Capítulo 5

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A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original. – Albert Einstein


O príncipe Wilkins era alto e magro, dono de um rosto quadrado e ossudo. Não era bonito, mas tinha uma expressão marcante. Aquela magnitude talvez fosse herança de sua origem nobre. Sabia conversar bem, embora soasse quase infantil, quando falava sobre guerra, pois jamais tinha se aventurado em qualquer empresa bélica que fosse. Enquanto ele falava, Eudine não pode deixar de notar a expressão enfadada de Gael. Era notório que ele não lhe tinha apreço, mas daqui a algum tempo, receberia ordens suas e as faria cumprir, por mais imaturas que fossem.

A mesa do jantar era farta com muitas massas, frutas e carne de carneiro. O certo era Eudine permanecer em pé, a alguns passos atrás da mesa, ou, no máximo, sentar-se em um banco, em uma mesa separada. No entanto, não era isso o que acontecia. Sempre se sentava à mesa, em uma cadeira, desde os tempos da rainha Maeve. Depois da morte dela, o rei Cédric manteve tudo como estava, deixando-a permanecer, afinal, não queria contrariar os gostos de sua esposa, mesmo que ela já tivesse morrido.

Ele nunca conseguiu entender o afeto que a rainha dedicou à garota, mas jamais interferiu. Se a presença de Eudine a fazia feliz de alguma forma, só restava a ele concordar. No entanto, nunca conseguiu se aproximar da garota. Muito, também, por conta da rainha que o fizera sentir-se o pior dos homens ao saber que ela havia sido arrancada da família e comprada como uma mercadoria. O rei mandou que procurassem os andarilhos, mas estes nunca foram achados, o que causou uma grande mágoa em Maeve e, pela primeira vez, balançou as estruturas de um relacionamento considerado perfeito. Sua tão querida esposa – que o destino lhe conferira, já que era um jogo de azar casamentos planejados pelos pais dos noivos – jamais foi a mesma, deixando claro que se quebrara um dos pilares fundamentais daquele casamento: a sua admiração incondicional por ele.

— Não acho realmente que haja perigo — Gael respondeu com firmeza à insinuação do tolo príncipe de que a volta ao seu reino era uma oportunidade para um ataque inimigo — Leishter não ousaria atacar. Não é assim que ele age.

— O homem é um louco. Saqueia a queima as aldeias, não é possível prever como age — Wilkins rebateu, expondo o seu orgulho ferido ao ser contestado na frente de todos, inclusive da noiva, que ficou um pouco incomodada com a possibilidade de correrem perigo.

— Pode ser, mas a horda que ele lidera nunca foi pega porque ele é organizado. Saberá que haverá escolta e não ousará atacar. Um bando de ladrões e párias não é suficiente para lidar com homens treinados por mim — Gael manteve o mesmo tom — Ele sabe disso.

O rei Cédric, percebendo que aquela discussão se prolongaria, resolveu intervir.

— Para que não haja temor, Gael, dobre o número de homens para acompanhá-los. Quero que usem a cor do reino e o escudo, para deixar bem claro quem está passando e a quem devem temer, caso ousem se aproximar com outras intenções — político, não contradisse nenhum dos dois.

— Sim, senhor — Gael deixou claro que acataria a ordem e, dirigindo-se somente ao rei — Posso eu mesmo chefiar a escolta...

— Entendo a preocupação do príncipe, porque aquela carruagem levará dois reinos, entretanto preciso de você aqui, Gael. Tenho certeza de que escolherá os melhores para levarem e trazerem minha filha em segurança.

— Não tenha dúvidas, senhor — o chefe das armas demonstrou segurança.

Eudine assistia a cena, sem prestar atenção ao que era dito ali, detendo-se nos detalhes. Percebeu, por exemplo, a troca de olhares entre Lady Macge e o homem que acabara de falar. Um leve desapontamento? Não soube dizer, mas ela iria e ele não. Depois do que tinha visto, tinha certeza de que aqueles dois teriam coragem de se refastelar ainda mais em um reino distante.

Rainha Negra (Somente Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora