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A vida realmente é algo extremamente engraçado. Num momento, você está andando pelos corredores do lugar onde trabalha, repentinamente consciente de como você é infeliz, de que algo falta em sua vida; e então conhece o amor de sua vida, e ele muda cada pedaço possível em você. E então, você descobre que está condenada porque ousou amá-lo demais. E então você morre.

Ou pelo menos era assim que o destino gostaria que tivesse sido para nós dois, mas eu não desisti, e aqui estou eu, em mais uma reviravolta dessa vida inacreditável. O que eu sabia da vida enquanto vivi 28 anos sem ele? Sem saber o que eu carreguei inconscientemente dentro de mim por tanto tempo? Como o destino acreditou que mais uma vez, eu e ele estaríamos perdidos?

E que neste ponto de nossa história, eu estaria morta?

Mas o que deve acontecer com ele agora, enquanto eu observo a janela lacrada do hospital em que estive há alguns dias, fugindo de mais um de seus truques? Eu não morri no acidente. Eu não morri ao ser mais uma vez tirada da segurança por um louco. Eu não morri quando me vi morrendo em outra vida.

Estou mais viva do que jamais estive. Sinto todas elas – todas nós – dentro de mim, e isso é aterrador. Eu sou um pouco de todas elas, e juntas, elas me completam. Eu sou o amor, eu sou a raiva, e sou a dor.

Só não me permiti ser a morte.

Escuto a porta se abrindo mais uma vez, e decido ignorar a nova enfermeira que entra em meu quarto, perguntando qualquer coisa mundana – estou sentindo dor? Estou com fome? Preciso de alguma coisa?

Eu só acordei há alguns minutos, e várias dessas perguntas interromperam as minhas próprias – o que aconteceu? Onde eu estou? Onde está Gustavo?

— Querida, tem uma pessoa aqui querendo ver você... o médico recomendou que você ficasse em repouso, sem visitas... pelo menos até a polícia chegar, mas ele foi tão insistente... — a voz cansada da enfermeira chama minha atenção dessa vez, então viro minha cabeça lentamente para ela, e meu coração dá o último sinal de que venci – não... de que nós vencemos.

Gustavo está parado na porta, mais pálido do que o normal, o rosto mais cansado do que jamais vi. Seus olhos azuis são frios, como sempre, mas eu consigo perceber como eles mudam quando encontram os meus. Sempre foi assim.

Não tenho forças para responder com palavras, então apenas aceno que sim, e aguardo ansiosa enquanto o observo se aproximar de mim.

Meu Deus, obrigada por ter permitido que eu o ame sem ter medo de morrer.

Ele também não parece sentir necessidade de dizer nada, pegando minha mão com delicadeza – não consigo deixar de notar como a sua treme.

Em seu rosto eu posso ver – sempre pude ver, por isso decidi lutar por ele, por nós. Posso ver que ele me ama tanto quanto eu o amo. É um sentimento que toma conta de cada célula do meu corpo, transbordando pela minha pele, que em contato com a dele, parece estar em seu estado perfeito. É ele... sempre foi, e sempre vai ser.

— Gustavo... — minha voz está rouca, fraca, mas não me importo, eu preciso ouvir seu nome. Preciso dizer seu nome. Nós vencemos. Eu salvei uma vida, e garanti que as nossas também fossem salvas.

Eu venci o nosso destino horrível.

— Melinda... meu Deus é tão bom te ver acordada... você não faz ideia de como foi desesperador, sem saber se você ia voltar — sua voz, que normalmente é forte e confiante, parece a de um menino assustado, e eu dou um sorriso enquanto aperto mais a sua mão.

— Já ouviu falar que vaso ruim não quebra?

Ele dá uma risada, e percebo que ele relaxa, se sentando ao meu lado na maca do hospital.

A Chance do TempoWhere stories live. Discover now