Capítulo 1

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Annabelle Ferraro tomou o primeiro gole do seu capuccino, recostando a cabeça no assento do motorista. Soltou um longo suspiro tentando relaxar todos os músculos de seu corpo. Ela estava entediada, e isso se enquadrava a todas as suas últimas missões. Era difícil lembrar-se da última vez que algo realmente a desafiara.

Reconhecia, entretanto, que não se tratava exclusivamente do seu trabalho. A maior parte das pessoas já teria sofrido um ataque do coração, ou dado um fim à própria vida. Era sua culpa. Sempre preparada para o pior, o inimaginável, o imprevisível. Era mais do que provável que nenhuma missão a satisfizesse.

Houve alguns pontos altos em toda sua vida de espiã/agente/criminosa... Ela não estava muito certa a qual grupo pertencia. A única certeza que possuía era a de que nunca havia visto alguém tão bom quanto ela no que faz, e essa constatação a deixava, de fato, orgulhosa.

O verdadeiro alvo de sua perseguição deixou o café, firmemente preso entre os dedos do homem que o carregava: a maleta preta; o motivo de Annabelle estar ali. Durante sua caminhada até o carro, ela permitiu-se pensar em como um cientista e professor de renome como aquele dava-se ao luxo de caminhar livremente pelas ruas de Boston, em posse de uma maleta com conteúdo tão valioso.

Aquele movimento de vai e vem feito pelos passos mancos do homem ― a cirurgia no joelho esquerdo, após um pequeno acidente doméstico, deixou essa sequela ― fazia com que a maleta dançasse aos olhos de Annabelle. O que haveria ali dentro? Ela mordeu a lateral do dedo indicador e estreitou os olhos, deixando o pensamento permanecer por mais alguns segundos em sua mente. Giancarlo não ficaria feliz em saber que ela estava fazendo esse tipo de questionamento. Aquilo tampouco lhe interessava realmente. Annabelle não era do tipo que fazia perguntas.

O homem finalmente abriu a porta de seu carro e, enquanto dava partida, ela olhou mais uma vez para o arquivo que continha as informações de que necessitava. A foto de duas crianças loirinhas correndo do pai se destacava em meio às outras. Não precisar matá-lo naquela noite era algo muito bom. Deixar garotinhas órfãs, talvez, fosse a única coisa da qual Annabelle se ressentiria.

Alexander Whitehill amava estar em serviço. Cada parte... a pesquisa, o estudo, o plano e a prática. A prática era, com toda certeza, o que ele mais gostava. Apesar de que aquele fim de tarde não oferecia muita adrenalina ao seu corpo bem esculpido e treinado.

Ele estava sentado em sua moto há quase quinze minutos, em plena sexta-feira, esperando por um alvo que sequer ofereceria resistência. Olhou mais uma vez para dentro da cafeteria e revirou os olhos, afinal, quem perderia tanto tempo escolhendo um simples café?

O cientista finalmente saiu, e Alexander preparou-se para dar partida na moto, quando notou algo estranho. O carro que estava estacionado atrás do veículo do alvo começava a se movimentar pela rua. Não, aquilo não seria possível... Quem além do F.B.I estaria interessado naquela maleta? Ele teria sido informado de qualquer organização que, por mais remotamente que pudesse ser, desejasse aquele conteúdo, e estaria bem preparado para quem quer que fosse.

No entanto, ninguém havia demonstrado interesse. Alexander possuía Daniel para lhe assegurar aquilo. Mas se tinha alguma coisa que ele aprendera com seu pai, o falecido Matthew, é que não se deve ignorar uma intuição em serviço. Se naquele carro estivesse alguém interessado na maleta, era primordial que não descobrisse que havia mais alguém na jogada. Ele.

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