Prólogo

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Quando a princesa nasceu, o reino comemorou por oito dias seguidos. Foram dias regados à dança, à música, fartos de bebida e de comida. Somente no oitavo dia, com a rainha Maeve totalmente recuperada de um parto demorado e com algumas complicações, é que o casal real compareceu às festividades e o próprio rei Cédric exibiu a pequena Gweneth diante de todos os súditos.

— Curvem-se diante de vossa futura rainha — foi o chefe das armas, Gael, quem ordenou e imediatamente todos os súditos fizeram-lhe uma reverência, desejando-lhe saúde, conscientes de que a sucessão em Heldroch devia-se à ordem de nascimento, independente do sexo da criança. Ainda que viessem novos filhos, a princesa Gweneth só não seria rainha se uma tragédia se colocasse em seu caminho.

Os anos se passaram e não vieram outros herdeiros. Gwen, como os pais a chamavam, seguiu a herdeira do trono e motivo de alegria de seus pais. A garota cresceu saudável e segura, sob os mimos de uma rainha dedicada e um sem número de criadas. Por sua vez, o rei não perdia a oportunidade de lhe demonstrar afeto e, perto de completar cinco anos, planejou o quê queria que a ela fosse ensinado, já que, como futura rainha de Heldroch, deveria portar-se como dela se esperava.

A rainha Maeve se ressentiu com uma agenda de atividades tão pesada para uma criança tão pequena, mas seu bom marido, à noite, na cama, convenceu-a de que só estava querendo o bem para ela. A rainha concordou com a agenda criada pelo rei, ainda que esta lhe afastasse um pouco de sua filha. Podia assistir, sem interferir. E como, por vezes, achava que era pedir demais que uma garotinha com cinco anos memorizasse tantas coisas, ela preferia se afastar para vê-la passar por tantas lições.

— Não vê que ela é apenas uma criança? — certa vez, enquanto assistia a uma dessas aulas, a rainha se intrometeu, dirigindo-se à dama que tentava, em vão, ensinar a criança a sentar-se direito, com as costas eretas, encostadas à cadeira. A cada tentativa, a menina se mexia e era colocada novamente na mesma posição, ameaçando chorar por não poder se mexer.

— Eu sinto muito, rainha — Avrill, a moça escolhida pelo rei, muito jovem, foi comedida em sua resposta, baixando os olhos em sinal de respeito — Apenas sigo ordens. O rei me pediu que fosse rígida, caso fosse necessário, pois estamos talhando a futura rainha.

— Então, ouça a presente rainha — Maeve olhou-a nos olhos, altiva. Não era tola, sabia muito bem o motivo pelo qual o rei a escolhera, porém não se incomodaria com isso, pelo menos não agora. O que não suportaria era que aquela mulher, ou qualquer outra pessoa escolhida para ensinar sua filha, fosse rígida com ela — Deixe-a descansar e depois recomece.

— Como quiser, senhora — Avrill fez uma pequena reverência — Com sua licença — e saiu, deixando-as sozinhas na sala destinada às refeições.

— Venha aqui, Gwen — estendeu os braços para a menina.

— Eu posso, mamãe? — a menina hesitou, com os olhos cheios de lágrimas, e a rainha Maeve sorriu e fez que sim com a cabeça.

— Claro que pode, minha filha. Venha — a garota desceu tão rápido da cadeira que, só não caiu, porque a rainha estava por perto para apanhá-la — Pronto, querida, estou aqui para te ajudar.

Neste mesmo dia, mais tarde, Maeve decidiu intervir na educação proposta para a filha e estava tão firme em sua resolução que nenhum tipo de sedução a demoveria disso. Encontrou o rei junto ao chefe de armas no salão principal do castelo. Se estivessem discutindo algo importante, ela não ouviu, pois se calaram, assim que entrou. Gael fez-lhe uma reverência, pediu licença e se retirou, deixando-os sozinhos.

— Maeve! Pensei que já havíamos falado sobre Gweneth — embora o tom do rei Cédric fosse amigável, carregava algum aborrecimento. Era óbvio que ele já estava ciente de sua intromissão.

Rainha Negra (Somente Degustação)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora