Capítulo 5: Escola é para os fracos

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 É fato, confesso. Fiquei a noite inteira pensando naquela maldita notificação de Twitter. Pra quê essas porcarias têm notificações, inclusive? Por que diabos eu habilito essas notificações no meu celular? A ignorância é uma bênção, é sim.

Alerta de sintomas. Não, eu não estava pensando no Rafael daquele jeito. Eu não me apaixonava. Simples assim. E com certeza não ia ficar perdendo meu tempo por conta de um cara que entra em banheiros femininos, usa All Star com terno, sai correndo do nada e sorri o tempo todo. Quem ele pensa que é? David Tennant?

Nota mental: não fazer associações com David Tennant que não ajuda em nada. N-A-D-A.

Acordei naquela manhã de segunda-feira determinada a deixar essa porcaria toda pra lá. Penteei o cabelo com mais força do que deveria (doeu!), vesti a camisa horrorosa do uniforme do colégio e passei um lápis preto no olho. Sim, universo, é só isso que tem pra hoje.

Todos os dias meu pai me levava pra escola de carro. Ele trabalhava mais ou menos perto, então me dava carona e na volta eu voltava de ônibus ou com a mãe da Priscila, quando ela oferecia carona.

A escola não era longe da minha casa. Na verdade, era aquele perto-longe. De carro, você gasta cinco minutos, de ônibus, gasta 23, porque o ônibus dá muita volta, e a pé gasta 30. Mais uma daquelas coisas chatinhas da vida que você reclama no Twitter.

Twitter. Droga!

Eu sempre chegava um pouco mais cedo e ficava sentada na escada de pedra em frente ao prédio. Aproveitava esse tempo pra ler ou pra jogar alguma coisa no celular, pra pensar num post para o blog, ou simplesmente pra apreciar a incrível arte de não ter nada pra fazer.

Naquele dia específico eu estava jogando no celular. Era Tetris, o jogo mais estúpido do mundo. É, nunca fui do tipo que joga Candy Crush ou esses jogos elaborados para smartphones. Meu negócio eram os clássicos.

Tetris é um jogo subestimado. Não é tão simples encaixar aquela porcaria toda antes que o jogo adquira uma velocidade assustadora. Quer falar de adrenalina? Então me fale do nível 10 de Tetris. E sim, sou daquelas pessoas que xinga o jogo. Racionalidade zero.

Théo sempre chegava na escola atrasado e Adriana era absurdamente pontual, então na maioria das vezes minha companhia era Priscila. Porque sou dessas que dá azar.

Priscila e eu tínhamos aquela amizade difícil de explicar. Não tínhamos muita coisa em comum. Ela era um tipo meio riquinha que gostava de usar brincos do tamanho de um aro de bicicleta e eu gostava de assistir séries no Netflix. Na maioria das vezes a gente se irritava. Mas alguma força do universo nos fazia ficar juntas na mesma turma.

- E aí, Luísa, beleza?

- Peraí. Deixa eu só passar dessa fase.

Eu nem precisava olhar pra cara da Priscila para saber que ela estava fazendo a expressão que-é-que-você-pensa-que-está-fazendo-sua-doida-esquisita.

- Fez o dever de matemática? – porque Priscila é do tipo que ignora as pessoas.

- Fiz – respondi ainda sem tirar os olhos do celular. Preciso de um quadradinho completo, preciso de um quadradinho completo...

- Eu achei super difícil. E você?

- Ah, tava normal.

Droga, barra vertical. Agora eu preciso do L...

- Isso porque você é super boa em matemática – falou Priscila, de um modo inusitadamente gentil. Uma manipulação descarada pra eu me oferecer pra estudar com ela.

Nada mais que o normalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora