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O sol fraco de inverno entra pelas janelas do carro, esquentando ainda mais meu corpo, que já está tão quente quanto uma explosão.

Estamos indo em direção à Fazenda, e Gustavo está dirigindo o carro de sua irmã: Luíza não se sente disposta, já que está com uma ressaca brava. Nós a encontramos roncando no sofá. Observei em silêncio enquanto Gustavo a levava no colo até seu quarto, voltando lentamente depois, os olhos vermelhos.

Não dissemos nada depois do episódio na rua, e ficamos assim por tanto tempo, que achei que ele fosse mudar de ideia. Eu também o amava, mas ainda estava ferida pelo o que eu vi, e não seria sua declaração que me faria amolecer.

Mas admito que saber que ele me ama mexeu comigo de uma maneira tão íntima, que não quero mais ficar longe dele. Só não sabia lidar com sua amiga.

Ele não quebrou o silêncio, apenas me oferecendo a mão para irmos ao quarto. Dormimos na mesma cama, cada um virado para um lado, e acordamos hoje de manhã abraçados, sua cabeça em meu peito. Beijei seus cachos e absorvi tudo que pude do seu ser. Ele me amava, e eu também o amava.

Deveria ser perfeito, não? É esse tipo de coisa que queremos tanto que aconteça, que quando finalmente acontece, ficamos sem ação.

O abracei com força, puxando sua boca para a minha, e ele acordou também, me abraçando no momento em que percebeu o que eu queria. Aquele beijo foi diferente, foi mais intenso, mais perfeito. Eu estava dizendo que o amava também.

E desde esse momento, não dissemos mais nenhuma palavra um ao outro.

A cidade vai ficando cada vez mais para trás, enquanto que alguns pastos verdes e lagos minúsculos se mostram imponentes para nós. Eu absorvo tudo o que posso, a tranquilidade que me dá.

— Melinda, espero que goste de comer. Tenho certeza que a Vó Neide vai ter tanta coisa boa para gente comer, que meu estômago tá até meio dividido. Espero que ela não perceba que eu to de ressaca... — ela solta um grunhido de dor, e eu seguro uma risada.

Luíza é tão nova e inexperiente que eu sinto dó dela. Quantas vezes eu já não tive a mesma ressaca, sem saber os meus limites. O bom da idade, é que com ela vem o conhecimento próprio, a noção do que se pode ou não fazer.

Apesar de ter ficado bêbada ontem, até mais do que ela, estou ótima hoje.

— Eu adoro comer, Luíza... achei que tivesse percebido isso ontem, quando acabei com o seu risoto — aperto de leve seu ombro, demonstrando meu apoio.

— Luíza, a mãe vai brigar tanto com você... — Gustavo está fazendo aquele papel de irmão chato, e eu reprimo uma risada enquanto ela bate em seu ombro, resmungando que nem uma criança porque sua cabeça está doendo.

Viramos em uma estrada bem asfaltada, ladeada dos dois lados pelo o que eu imagino que seja milho. Andamos por muito tempo até que o milho acaba, e um grande pasto verde começa, sem cercas nem nada, e ao longe eu consigo avistar algumas figuras brancas ao longe, e eu imagino que sejam as cabeças de gado. Estou impressionada com a imensidão do lugar, mas tento disfarçar, fazendo força em manter a boca fechada. Nunca vi algo do tipo. Nada na minha cidade natal é parecido com isso.

No fim da estrada, consigo distinguir um portal de madeira, com algumas trepadeiras o envolvendo por causa do tempo. Em cima, há uma placa escrita "Fazenda Webber".

O pequeno ataque de pânico volta, e eu sinto minhas mãos suando novamente. As limpo no casaco, não querendo causar qualquer tipo de desconforto quando for cumprimentar os pais deles.

— Seja bem-vinda à Fazenda, Melinda! — Luíza parece esquecer um pouco seu sofrimento e pula do carro ao mesmo tempo em que Gustavo puxa o freio de mão. Ela sai correndo em direção a uma mansão gigantesca que fica no topo de uma colina.

A Chance do TempoWhere stories live. Discover now