Capítulo 9: De dentro pra fora

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Depois de um fim de semana ilhada no meu quarto com suprimentos de chocolate e séries, os dias se arrastaram na escola. Me senti naquela parte do filme em que o protagonista é renegado; ninguém acredita em sua versão da história, ninguém fala com ele, tudo se passa em câmera lenta com closes.

Lá estava eu andando pelos corredores do colégio sem as pessoas que faziam parte da minha rotina. Adriana ainda estava em Ouro Branco e doía olhar para sua carteira vazia ao lado da minha. Priscila mudou de atitude: de me olhar com desprezo passou a me ignorar completamente. Era como se eu fosse invisível. E ainda tinha Théo.

Théo.

Me cumprimentando friamente na sala, andando de um lado para o outro com a Raqueloide, comendo Cheetos na cantina. Pelo amor de Deus, ele nem acreditava em salgadinhos industrializados!

Eu era oficialmente uma pária na hierarquia escolar. E pra piorar, tinha sido aprovada para monitora de matemática. Claro, o que pode te fazer mais loser do que ser uma solitária e monitora de matemática?

Minha mãe tinha ficado super orgulhosa com minha aprovação na monitoria e não adiantava eu dizer que era uma coisa idiota com os alunos do ensino fundamental: ela ainda queria sair para comemorar. Coisa de mãe.

- É uma coisa ótima, Luísa! – ela falou empolgada quando cheguei em casa com a notícia. – Temos que comemorar sim! Uma mulher da coordenação me ligou e disse que com isso você ganha uma bolsa de estudos também.

- É, acho que podemos descontar da mensalidade – eu disse, meio tímida.

- Não, nada disso! – minha mãe falou sorrindo – esse dinheiro é seu e você deve usar para fazer o que quiser. Você não vive dizendo que precisa de um computador novo?

- Acho que sim – falei, sem graça. Era tão mais fácil ficar brava com as pessoas o tempo todo e esquecer que elas eram legais.

- Então, junte dinheiro alguns meses e você vai poder ter um novinho antes do Natal!

Ela continuou falando, mas eu não conseguia prestar atenção em nada. Era minha mãe que estava ali. Cara animada, voz enérgica, tudo junto. E naquele momento eu a amei por isso.

- Acho que vai ser ótimo – concordei sorrindo, sem ao menos saber o que era. Estava só feliz por tê-la ali.

- Você pode chamar um amigo pra ir junto. Que tal o Théo?

- Ah, não sei – eu disse ficando um pouco tensa – Théo e eu não estamos nos melhores termos, eu acho.

- Oh – fez minha mãe, tentando esconder a surpresa – Aconteceu alguma coisa?

- Não – eu comecei, sem saber ao certo o que dizer. – É só que ele está com essa menina agora e a gente não tem se visto e...

- Ele está namorando?

- Não sei se é namoro, mãe.

- Tudo bem – disse ela com um ar um tanto quanto misterioso. – Você pode convidar outra pessoa então. Depois me diga quem você quer levar. Vai ser um dia ótimo no clube!

Ela saiu toda feliz da sala.

Clube? Como assim um dia no clube? Eu odiava tomar sol!

*

Durante a monitoria de matemática eu gastava a maior parte das minhas energias evitando Rafael. A sala de matemática era grande e os pirralhos do ensino fundamental com certeza faziam muito barulho, mas era difícil não olhar para ele.

Nada mais que o normalWhere stories live. Discover now