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Gustavo está assustado com a fúria de Melinda, mas ele não esperava menos. Ele se arrepende de não ter contado para ela antes. Quando começou esse trabalho, queria se provar para seus chefes, mostrar que ele era indispensável aos interesses dos acionistas, mas depois que conseguiu a aprovação, assinou o memorando e ganhou a promoção que tanto queria, ele se sentiu vazio e um traidor.

Ele está tentando ligar no celular de Melinda, quer explicar o que aconteceu, acalmá-la, mas ela não atende. Ela não deveria estar na empresa, um lugar tão exposto, e seu coração se aperta.

Melinda está furiosa com ele, e Gustavo teme que isto a faça desistir dos dois. Seria muito mais fácil para ela nunca mais querer vê-lo, e salvá-lo ao mesmo tempo. Mas ele ainda não tinha desistido. Ele nunca desistiria dela.

As chaves do carro estão nas suas mãos, quando seu celular toca. Ele atende rapidamente, sem olhar ao identificador, pensando que pode ser ela.

Fala Guga! Tudo beleza, cara? Como você tá? Seu arrombado, quando vai vir pra gente tomar uma breja?

A voz de Alberto do outro lado da linha faz Gustavo quere socar alguma coisa. Os acontecimentos recentes o deixaram mais receoso com Alberto – a cena dele atirando na cigana ainda era forte na sua cabeça. Tudo ligado ao destino dos dois deveria ser analisado com cuidado, e o fato de Alberto estar de volta na vida deles preocupa Gustavo.

Tá escutando? Sua namoradinha passou no escritório agora há pouco... você tem que olhar pra cara da Mariana, ela tá puta porque sua namorada deu um soco nela — ele está prestes a desligar, mas Alberto conseguiu sua atenção.

— O que? Você tá louco, Alberto? — Gustavo não consegue imaginar Melinda dando um soco na cara de ninguém... mas o jeito como ela estava no telefone... — Onde você tá? To indo aí.

Ele precisa falar com Melinda... não pode deixar as coisas como estão. Ele imagina como ela deve estar se sentindo... ele é promovido às custas do emprego dela. Foi o seu memorando que o tirou...

Aeee, agora vi vantagem! Tamo no Zé, seu arrombado, cola aí — as gírias de Alberto são demais para Gustavo, que sem responder, desliga o telefone e sai do apartamento.

Não deve fazer muito tempo que Melinda saiu de lá, ele acabou de falar com ela... e ele não vai conseguir ficar bem até se explicar.

A ida ao trabalho normalmente leva 15 minutos, mas Gustavo conseguiu fazê-la em 7, furando alguns faróis e pegando atalhos para fugir do trânsito de fim de dia – ele gastaria o salário inteiro de um mês para poder pagar todas as multas que estava acumulando nos últimos dias.

Ele deixa o carro no estacionamento de sempre, e anda apressado para o bar, onde estão Alberto, Tomás e Mariana. Pelos gestos, ela parece estar bem irritada, sua voz fina chegando até onde ele está, há duas casas de distância.

— Aquela vaca! O enfermeiro disse que não quebrou, mas vou ficar com essa cara horrível por semanas! Vou matar aquela gorda... — os outros riem com ela – ou da cara dela – mas param quando veem Gustavo se aproximando.

Mariana se vira para ele, o rosto vermelho de raiva, e ele para, assustado com seu rosto machucado. O nariz dela está com um curativo e seus olhos estão roxos, como se ela tivesse apanhado feio.

Então é verdade, e Melinda realmente deu um soco em Mariana.

— Seu idiota! A sua coisinha de estimação fez isso com a minha cara! — Mariana se adianta para ele, colocando as mãos nos quadris, esperando que ele fale alguma coisa.

Mas no fundo, ele só quer rir.

— Ah... desculpa, Mariana, não entendi o que você quis dizer, tenta falar pela boca, e não pelo seu nariz quebrado — ele desvia dela e se dirige até Alberto, que ri e bebe sua cerveja, como se estivesse em um maldito festival de comédia.

A Chance do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora