Capítulo 13: Antes da tempestade

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Eu não devia ter ficado tão feliz. Sabe, existe um motivo para as três regras, do mesmo jeito que existe sol antes de um chuvão. Eu devia ter percebido. Mas estava ocupada em andar pela escola de bom humor, terminar o trabalho de biologia com dois dias de antecedência (milagre!) e ir tomar sorvete com a Adriana depois da aula.

Mas eu devia saber, devia me lembrar que nada nessa vida vem de graça e que uma música do Coldplay pode parecer feliz e tranquila, mas no fundo é triste se você prestar atenção o suficiente.

Não se apaixone. Só não faça isso. Por quê?

Bem, quando eu tinha treze anos fiquei a fim de um garoto chamado João. Ele era filho de um amigo do meu pai e eu ficava horas imaginando como seria o momento em que nos encontraríamos numa reunião na minha casa ou na casa dos pais dele. Até que um dia, sentados numa varanda, a gente se beijou.

E sabe o que aconteceu?

Nada.

Isso mesmo. Nenhuma estrela se formou ou borboletas voaram. Foi um beijo sem graça. Sem movimentos em câmera lenta, só um monte de saliva.

O problema com se apaixonar não é o amor. É a expectativa. É acreditar numa coisa que nunca vai existir e se decepcionar porque a vida é tão sem graça.

É, eu devia ter lembrado dessa regra, mas como disse, passei os dias seguintes sendo uma figurante num clip feliz da Taylor Swift. Mas a vida, essa danada, já estava preparando um clima ao som de Radiohead.


- Essa cantina não tem comida de verdade – reclamou Priscila, chegando até nós com um enrolado de queijo e presunto escorrendo gordura.

- Nossa, desse jeito você vai passar mal – advertiu Adriana, que prevenida como era, tinha trazido lanche de casa. Sanduíche natural. Invejinha.

- É só tomar uma Coca depois que desentope tudo, galeres.

Eu levantei os olhos sem acreditar: era o Théo. Ele se sentou ao lado da Priscila, que, como sempre, fez cara de nojinho. Mas ele nem ligou e começou a comer seu pão de queijo como se fosse um domingo de sol no parque.

Adriana arqueou as sobrancelhas num estilo Emma Watson, me encarando, mas não disse nada.

- Aquela prova de física tava zicada – continuou ele, tirando o celular do bolso e começando a digitar alguma coisa numa velocidade impressionante – juro por Merlin. Se um trem a 40km/h está vindo em direção a um outro trem a 20km/h a hora que eles se chocarem é a hora do acidente. #fail

Théo olhou para mim, quase esperando que eu completasse seu comentário, como a gente costumava fazer tantas vezes. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Priscila saltou na frente:

- É por essas e outras que nunca sou convidada para festas na casa da Izabelle.

- Argh – reclamou Théo revirando os olhos. – A festa da Izabelle é só no fim do mês, criatura.

- Pois saiba que ela fez um esquenta no domingo e que um monte de gente foi.

- Ah, isso – remendou Théo voltando para o pão de queijo. – Foi só um reunião besta. A Raquel foi, mas eu não tava a fim.

Raquel.

O nome pairou no ar como uma folha de papel. Se eu não estivesse de bom humor, talvez teria explodido com um comentário ferino, mas não disse nada porque até então acreditava que a vida escolar podia ser boa e divertida.

- Você não foi convidado, claro – rebatou Priscila com cara de mais nojo ainda. Eu só não sabia se era pelo salgado engordurado ou pelo Théo. Talvez os dois. – Pelo menos sua namoradinha teve o juízo de ir. Sorte dela, porque sair com você é queimar qualquer reputação.

Nada mais que o normalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora