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As ruas de São Paulo ganharam recentemente um novo horário de pico oficial durante dos dias de semana, e eles estão presos no meio do transito da Zona Sul.

Gustavo está muito ciente da mão de Melinda na sua, se amaldiçoando por se sentir tão fraco e honesto perto dela. Talvez seja a maneira sincera com que ela mesma se porta com ele, fazendo-o sentir a necessidade de retribuir o que ela lhe oferece.

Mas ele não quer se expor tanto.

O caso de anos que teve com Mariana já deveria tê-lo ensinado que quando ele se empolga com alguma mulher, deixa de fazer as coisas racionalmente. Ele vai até as últimas consequências para tê-la. 

Com Mariana tinha sido assim, mesmo que um pouco diferente.

A beleza dela, seus cabelos loiros naturais que fazem todos enlouquecerem para tocar num fio, seus olhos verdes displicentes de alguém que sabe o efeito que causa nas pessoas – o desejo dos homens e a inveja das mulheres.

E qual é a justiça dessa situação? Mariana desperta nas pessoas a necessidade de proteção. As pessoas pensam que ela precisa de uma figura masculina para amar e proteger, a mulher ideal para levar aos pais e dizer que encontrou a mulher correta.

Quando olham para Melinda, a única coisa que sentem é vontade de leva-la para a cama, se perder naquelas curvas perfeitas e nunca a apresentar à família. Afinal, alguém como ela não deve ser uma namorada.

Gustavo sente nojo dos próprios pensamentos. Quem em sã consciência pensaria em algo do tipo? Qual direito ele e todos os homens do mundo tem de categorizar mulheres dessa maneira?

Mas ele sabe que não se sente assim – ou espera que seja diferente de homens ridículos assim. Claro que ele tem desejo por ela – seria um idiota se não sentisse atração por Melinda – mas não é tolo ao imaginar que tudo o que está fazendo por ela seja apenas para transar.

Pegar em sua mão é o ato mais íntimo que ele já teve com alguém. Já transou com muitas mulheres, mas nunca sentiu o desejo de partilhar esta intimidade com ninguém. Talvez tenha sentido algo parecido com Mariana, mas desistiu quando viu que com ela não passaria de sexo e presentes caros.

Ele não gosta de pensar em todo o dinheiro que já gastou em presentes para ela.

─ Não que eu ache que você está me raptando ou algo do tipo... mas pode me dizer onde estamos indo? ─ a voz doce de Melinda faz com que ele esqueça imediatamente de Mariana e todas as besteiras que está pensando.

─ Estou te levando em um dos meus restaurantes favoritos. Fica na Chácara Santo Antônio... tenho a sensação de que você vai gostar de lá ─ ele na verdade espera que ela goste. É o lugar mais calmo que conhece, e espera que ela aproveite a aura do restaurante para pensar em outra coisa além de seus pais.

E ele também precisa de calma.

Gustavo continua dirigindo sem falar uma palavra, sentindo o toque leve e quente dela em sua mão. Espera de coração que ele não faça com ela como havia feito com todas as outras. Não quer despedaçar seu coração.

Ela não merece algo do tipo.

Eles chegam ao restaurante pequeno, localizado numa rua residencial. Gustavo sai rapidamente e entrega a chave para o manobrista, sem ficar realmente surpreso quando Melinda já está ao seu lado. Indica o caminho pela pequena loja de artigos naturais que há na entrada, absorvendo todas as reações que passam em seus olhos imensos com satisfação.

Gustavo não pode deixar de notar que o olhar de Melinda pareceu ganhar um pouco mais de brilho agora – nada parecido com o desespero que havia de manhã.

A Chance do TempoWhere stories live. Discover now