Capítulo 11

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A gratidão perfuma as grandes almas e azeda as almas pequenas — Honoré de Balzac


Se não fosse por sua determinação, Eudine teria parado mais vezes, pois não imaginava que cavalgar por tanto tempo pudesse ser tão cansativo. Mas, sempre que o cansaço ameaçava vencer, ela pensava nas palavras de Mack: três dias, se apenas parasse para dormir. Algo lhe dizia que chegar à Montanha da Morte significava encontrar o seu destino.

Enquanto eram apenas florestas, tinha cavalgado despreocupadamente; porém, quando se aproximava das vilas e aldeias, tentava margeá-las para não chamar a atenção de seus moradores. Assim como se esgueirava nos castelos, conseguiu prosseguir sem chamar a atenção, pois sabia que uma montaria daquelas poderia ser alvo de ladrões e não queria ter que desembainhar a espada tão cedo.

Permitiu-se dormir mais somente no último dia de viagem, quando já havia saído novamente da área habitada, acomodando-se em uma floresta, a penúltima segundo o mapa, após achar um lugar propício para acampar, próximo a um lago.

A capa, que vinha lhe servindo muito bem, nestas horas virava uma cama. Não era confortável, mas Eudine não se preocupava com isso, já que, pela primeira vez, sentia-se livre.

O sol começara a despontar, quando foi despertada por um barulho que a deixou alerta. A impressão era de vozes não muito distantes. Embora não tivesse escolhido um local que poderia ser facilmente descoberto, temeu que alguém estivesse prestes a encontrá-la. Assim, levantou-se imediatamente e a primeira providência a tomar foi verificar se Melt continuava amarrado onde o deixara.

Com certo alivio, percebeu que não haviam chegado a ela, pelo menos ainda. Visto que os barulhos não cessaram, resolveu investigar de onde vinham. Para isso, apanhou o punhal e a espada que Hank habilmente havia prendido na sela, colocando o primeiro na cintura e levando a última na aljava, presa às costas.

Com cuidado para não pisar em nenhum graveto, esgueirou-se entre os arbustos como se aquele fosse seu habitat natural. Na medida em que andava, as vozes tornavam-se mais nítidas. Pôde distinguir algumas vozes masculinas, mas não soube dizer quantas.

— Devíamos acabar com isso de uma vez por todas!

— Não foi a ordem que recebemos.

— Qual a diferença entre matá-lo aqui ou matá-lo lá? — um dos homens se exaltou e a palavra "matá-lo" fez com que ela criasse as piores expectativas possíveis. Mesmo achando que o mais correto fosse voltar ao lugar de onde havia saído, Eudine continuou.

Finalmente posicionou-se em um lugar onde pôde ver o que acontecia. Um pouco mais à frente de onde estava, havia um homem encostado a uma árvore. Conforme pôde perceber, ele estava amordaçado e tinha as mãos e os pés amarrados. Mesmo sentado, era possível perceber que tinha a compleição física avantajada e, pelo jeito, havia sido necessário os quatro homens, os donos das vozes, para apanhá-lo. Mesmo sem conhecer o motivo daquilo, ela achou extremamente injusta a situação: afinal, eram quatro contra um e, cedo ou tarde, dariam cabo dele. O homem morreria de um modo injusto e de forma alguma podia compactuar com aquilo.

Enquanto os quatro discutiam o destino do prisioneiro de costas para ele, Eudine olhou em volta. Esperou que não houvesse um quinto homem escondido, assim talvez fosse possível se aproximar sem ser percebida ou a percebessem no primeiro movimento que fizesse em direção ao prisioneiro. Ainda assim resolveu arriscar.

Devagar, escolhendo onde pisar, ela se aproximou devagar, agachada. Mais uma vez, durante aquela viagem, usou sua habilidade de se deslocar sem chamar atenção. Verdade que não havia paredes para encobri-la, porém, nem mesmo quando estava dentro das passagens secretas, podia se dar ao luxo de fazer barulho.

Rainha Negra (Somente Degustação)जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें