Capítulo 7

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A melhor visão é a intuição – Thomas Edison



A carruagem já estava pronta para deixar o reino e já o teria feito se a princesa Gwen tivesse aparecido para entrar nela. Sentado, o príncipe Wilkins batia os dedos no banco e o próprio rei Cédric, à porta da carruagem, andava de um lado para o outro.

— Onde minha filha está? — o rei se aproximou de Avrill e ela o olhou alarmada, por não saber a resposta – Pensei que lhe ensinasse coisas como esta, Lady?

— Ensino, senhor — abaixou os olhos. Cédric costumava tratá-la com certa frieza, quando estavam diante de outras pessoas e só lhe demonstrava algum carinho, quando estavam sozinhos. Isso a deixava mortalmente abatida. Sabia, por exemplo, que todo o reino zombava de sua ligação com o monarca, porque jamais esse envolvimento seria oficial.

— Ela está com a dama de companhia — Gael aproximou-se devagar e evitou olhar para Lady Macge por ela estar ao lado do rei. Após ter ouvido as ameaças da jovem serviçal, não tivera cabeça para procurar a dama. Logo, não conseguiu despedir-se dela da única maneira que achava adequada.

— O que há de tão importante para fazerem que ainda não saiu? — foi mais um lamento do que uma pergunta. Ainda assim, Avrill dirigiu-se a ele.

— Sabe que se gostam como irmãs e será a primeira viagem de Gwen sem a Eudine. Natural que se demorem nas despedidas.

— O que chama normal, vejo como desrespeito – o príncipe saiu da carruagem — Dar atenção a uma serviçal e se esquecer de mim, que sou seu futuro marido, é imperdoável – Wilkin recordou-se do episódio durante a refeição. Não havia se esquecido da maneira como Eudine reagira e havia prometido a si mesmo que, quando fosse rei, cobraria uma taxa muito maior pelo ultraje sofrido. Ela haveria de ser dele, nem que tivesse que feri-la para isso.

Enquanto isso, no aposento da princesa, Eudine a impedia mais uma vez de abrir a porta.

— Por favor, Eudine, você está me assustando.

— Só estou pedindo que não vá, Gwen — Eudine parou diante da porta — Eu tive um pressentimento muito ruim. Algo que não sei explicar, mas que está apertando o meu coração... Sabe muito bem que eu não sou de sonhar e desta vez foi diferente.

— Sim, já perdi a conta de quantas vezes me contou seu sonho estranho. No entanto, foi apenas isto: um sonho, Dimm. As minhas únicas lágrimas serão de alegria, quando for responsável pela união dos dois reinos.

— O príncipe não serve pra você, Gwen. Ele só trará infelicidade e nem lhe será fiel!

— Além de sonhos premonitórios, agora tem visões do que está por vir? — Gwen balançou a cabeça, sem acreditar que estavam tendo aquela conversa — Eu sei porque quer que eu fique. Porque está com medo do tal nobre que virá reclamá-la como esposa. Pois, eu garanto que está com medo à toa. Meu pai prometeu que não dará sua mão para um nobre inferior...

— Não estou pensando nisso, muito menos com medo! — Eudine protestou — Quer dizer, não temo por mim, mas sim por você.

— Deve temer mesmo. Está fazendo com que eu falte ao respeito com o meu futuro marido, deixando-o plantado a me esperar — fez um gesto para que Eudine a deixasse passar.

— A vida é mais do que regras de etiqueta, Gwen. Como herdeira do trono, deveria saber disso — Eudine deu um passo para o lado para deixá-la passar.

— É justamente por saber disso que preciso ir — por segundos, Eudine conseguiu ver no rosto dela, a expressão da rainha Maeve — Por favor, estou contando com você para cuidar do meu pai, você sabe como ele é sozinho.

Eudine pensou que com a ida de Lady Macge ele seria mais ainda. Porém, preferiu guardar para si mesma.

— E se houver homens de Leishter no caminho? — Eudine insistiu, enquanto caminhava atrás da princesa.

— Nem parece que estava presente ao jantar em que Gael disse que estaríamos seguros e que nossa escolta seria reforçada! — Gwen apressou o passo, fazendo com que Eudine também aumentasse o ritmo para poder acompanhá-la.

Gwen ergueu a barra do vestido para poder descer as escadas de forma mais rápida.

— Quando começar a sentir a minha falta, estarei de volta — ao pisar no último degrau caminhou mais devagar — Aí verá que tudo não passou de um sonho ruim. Apenas isso — vislumbrou a grande saída do castelo. Voltou a apressar o passo, mas deteve-se, antes de atravessá-la — Preciso que me prometa algo, enquanto eu estiver fora — virou-se para Eudine.

— Se estiver a meu alcance! — Eudine cruzou os braços para escutar o pedido.

— Espero que se comporte e que controle a sua língua para não desrespeitar o duque. E, além disso, deve aceitá-lo. Promete? — apesar de seu tom sério, Eudine deu de ombros — Dimm! — Gwen insistiu.

— Prometo não dizer nada que desagrade o duque. E também prometo não lhe faltar ao respeito — foi sincera e viu o sorriso iluminar o rosto da princesa.

— E quanto a aceitá-lo? — Gwen quis saber.

— Não quero mentir para você, por isso, prefiro não responder a essa pergunta.

—Tudo bem, Dimm. Se conseguir ficar de boca fechada e respeitar o duque, o restante acontecerá normalmente.

Gwen sorriu e se desfez de seu temor quanto à visita do nobre, pois, se havia uma coisa que tinha certeza em relação à Eudine e que ela não quebrava suas promessas. Por isso, satisfeita com a resposta, inclinou-se e deu um beijo no rosto de sua amiga-irmã-dama de companhia. Eudine ainda quis se virar para que o beijo fosse dado em seu lado bom, mas Gwen não permitiu.

Eudine fechou os olhos ao vê-la sair em direção ao local onde a carruagem real e a outra, que levaria Lady Macge e alguns presentes para os pais de Wilkins, estavam paradas. Esperava sinceramente que estivesse errada em sua intuição.

Quanto às promessas que fizera para a princesa, Eudine pretendia cumpri-las. Na verdade, seria muito fácil manter-se fiel ao que dissera para Gwen. Para isso, bastava não se encontrar com o duque. Sendo assim, não esperaria nem um dia a mais. Logo que a noite ameaçasse cair, ela apanharia um cavalo com Mack e deixaria Heldroch em direção à Montanha da Morte.

Rainha Negra (Somente Degustação)Where stories live. Discover now