Capítulo 10

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A mentira é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais — Fiódor Dostoiévski



— Está me dizendo que uma moça deixou o castelo e ninguém sabe de nada? — o rei encarou todas as serviçais que estavam perfiladas e elas, como se estivessem ensaiadas, abaixaram a cabeça, sem ter o que dizer.

— Perdoe-me a intromissão, majestade — Gael aproximou-se com cautela — Está falando com as pessoas que menos conhecem Eudine neste castelo — ele fez questão de recordá-lo — Desde que ela veio para o castelo, não houve um dia sequer que fora tratada como criada, de modo que não tem muito contato com elas.

— E devo perguntar a quem, então? Ao vento? — Cédric abriu os braços — Você tem ideia do constrangimento pelo qual estou passando Gael? Drystan não é só um duque, ele é o filho do maior aliado que já tive. Dei a minha palavra que poderia cortejar Eudine, alguém que nem nobre é, e ela simplesmente desaparece!

— Entendo perfeitamente, senhor, no entanto as criadas não darão a resposta que deseja — Gael sentiu-se tentado a falar que sabia onde a dama de companhia havia ido, mas pensou melhor, ao se recordar de seu envolvimento com Lady Mcge — Eu trarei a resposta que o senhor deseja — prometeu — Se me der carta branca para agir.

— Nunca fiz menos do que isto, Gael. Sabe o quanto confio em você. Portanto, faça o que tiver de fazer, contanto que eu possa dar uma satisfação para Drystan.

— Sim senhor — Gael fez-lhe uma reverência e pediu permissão para se retirar.

Eudine podia ser atrevida e inteligente, entretanto sozinha não conseguiria ir longe, precisava de um meio de sair do castelo. Afinal, sem alianças, era impossível realizar qualquer coisa que fosse.

Gael não estava no posto de confiança à toa. Sabia, antes de tudo, preencher as lacunas e deduzir o óbvio. Somou o desaparecimento da garota ao episódio relatado por um de seus soldados e a equação revelou-se perfeitamente: o tal cavaleiro só podia ser Eudine.

Com esta certeza em mente, deduziu que ela tinha como aliado o mesmo cavalariço responsável pelo acidente que a deixara marcada para sempre. O que era uma ironia, pois, se estivesse no lugar dela, o único posto ocupado por aquele rapaz seria de seu principal inimigo. Não entendia, portanto, como podiam ser cúmplices.

Enquanto caminhava para os estábulos, Gael pensou que, talvez, era assim que o jovem cavalariço o via: um inimigo. Não tivera a intenção, mas acabara exagerando no castigo, deixando-o com um problema nas pernas do qual jamais se livraria. Porém, não tinha culpa se o rapaz era um fraco. Estava acostumado a castigar homens de fibra que não envergavam ao primeiro golpe e que não imploravam por clemência. Quanto mais o cavalariço rogava e chorava, mais era castigado. E, então, como se isso não fosse suficiente, após surrá-lo, entregou-lhe uma espada e insistiu que agisse como um homem e duelasse contra ele. Era evidente que Mack não era bom com espadas e estava tão ferido que mal conseguia levantá-la. Mas, Gael não permitiu que desistisse. Obrigou-o a lutar mesmo assim.

Mack golpeara o ar nas duas únicas tentativas de acertá-lo. Gael, não deixou que tentasse a terceira. Com habilidade, fingiu que atacaria o flanco esquerdo do rapaz, e quando este preparou para se defender, girou rapidamente, abaixando-se um pouco, o suficiente para atingi-lo na altura do joelho direito.

A dor foi tanta que o jovem deixou cair a espada e desabou no chão. A lâmina fez-lhe um corte profundo. Quando Gael viu a poça de sangue formar-se abaixo da perna do rapaz, finalmente deu por fim o castigo, ordenando que os soldados levassem o cavalariço dali para que pudesse receber os cuidados. Mack não morreu, mas se tornou coxo e um exemplo, para todo o reino, de como as faltas graves seriam tratadas.

Rainha Negra (Somente Degustação)Where stories live. Discover now