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— Eu não aguento isso... ficar sentado aqui não ajuda, sabia? Temos que fazer alguma coisa realmente útil... — André está sentado no sofá de Gustavo, olhando para a sacada, da mesma forma que Melinda fazia, quando estava com a cabeça cheia.

— Eu sei, cara... mas o que a gente pode fazer? Ainda não temos ideia de onde eles possam estar... precisamos que Miguel e Rodrigo descubram alguma coisa. O nome da avó dele já ajudaria muito... meu pai pode nos ajudar a conseguir informações. Ele tem muitos contatos, amigos... na polícia federal, mesmo em outro estado, ele pode nos ajudar. Você só precisa ficar calmo.

Ele diz isso para tentar se acalmar também – para que suas palavras façam algum sentido. Ele está muito ansioso, e fica andando de um lado para o outro no apartamento, checando seu WhatsApp e o rastreio do celular dela o tempo inteiro. Eles têm muito pouco para continuar procurando.

— Larissa está vindo pra cá. Ela é a amiga mais próxima de Melinda... ela conheceu o maldito, talvez possa ajudar — André continua olhando para o horizonte escuro, revirando o próprio celular na mão.

Gustavo bebeu quase meia garrafa do Whisky de Bento, mas o álcool não parece fazer qualquer efeito em seu corpo tenso. Ele pega uma nova garrafa, um presente que Mariana deu há alguns meses, e serve dois copos. Suas mãos tremem, mas ele tenta mostrar a André que está sob controle. Ele entrega um dos copos a André e se senta no sofá, em silêncio. O telefone de André toca ocasionalmente – os pais dele estão preocupados também. Eles não sabem a extensão do problema, André decidiu que isso deixaria sua mãe fora de si.

Não demora muito para que a amiga de Melinda chegue, e Gustavo libera sua segunda vaga para ela. Talvez ela realmente possa ajudar, tendo tido contato com Fernando – coisa que ele e André não.

— Oi... Você deve ser o Gustavo, né? — a amiga de Melinda é baixa, cabelo curto castanho e olhos afiados. Ela usa um uniforme azul de uma faculdade, e está vermelha de nervoso. Gustavo a faz entrar, oferecendo a bebida para ela também.

O trio responsável por procurar por Melinda está formado – o cunhado, a melhor amiga, e o homem que a ama incondicionalmente. Gustavo reza para que seja o suficiente.

É tudo o que eles possuem no momento.

— Eu não acredito que esse imbecil fez isso... de novo. Eu não consigo acreditar na audácia dele. Como que ele sabia que ela estaria lá? Como ele conseguiu?

Ela bebe um gole de seu copo, fazendo uma careta, indo se sentar ao lado de André. As perguntas dela são muito coerentes, e a única coisa que Gustavo consegue imaginar é que ele deve saber onde André mora. Deve ter seguido os dois, esperado por ela. Mas como ele poderia saber que ela estava na saída de trás do prédio, e não na da frente? Ele estaria se escondendo na rua e ela ter saído por lá foi uma coincidência?

— Também não conseguimos acreditar... eu me sinto tão culpado... era minha responsabilidade cuidar dela. Eu estava lá, esperando, eu nem imaginava que tinha outra saída... eu deveria ter visto o carro dele... deveria — André começa a chorar, desamparado. Larissa coloca a mão nas costas dele, sussurrando palavras de conforto. Não é culpa dele.

É culpa do maldito destino ao qual os dois estão fadados.

Vó Neide também acreditou que as mudanças eram significativas, entre as vidas anteriores e esta. E agora Gustavo sabe o que será diferente: ela não vai morrer por causa dele dessa vez. Vai morrer por algo completamente alheio. Relacionado à loucura de outro homem.

Seu interfone toca, tirando-o de seus pensamentos. Ele não faz ideia do que pode ser, e seu coração se aperta um pouco. Gustavo corre para o interfone, ouvindo a voz sonolenta do porteiro, anunciando seu visitante. Ele mal consegue acreditar no que ouve, e pede que libere a entrada.

A Chance do TempoWhere stories live. Discover now