Gael estivesse a centímetros dela, de maneira que precisava erguer o rosto para conseguir encará-lo.

— É mentira. Não entrou por ali — ele apontou o caminho de onde viera — Tem dois soldados meus que jamais a deixariam entrar.

— Tem certeza? Posso ser bem convincente quando quero — retrucou atrevida e Gael respirou de forma mais pesada, com raiva.

— Vamos menina, diga a verdade! — ele ordenou — Não me faça perder tempo ou tomar uma atitude mais drástica.

— Sou dama de companhia da princesa, ela não permitirá que me faça nada — Eudine continuou, sem medo, o que o irritou ainda mais.

Rainha Negra (Somente Degustação)Where stories live. Discover now