Capítulo 9

6.5K 547 28
                                    

A decepção é filha da expectativa – Dioclécio



Drystan caminhou decidido por entre os corredores do castelo. Parecia que somente ao descer da carruagem a vida retornara à fortaleza. Assim que pisou no castelo, Gael veio ao seu encontro.

— Duque Ash, seja bem-vindo — Gael demonstrou seu respeito, com uma pequena reverencia. O movimento deveria existir, mas não podia ser parecida com aquele feito ao rei.

— Eu tenho dúvidas quanto a isso, Gael. Fui recepcionado por um cavaleiro inconsequente que quase me tirou a vida — não se deteve para conversar com o chefe de armas, pois sabia que o rei o estava esperando.

— Meus homens me relataram o acontecimento, prometo... — Gael começou, mas foi interrompido.

— Não desejo promessas e sim soluções — continuou caminhando — Por ora, prefiro tratar com o rei de assuntos mais importantes.

— Ele o aguarda — Gael entendeu o recado e não insistiu. Apenas o acompanhou em silêncio.

O chefe da guarda desgostava de Drystan por um motivo diverso do que desgostava de Wilkins. Um não era príncipe, mas comportava-se como tal e o outro, sendo-o, não tinha nem postura, nem a coragem que a posição demandava. Drystan, por sua vez, era bom no manejo da espada e quando o reino precisou, comandou seus homens, deixando claro que daria a vida por Heldroch se fosse preciso. Conseguiu, assim, a admiração do rei que seria capaz de lhe dar a mão da própria filha, caso ela não estivesse prometida a Wilkins. O que teria sido constrangedor, porque, por mais bonita que fosse a princesa, ela não lhe interessava.

Na última primavera, Gweneth havia viajado até o seu ducado, na companhia do pai. O motivo da viagem fora fortalecer os laços entre as famílias e presentear o pai de Drystan, até então o duque, com uma boa quantidade de terra, em reconhecimento por todo o apoio prestado. Nesta visita, tornou-o seu principal aliado.

Fora naquela ocasião que Drystan conhecera Eudine. Na realidade, ela nunca chegou a saber que ele era filho do duque, pois, encontraram-se nos arredores do castelo.

— Não deveria estar aqui — apesar do tom de advertência, não conseguiu desviar os olhos dela.

— Do mesmo modo que não deveria olhar fixamente para a minha cicatriz. As pessoas fingem melhor do que você — Eudine afiada fez com que ele sorrisse e desviasse o olhar. Na verdade, não fora a cicatriz que o impressionara, mas sim o fato desta não conseguir ofuscar sua beleza.

— Desculpe-me se fui indiscreto – ele preferiu não revelar o motivo de seu olhar fixo – Apenas achei que fizesse parte da corte do rei Cédric e, como tal, deveria estar lá dentro.

— Ser dama de companhia não é propriamente fazer parte da corte — Eudine deu de ombros — E entre estar aqui e ficar parada lá ouvindo conversas que não me interessam, eu prefiro a primeira opção.

— Não fala como uma dama de companhia — Drystan constatou e sorriu mais uma vez.

— Como é que uma dama de companhia deveria falar? — ela o provocou — Porque, no meu parco conhecimento, quanto menos falarmos, melhor.

— É uma boa observação — Drystan cruzou os braços — Considerando que você não a cumpre.

Eudine olhou-o dos pés a cabeça. Drystan tinha acabado de chegar de uma caçada e sua intenção era entrar pela ala sul do castelo, colocar-se apresentável para poder aparecer diante do rei. Por isso, estava suado, trazia a camisa fora das calças e os cabelos estavam bagunçados, tendo alguns fios presos à testa suada. Desviou o olhar, quando notou que ele percebeu o exame que fazia.

Rainha Negra (Somente Degustação)Where stories live. Discover now