Capítulo 33

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Matthew Whitehill analisava atentamente os documentos a sua frente. A pilha de folhas com mais números que letras tratava-se de uma contabilidade trivial sobre recentes gastos e investimentos da máfia russa, e o homem já tirava de letra aquele tipo de serviço, entretanto matinha seus olhos atentos a qualquer vírgula e algarismo minimamente duvidoso.

Aprendera com sua experiência que contadores nem sempre são confiáveis e a sua função dentro da máfia russa era, de certa forma, não deixar nada de errado passar. Cargo estimado por muitos, e enaltecido por seus "chefes". Mas Matthew não se enganava... Seu cargo era apenas o do famoso "faz tudo" e se as coisas ficassem sujas e fedessem era ele que sempre teria que limpá-las.

O Whitehill estava tão cansado daquilo tudo. E o estado de espírito o perseguia há anos, mas, como toda rotina, Matthew acostumou-se com aquilo. Acostumou-se a se sentir fatigado. E então, como toda pessoa atrelada a uma zona de conforto, ele estacou. Mesmo que, a "zona" em que o Whitehill se encontrava não fosse de longe confortável.

O problema de fato era que: Ele não tinha uma opção. Ele não possuía o poder de mudar o destino traçado para ele e a única maneira de se ver livre daquele inferno pessoal diário seria dando um fim a própria vida. E Matthew não chegara a esse extremo, ainda, mesmo que por vezes fantasiasse o dia que se veria livre de tudo aquilo. O dia em que a morte finalmente o agraciasse.

Já havia pensando na possibilidade de tornar-se descuidado, de morrer enquanto executava alguma tarefa referente aos seus serviços na máfia. Mas sabia que, até da possibilidade de tirar a própria vida, ele havia sido privado. Eles pegariam Alexander, talvez a sua menininha Charlie, ou mesmo acabariam com toda a sua família em um banho de sangue, por pura e incompreensível vingança. E isso Matthew jamais permitiria. Ele não conseguiria dar cabo a própria vida sabendo das consequências que aquilo traria para as pessoas que amava.

Suspirou ruidosamente percebendo que sua mente o afastara do trabalho, e voltou os olhos verde-esmeralda para as folhas da contabilidade. Mal conseguiu se concentrar de novo, e foi interrompido pelo som do celular. Olhou o visor e deixou seus ombros caírem, cansado daquilo também. Há uns três meses ele havia posto um de seus homens para vigiar as casas de Annabelle Ferraro, tanto o esconderijo que ela dividira com seu filho, tanto o duplex bem localizado que ela possuía com Giovanna Vetra.

Mas, desde o dia em que Matthew entregou o envelope e viu seu filho saindo do apartamento que compartilhara com a mafiosa, Annabelle não voltou a nenhum dos dois lugares. Ela permaneceu na mansão Ferraro em North End, um bairro italiano de Boston e Matthew revirava os olhos sempre que pensava no quanto aquilo era piegas até mesmo para Giancarlo Ferraro.

O Whitehill viu a chamada ser encerrada e uma nova iniciada. Franziu as grossas sobrancelhas. Reed, o homem que ele deixara a paisana nos imóveis de Annabelle, não costumava ser tão insistente para reportar que "nada de anormal" havia acontecido. Mesmo assim, Matthew quase o ignorou. As notícias eram as mesmas por todo aquele tempo e ele estava seriamente considerando retirar Reed de uma vez por todas daquela espionagem infundada. Mesmo assim, no último chamado ele atendeu o aparelho.

— Whitehill.

Senhor — o homem começou do outro lado, e Matthew notou que a voz dele estava de algum modo diferente — Ela apareceu.

Por um momento o Whitehill pode jurar que todo o seu sistema circulatório parou. Annabelle Ferraro aparecera. Mas... em qual imóvel? Se fosse no apartamento de origem duvidosa ela estaria agora mesmo encarando as páginas de diário e o ultrassom que ele a enviara. A premissa fez Matthew sorrir levemente, seria hoje o começo da queda de Giancarlo Ferraro?

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