Capítulo 48

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Para casa.

Quando aquelas duas palavras passaram a incluir Annabelle?

Mas ali estava ela, na casa dele, depois de uma noite inteira de sono na cama dele.

O mais estranho é que quando se referiu a ir para casa não pensara no próprio apartamento. Só se dera conta de que precisaria de alguns itens que estavam nele quando chegaram a Boston. Annabelle, com sua mochila e um par de roupas a mais nem mesmo levantou qualquer discordância sobre o destino.

Ela tinha coisas mais urgentes com o que se preocupar.

Alexander nunca fora impulsivo, mas ao que parecia isso mudara quando Annabelle Ferraro entrou em sua vida. No mínimo, a premissa mudara no que dizia respeito a ela.

Desde que a conhecera, ele tomara atitudes pouco apropriadas com o agente federal que sempre almejou ser, pouco condizentes com a lei. Annabelle quebrara todas as barreiras dele, ainda que Alexander não soubesse que haviam barreiras a serem quebradas.

A grande ironia era: Ela parecia não ter consciência daquilo.

Ele a observou, sentada na beirada da sua cama depois de subir o fecho da bota preta. Ainda não se acostumara a mulher em meio a decoração de seu quarto, ainda que fosse a melhor visão que ele pudesse pensar em pedir. Annabelle não parecia se importar com aquela mudança de cenário, mas se fosse justo, aquele pensamento deveria estar no fim da lista de prioridades no momento.

Ela aparentava normalidade, como se sua vida não tivesse sido chacoalhada e virada de ponta cabeça no dia anterior. Mas ele a conhecia bem demais, percebeu, com um sorriso triste tomando-lhe as feições.

Já vestida e sem ter o que fazer a não ser esperar por ele, ela começou a brincar sem parar com o anel no dedo anelar, girando-o inúmeras vezes e só fazia aquilo quando lidava com algo ao qual não tinha uma resposta, que não sabia resolver.

Alexander estava respeitando aquele comportamento, porque intuiu que era o que a mafiosa precisava. Ele mesmo se vira dentro de um buraco negro enquanto tentava absorver todas as informações que lhe foram passadas e fazer deduções sobre elas.

Quando chegaram de Hyannis, no dia anterior, Annabelle marcara um encontro com Lorenza e Giovanna, sem que as duas soubessem sobre a presença da outra. Ela não queria dar a Lorenza a possibilidade de intuir qual seria o cerne da conversa, e Alexander concordara, achando aquele movimento muito inteligente, porque a probabilidade de que a verdade saísse da avó de Annabelle quando ela não estivesse preparada para a conversa que elas teriam, era maior.

Lorenza chegaria antes no prédio que Annabelle dividia com Giovanna. Vetra parecia ter um compromisso e só apareceria mais tarde.

Por mais que estivesse empático sobre a bomba que cairia no colo de Giovanna dali algumas horas, o que perturbava mesmo Alexander era o que a espera por aquela conversa estava fazendo com Annabelle. A verdade é que ele queria estar lá com ela, ainda que desconfiasse que a mafiosa seria reticente a sua presença. No entanto, ele não tinha essa opção. Finalmente, depois de todo o tempo cedido para a sua recuperação ele estava prestes a ser reintegrado ao FBI.

Não poderia haver pior momento.

— Se atrasando de propósito para o grande dia, federal?

A voz dela o pegou de baixa guarda, enquanto ele lutava com a gravata. Nunca tivera problemas em fazer o nó antes. Mas havia essa urgência crescendo nele, que não sabia explicar bem.

A mafiosa entrou em seu campo de visão, os dedos ágeis tomando o lugar dos dele enquanto ela trabalhava com a gravata.

Uma ruga entre as sobrancelhas pretas.

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