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Gustavo está descendo as escadas atrás de Juliana, se sentindo um pouco vazio por deixar Melinda para trás. Ele teve o mesmo sentimento quando foi ao trabalho mais cedo naquele dia. Mas ele precisava cumprir sua palavra, e Juliana era sua amiga há muitos anos, e agora é o momento de consertar o que poderia ser salvo da relação dos dois.

Ele não esperava que Luíza a levasse ao aeroporto, e teve medo que a presença de Melinda fosse deixar a amiga arisca, mas não viu nada de errado. Melinda parecia um pouco receosa, o que é completamente compreensível, quando se passa por tudo que ela enfrentou em apenas uma semana.

O apartamento de Juliana é no prédio ao lado do de Luíza, e ele quase conseguiu convencer a amiga a irem num restaurante que eles gostavam, mas Juliana disse que passou a tarde inteira cozinhando para ele, pedindo uma folga do laboratório em que trabalha, e ele não consegue arranjar uma desculpa boa o suficiente para não ficar sozinho com ela no mesmo ambiente.

Ele não se sente confortável, e a falação de Juliana o deixa ainda mais tenso. Ele a conhece há tempo suficiente para entender que sua amiga está irritada, mas tentando disfarçar. Provavelmente a presença de Melinda não a agradou.

— Então, eu disse para ela que não ia combinar. Onde já se viu, colocar uma estante laranja virada para a parede verde? Juro, Gustavo, sua irmã tem um gosto bem duvidoso para decoração — ela está abrindo uma garrafa de Whisky e enchendo um copo para Gustavo, que pega com gratidão. Cada gole que ele dá é uma chance de ficar calado.

Gustavo pode não concordar com a maneira como Luíza decora seu apartamento, mas nunca diria algo do tipo. E ele imaginou que elas fossem amigas o suficiente para Juliana não fazer esses tipos de comentários. Gustavo nunca foi um irmão protetor, mas a convivência com Melinda o fez ficar um pouco parecido com Miguel e Rodrigo.

— Ela é um pouco... excêntrica, talvez. Mas tudo o que tem na casa dela é uma maneira de se expressar. Você deveria entender, ela que fez o seu apartamento, não foi? — Gustavo aponta para a parede de tijolos aparentes que Luíza montou e planejou com muito cuidado para a amiga, que nunca pagou um centavo para a consultoria de design de interiores.

Juliana franze o nariz, mas dá um sorriso para Gustavo, enquanto coloca o rosbife no forno. Ele retribui o sorriso, enquanto se senta no banco próximo à janela, observando a sua cidade natal com saudade. Ele gosta muito de São Paulo, mas Novo Hamburgo é sua cidade do coração. Tudo de bom que ele guarda veio deste lugar, e mesmo que se sinta inseguro em afirmar, Juliana faz parte da maioria desses momentos.

Ele a observa cozinhando, finalizando os detalhes de seu banquete, os cabelos presos agora por um xale, deixando-a ainda mais bonita. Ela sempre foi a mulher mais linda que ele conheceu – nem mesmo Mariana era tão perfeita como Juliana. Bem... foi assim até que conheceu Melinda, que mesmo sendo mais baixa, não tão magra quanto ela, conseguiu ser a mulher mais impressionante que Gustavo já viu.

Seus cabelos negros, a pele morena em contraste com os olhos esverdeados, o sorriso raro, mas deslumbrante...

— Quando você vai me contar quem é a garota que trouxe de São Paulo? — a voz de Juliana interrompe a imagem de Melinda em sua mente, de quando ela tirou a roupa na sua frente. Ele nunca sentiu um desejo tão forte por alguém como naquele momento.

Ele hesita, sabendo exatamente porque ela faz essa pergunta. Ele só estava esperando o momento em que ela a faria.

— É uma amiga de São Paulo. Seus pais sofreram um acidente de carro, e os irmãos estão no Canadá, então eu me ofereci para trazê-la até aqui, fazer com que pense em outras coisas. Por favor, não a trate mal. A vida dela já está bem difícil. Não precisamos fazer ficar ainda pior, não é mesmo, Juliana? — ele lança a ela um olhar significativo, esperando por sua reação.

A Chance do TempoWhere stories live. Discover now