Capítulo 13

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Quando se consegue alguma coisa que se deseja, é muito bom deixá-la onde está — Winston Churchill



Eudine sentiu um cheiro forte e persistente, antes de começar a abrir os olhos. A vista estava embaçada. Olhou em volta, tentando reconhecer o lugar onde estava, entretanto quase não havia luz. Será que morrer era isso? Pelo menos não sentia mais frio.

Os lobos, ela se recordou e teve um sobressalto. Forçou a vista novamente e esta foi se adaptando a escuridão, conseguindo distinguir formas, ou seriam vultos? Quando finalmente conseguiu entender a imagem que se formava, sentou-se bruscamente, batendo a cabeça em algo.

— Estou morta? — repetiu para si mesma, esfregando o lugar que batera.

— Se estivesse, não sentiria dor — a resposta a fez estremecer. Era uma voz feminina, dona de um tom firme e seguro que, simultaneamente, assustou-a e a acalmou.

— Então, por qual motivo não enxergo nada além de vultos e sombras? — ela ousou dar continuidade àquela conversa, mesmo sabendo que poderia ser apenas obra de sua imaginação.

— Foi preciso. Ao escolher estar aqui, escolheu também ver além. Logo, a sua visão anterior era insuficiente. Daqui a pouco, quando recobrar a visão, finalmente enxergará as coisas como elas são — a dona da voz respondeu calmamente e embora aquilo soasse como um enigma, Eudine não a questionou a respeito do que tinha ouvido, mas da dedução a que chegara.

— Quer dizer então, que você é a pessoa sobre a qual tanto falam? A feiticeira que vive no cume da montanha? — ansiosa, quis saber — Se eu sucumbi à montanha, como exatamente consegui esta audiência? Pelo que me disseram, teria que vencer a subida e não o fiz.

— Vencer a subida pode significar manter-se viva e isto você fez. Além disso, eu já esperava por você – a voz continuou segura – Na verdade, eu a esperava desde o dia em que nasceu. Sabia exatamente que viria. Acho que esse tempo todo estive aqui à sua espera.

— Como é possível? — Eudine retirou a mão do local onde havia batido a cabeça. Sentiu que havia algo de estranho, mas não soube determinar o que era.

— Aos poucos, eu te explicarei tudo. Agora, se quiser recuperar a visão. É preciso que repouse mais um pouco e, quando acordar, sua visão já terá voltado.

Com milhões de perguntas brincando em seu pensamento, Eudine achou que fosse impossível dormir. Mas, ainda assim, seguiu a recomendação e voltou a se deitar. Foi impressionante a maneira como o sono a envolveu, antes mesmo que ela pudesse pensar na primeira palavra que tinha escutado.

Acordou novamente com um uivo alto e próximo e quando abriu os olhos, assustou-se, pois a primeira coisa que viu foi o focinho no animal, tão próximo, que bastaria abrir a boca para acabar com ela. Teria acreditado que a conversa anterior fosse mais uma alucinação e ela continuava deitada na montanha, se não visse, olhando além do animal, o teto da casa.

—Deixe-a em paz, Cyl — Eudine procurou de onde veio o comando que fez o animal recuar e se afastar dela. A mulher estava no lado oposto de onde estava deitada. Vestida com peles que pareciam ser de urso. Tinha o cabelo branco, embora seu rosto fosse jovem. Talvez um pouco mais velha do que Lady Macge — Que bom que acordou, Eudine.

— Não te disse meu nome — Eudine disse sentou-se com cuidado — Descobriu-o através de magia?

— Eu me chamo Igraine — a mulher manteve o mesmo tom de voz — Você disse seu nome, enquanto delirava, eu apenas o guardei na memória.

— Como cheguei até aqui? — finalmente acreditou que estava tendo aquela conversa.

— Cyl e Vilya — Igraine apontou os dois lobos, um acinzentado, o que recuara, e o outro preto, bem maior — Chegou aqui com a ajuda dos dois. Eles a puxaram até aqui. Talvez isso explique, caso tenha arranhões ou machucados pelo corpo. O solo pode ser traiçoeiro.

Rainha Negra (Somente Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora