Capítulo 12: Dia de sol

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Era um daqueles clubes com nomes indígenas, dezenas de toboáguas e um sinal de 3G que não é nem de longe suficiente pra sobreviver.

Muito sol, água e amor. Crianças correndo, adolescentes flertando, tiozões bebendo cerveja perto da piscina e monitores super bronzeados e felizes cantando.

#Socorro

Todo mundo ali em volta sorrindo sem saber que por dentro uma garota de quinze anos estava vivendo a hora do pesadelo. Sim, eu já tinha ido ao clube com meus amigos várias vezes. Adriana e eu costumávamos sumir pra um canto longe dos pirralhos e ficar lendo. Eu e Théo corríamos pro restaurante pra jogar ping pong enquanto tentávamos hackear o Wi-Fi. Mas lá estava eu, blusa da C&A e tudo, prestes a passar um dia ensolarado com Rafael Scarpelli.

Sério, como foi que minha vida chegou aqui? Porque eu perdi. Que nem quando você dá uma pescadinha num episódio de Game of Thrones e quando acorda já morreram três personagens que você nem conhecia.

Eu estava tentando parecer calma, tava até tentando sorrir e parecia injusto que Rafael estivesse tão tranquilo de calção verde, chinela Havaianas e camisa branca. Em qualquer outro ser humano seria desleixo, mas em alguém como Rafael parecia um look casual de revista Capricho. Como ele conseguia ser tão calmo com tudo?

- Dá uma volta com o Rafael, Luísa. Mostra o clube – falou minha mãe quando paramos perto de um quiosque a poucos metros da piscina. – Mas não fiquem vagando por aí muito tempo que eu fico preocupada.

- Ah, Bárbara, deixa os meninos. Gente, se demorarem muito, manda uma mensagem, sinal de fumaça.

Minha mãe revirou os olhos enquanto colocava a bolsa na mesa. Meu pai, pra variar, já estava se enchendo de protetor solar.

- Okay, nós vamos indo então – eu disse, meio devagar, meio idiota, enquanto tirava meu celular da bolsa da minha mãe.

- Se ver alguma coisa estranha, avisa um monitor, hein?

Eu deixei minha mãe falando sozinha e peguei uma vielazinha que levava para perto das quadras.

- Esse lugar é bem legal – comentou Rafael – o clube que minha mãe leva a gente é em BH mesmo e não tem tanto espaço.

- É um jeito de iludir as pessoas a pagarem muito para ficarem torrando no sol – eu respondi, vasculhando a tela do celular em busca de uma barrinha de sinal.

- Ainda assim é bem legal – continuou Rafael. – Ei, o que você tá fazendo grudada nesse celular?

- É o único jeito de sobreviver aqui.

Rafael riu daquele jeito agitado que só ele.

- Além do mais – eu continuei – Temos que arrumar sinal porque meus pais surtam quando eu não atendo o telefone. Seu celular tá dando sinal?

- Eu não trouxe celular.

- O quê?

Apocalipse final. Mutantes. Guerra nuclear. Como assim ele não trouxe o celular?

- A gente veio pra um clube, ué. Piscina, quadra, tem tanta coisa pra fazer que não precisa de celular.

- Em que universo você vive? – eu perguntei parando de andar e encarando a cara de graça do Rafael.

- Nesse?

- Não vou nem comentar – pisquei várias vezes de nervoso. – E se você precisar de tirar uma foto, postar alguma coisa, gravar alguma coisa, mandar uma mensagem, ligar pra alguém?

Nada mais que o normalOù les histoires vivent. Découvrez maintenant