Matthew verteu álcool no ferimento causado pelo tiro no braço direito, fazendo a dor pulsante que antes o acompanhara durante a viagem dar lugar a uma sensação de atear fogo ao próprio corpo.
O que era bem parecido com o inferno particular que sua vida se tornara e ao qual já estava mais do que acostumado.
Não se importava com as dores físicas.
A que sentiu, no entanto, assim que o projétil atingiu sua carne, Matthew não estava muito certo se poderia esquecer.
Quem diria que um tiro de raspão fosse figurar no topo da lista de coisas que doíam mais.
A imagem que o retrovisor da motocicleta refletira.
Alexander empunhando a arma de fogo.
O alvo? Ele.Matthew tentou desviar, com eficiência, aplicando um zigue e zague sem constância.
Mas seu menino era muito bom.
E era controversa a forma como aquilo o enchia de orgulho.
Claro que Alexander não poderia saber que atirara justamente nele, seu pai, um pai que deveria estar morto há 17 anos. Ainda assim, a percepção doía.
Matthew bufou, encarando a própria figura no espelho. Os olhos verdes vermelhos, as bolsas escuras abaixo deles.
Levar um tiro no lugar do filho é uma coisa que o Whitehill faria sem hesitar, mas nunca havia cogitado levar um tiro vindo do próprio Alexander.
Matthew olhou para o sangue que manchava o mármore branco da pia, diluindo-se a água corrente, empossando-se no ralo. Aquele sangue que Alexander derramara, também corria em suas veias.
Matthew socou a bancada, uma, duas, e ainda assim, parecendo insuficiente, arriscou um terceiro soco, e um novo ferimento a ser cuidado.
— Maldita, Ferraro. Maldita seja!
Porque tudo aquilo era culpa dela.
Que Matthew já estava preocupado com o relacionamento dos dois, era evidente. Tudo o que fizera até aquele ponto fora pensando naquilo. Ou melhor, em acabar com aquilo.
Lembrando do que presenciou mais cedo naquele dia quando os dois saíram do apartamento da mafiosa, o modo como Alexander assumira a direção do veículo e, então, mais tarde, o modo determinado como o seu filho sacara aquela arma, e disparara contra ele... Matthew tinha a certeza de algo que já desconfiava:
Alexander tinha caído na teia tecida por Annabelle Ferraro.
E agora era a hora de Matthew parar de usar cartas brancas.
Ignorando os utensílios que o esperavam para uma realizar um curativo improvisado, Matthew pegou o celular no bolso da calça.
Buscou o nome de um subalterno, discando e dizendo as ordens do que precisava ser arranjado. A ligação objetiva acabou, e Matthew cedeu a atenção para seu ferimento no braço direito. A pele dilacerada onde a bala alcançou.
Tinha que ser cauteloso. Ainda que estivesse farto das intenções pouco claras de Annabelle para com seu menino, mexer com a Ferraro seria como cutucar um ninho de vespas.
E não teria volta.
Não poderia deixar a máfia russa de fora daquilo por muito tempo, porém tinha que conseguir fazê-lo, por enquanto.
Mordeu uma toalha enquanto vertia álcool em uma atadura, levando-a até o ferimento e esfregando a área, para se livrar dos pequenos fragmentos de couro da jaqueta que ainda estavam ali. Matthew urrou, parando por alguns segundos enquanto sentia o suor encharcar os cabelos loiros e brancos da nuca.
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Rede de Segredos
RomanceAnnabelle De Angelis Ferraro, nascida à sombra da criminalidade, possuía um futuro brilhante traçado por seu tio: o comando da máfia italiana. Criada para ser fria e calculista, ela é a verdadeira arma de ouro da organização. O que Annabelle não con...